Depoimento de Emanuel Pessoa a Ana Pinho
“Quando decidi ir para Harvard, aos 27 anos, simplesmente senti que era hora de aplicar. Estava em um momento de ascenção da carreira, tanto como advogado quanto como professor na Universidade Federal do Ceará (UFC) e, na verdade, precisei parar essa subida. Mas estudar na melhor universidade do mundo era um sonho de criança, então, posso dizer que havia muito de emocional na escolha.
Quando eu voltei, o mercado me abriu campos que eu nem imaginava que existiam: em um ano lá estava eu, indo para uma cidade do litoral do Ceará ser advogado de um sindicato e, no outro, debatendo sobre com alguns dos melhores especialistas dos EUA
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Imagine que você é o filho da Dona Conceição lá do Maranguape, um pé-rapado a vida toda, que começou a aprender inglês no calçadão da Avenida Beira-Mar estudando sozinho, que só tinha começado a ganhar alguma coisa praticamente no ano que ia para fora e não tinha como arcar com os custos de seus estudos. Daí veio a Fundação Estudar, da qual fui bolsista, e me ajudou a realizar esse sonho.
Em Harvard, onde obtive meu LL.M. entre 2011 e 2012, meu senso crítico com a qualidade do meu trabalho se intensificou e as possibilidades profissionais da minha área foram alargadas. Hoje vejo meu trabalho com outras lentes: a de quem viu como pessoas do mundo inteiro se posicionam em relação ao Direito e absorveu um pouco de suas experiências.
Não temos, infelizmente – e espero que isso mude –, um ambiente acadêmico de integração internacional tão vasta como as universidades americanas oferecem. Para mim, por exemplo, foi uma experiência ainda maior, pois acabei sendo eleitor representante dos mestrandos e integrando o Student Government da Law School.
Houve também diversos outros ganhos. Por exemplo: eu tinha um amigo norte-americano, marido de uma colega chinesa de LL.M., e ambos queriam que eu ganhasse o posto de speaker da turma. Pedi então que ele me desse aulas de pronúncia, pois a minha ainda era muito ruim. Ficávamos uma hora lá, eu lendo e ele corrigindo meus erros. Infelizmente não levei o posto, mas aprendi muito.
Ao chegar em Fortaleza, a percepção do mercado foi inexistente. Havia até reações de ceticismo sobre eu ter voltado para cá. Era como se as pessoas não dessem fé pelo fato de eu não ter migrado para São Paulo de imediato. Em São Paulo, porém, a percepção sempre muito boa, abrindo portas e me permitindo conhecer novas áreas de trabalho.
Um dos meus sonhos é me tornar uma referência nacional na advocacia. Consegui me tornar referência local, mas quero ir além e expandir minhas áreas de atuação. Quando eu voltei, o mercado me abriu campos que eu nem imaginava que existiam: em um ano lá estava eu, indo para uma cidade do litoral do Ceará ser advogado de um sindicato de servidores e, no outro, debatendo sobre fusões e aquisições com alguns dos melhores especialistas dos EUA. Essa foi uma grande guinada.
Como sempre tive como um dos objetivos voltar mais qualificado para a minha terra natal e trabalhar nela, foi uma satisfação voltar. Quero melhorar o ambiente em que eu cresci.
Conheci em Harvard um a pessoa que disse que não devia nada ao Brasil. Mas será que ele teria ido para Harvard com as dificuldades ainda maiores que muitos outros países, por exemplo, oferecem? Então digo: vá, aproveite a experiência, qualifique-se e, se quiser, trabalhe um tempo fora, mas volte. Precisamos de você! Ah, e nunca se deixe abater pelas dificuldades, principalmente, financeiras. Você vai encontrar um caminho!”
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