Um levantamento feito pela Elsevier, editora de artigos científicos, revelou que, em vinte anos, a participação feminina na produção científica no Brasil cresceu 11%. O estudo “Gender in the Global Research Landscape” comparou 12 países ao todo – como Estados Unidos, Japão e Reino Unido – usando critérios como número de artigos em publicações científicas e citações de pesquisadoras mulheres.
A pesquisa repercutiu em veículos de todo o mundo, como a revista Forbes (que publicou uma matéria com o título: Novo Estudo Surpreendente: Brasil é Líder Global em Igualdade de Gênero nas Ciências). No caso da publicação americana, o que chamou a atenção foi a incongruência entre os resultados e o quadro de discriminação por gênero no Brasil. Como apontou a Forbes, “as notícias sobre mulheres no Brasil tendem a ter cunho negativo”, se referindo ao número de feminicídios e ocorrências de violência de gênero no país.
Como a Elsevier constatou, entretanto, há o que comemorar quando o assunto é ciência. Dos artigos publicados no período analisado, que vai de 1996 a 2015, em média 40% dos autores eram do gênero feminino. No caso brasileiro, o número alcançou a casa dos 49%, beirando a paridade de gênero. Em termos brutos, só entre 2011 e 2015, isso equivale a 153.967 artigos contabilizados no Brasil.
Nos caso dos inventos elaborados por cientistas brasileiros, o índice de mulheres também surpreendeu. Entre 1996 e 2015, a taxa subiu de 11% para 17%. Atualmente, o número supera o resultado de países como o Reino Unido e mesmo da União Europeia como um todo, que chegaram ao marco de 12% de inventoras.
Outro lado da moeda
Agora, quando os artigos acadêmicos envolviam pesquisadores de outros países, a participação das mulheres ficava em desvantagem – 20%, em comparação aos 25% dos homens. No caso do Brasil, em comparação a gigantes da pesquisa como Estados Unidos e Reino Unido, essa taxa de colaboração internacional, ainda que por meio de textos científicos, é mais baixa.
A diferença com marca de gênero continua também em termos de mobilidade internacional das pesquisadoras – ou seja, quando saíam do país com o objetivo de desenvolver trabalhos sobre seu campo de estudo. No Brasil, as mulheres chegam a 32% do total de estudiosos que o fazem.
Como aponta o estudo, há uma possível relação entre os dois índices: se há menos colaboração nos artigos, há ainda menos networking com pessoas no exterior e instituições estrangeiras. No fim das contas, isso reduz a possibilidade de mobilidade internacional.
De modo geral, englobando os 12 países analisados pela pesquisa, o trabalho de mulheres cientistas tende a ser menos citado que o dos homens. A ala feminina sai em desvantagem também em produção acadêmica – ou seja, publica menos artigos científicos sobre os projetos que desenvolve.
Ainda existem, como apontam dados do governo brasileiro, obstáculos para que as pesquisadoras consigam bons postos de trabalho, remuneração compatível e oportunidades no meio acadêmico.
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