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O fim dos MBAs? Grandes escolas de negócios estão revendo seus programas

MBA negócios

Por Rafael Carvalho, do Na Prática

“A era de ouro da educação em negócios durou dos anos 1950 até 2000, quando era praticamente necessário ter um MBA se você quisesse acelerar sua carreira”, disse o atual reitor da Escola de Negócios de Harvard, Nitin Nohria, em entrevista ao Wall Street Journal. Para ele, essa noção de exigência de um MBA (Master of Business Administration, um tipo de pós-graduação em negócios) mudou. “Mesmo a McKinsey tem pessoas com Ph.D.s ou outros cursos de especialização, e as pessoas treinam umas as outras. Em um banco de investimentos, eles dirão que é possível você permanecer na empresa e se tornar um diretor, sem a necessidade de um MBA”, ele completa, fazendo referência aos ambientes de trabalho conhecidos pela educação de ponta de seus funcionários.

Há cinco anos, já sob a liderança acadêmica de Nitin, a escola reformulou o seu tradicional curso de MBA, buscando dar mais experiência prática e internacional aos seus alunos

Nascido na Índia, Nitin é o primeiro reitor de Harvard vindo do continente asiático, e tem entre seus desafios lidar com o aumento do número das escolas de negócios em sua região de origem. Embora estudantes asiáticos ainda representem grande parte dos candidatos para o MBA na tradicional escola americana, muitos destes (inclusive empreendedores destacados) têm optado por permanecer em seus países e realizar especializações por lá, aproveitando as oportunidades de networking locais e os custos mais baixos.

Há cinco anos, já sob a liderança acadêmica de Nitin, a escola reformulou o seu tradicional curso de MBA, buscando dar mais experiência prática e internacional aos seus alunos e oferecendo a maior parte do programa fora da sala de aula. A medida, ao que tudo indica, é uma maneira de atualizar agendas e recuperar parte desse prestígio.

“O que nós fizemos em Harvard, e diversas outras escolas fizeram também, foi criar um programa de campo. Quando digo campo, eu quero dizer fora da sala de aula. No primeiro ano, que passou por mudanças recentes, temos três módulos. Primeiro, desenvolvemos a liderança. Para isso, colocamos os estudantes em grupos, para que eles trabalhem juntos em projetos e problemas reais”, explicou o economista David Garvin, Ph.D. em economia pelo MIT, em entrevista para Folha de São Paulo. Ele é um dos professores de Harvard que apoiou mais fortemente a mudança de currículo.

“Obviamente você pode virar um líder sem fazer o MBA, mas para isso é preciso muita reflexão sobre o trabalho e muito treinamento. Para mim, parece que o MBA é ainda mais importante hoje porque expõe o aluno a novas coisas”, ele pondera.

Repensando o MBA Em 2008, ano em que a Escola de Negócios de Harvard completava seu centenário, Garvin começou a trabalhar junto com outros pesquisadores em um estudo abrangente sobre a situação da educação executiva no mundo e, mais especificamente, nas tradicionais escolas norte-americanas. O livro foi publicado dois anos mais tarde, com o título Rethinking the MBA: Business Education at a Crossroads (Repensando o MBA: a educação de negócios em uma encruzilhada, ainda sem tradução no Brasil).

“As pesquisas que fizemos para o livro foram repetidas na Europa, na América Latina, na Ásia, na África. E as conclusões são praticamente as mesmas: há dificuldades para formar habilidades de liderança, de pensamento global e de criatividade”, comenta Garvin.

Entre os pontos levantados na obra, e que levaram ao atual cenário de incerteza, merecem destaque o crescimento dos programas de treinamento in-house nas grandes consultorias e empresas do mercado financeiro, que tradicionalmente recrutavam grande parte dos egressos de MBAs, e a percepção de que esses cursos não acompanharam as demandas do mundo globalizado – falta dar aos estudantes uma consciência cultural elevada e perspectivas globais mais refinadas. “Cada vez mais empresas estão espalhadas por cinco ou até dez países. E cada um deles tem diferentes culturas, práticas e formas de gerenciamento. Então, o primeiro desafio para os líderes é como comandar uma empresa com presença global e como acomodar essas diferenças culturais”, complementa o pesquisador.

Durante as pesquisas para o livro, estourou a crise econômica mundial de 2009, que ficou conhecida como crise da dívida pública da Zona Euro, e que ecoa em vários sentidos as mesmas preocupações levantadas com a crise dos subprimes, de 2007-2008. O evento trouxe uma nova discussão sobre o comportamento de diversos executivos de alto nível, muitos deles egressos dos MBAs mencionados. O livro toca nesse assunto em diversos momentos.

Responsabilidade e ética No mesmo ano em que foi publicado o livro, o diretor Charles Ferguson lançou o seu premiado documentário Trabalho Interno, também sobre as crises financeiras. Ferguson conversou com diversos reitores e diretores de escolas de negócios nos Estados Unidos, mas chama mais atenção a entrevista com Glenn Hubbard, atual reitor da Escola de Negócios de Columbia – nitidamente desconfortável com o tópico abordado.

Ferguson alega que acadêmicos nas mais tradicionais escolas de negócios frequentemente também realizam consultoria para diversas grandes empresas, nem sempre de forma pública, criando um conflito de interesses que compromete o ensino. O raciocínio do cineasta pode ser resumido desta forma: sem saber quem financia os economistas nessas escolas, não é possível confiar em suas pesquisas e recomendações.

Em artigo de 2013 publicado na Forbes, o colunista Shawn O’Connor questiona: “Será que o currículo das business schools preparam seus alunos de MBA para enfrentar as questões éticas relacionadas com as práticas de negócio que culminaram na crise econômica?”.

Em Rethinking the MBA, os pesquisadores são mais tímidos nas associações entre os cursos de negócio e a situação econômica mundial, mas assumem que é possível implementar melhorias. “Como já era esperado, nas entrevistas que conduzimos depois da crise, tanto executivos como reitores listaram os tópicos de risco e gerenciamento de risco como brechas dos MBAs”(p.102), lê-se. “A recente crise também sugere uma brecha relacionada a compreensão dos estudantes quanto a natureza público-privada das economias capitalistas, e o papel da regulamentação e das instituições na formação dos mercados no qual as empresas operam”(p.103).

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