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Sem fronteiras: Ensino Intercultural

caneta desenhando mundo

Por Lucas Hackradt, especialista em Aprendizagem Intercultural 

Na minha última coluna, falei um pouco sobre o que é Aprendizagem Intercultural. Apenas para recapitular, esse conceito, essencial para qualquer pessoa que se propõe a estudar no exterior, é característica inerente ao homem moderno. Em um mundo cada dia mais interconectado, em que mais e mais se usa a palavra “globalização” como sinônimo de “vila global”, munir as pessoas das chamadas Competências Interculturais é também armá-las com as habilidades necessárias para se viver no mundo moderno – mundo em que as fronteiras se confundem e em que países inteiros, como o Brasil, são capazes de abrigar uma miscelânea cultural.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), sempre preocupada com as questões interculturais e com a forma como elas impactam a educação no mundo todo, redigiu um documento no ano de 2009 chamado “UNESCO World Report Investing in Cultural Diversity and Intercultural Dialogue”. Nesse texto, a organização afirma: “[competências interculturais] são uma nova forma de alfabetização, alinhadas com a importância de saber ler e escrever ou de saber calcular; a instrução cultural tornou-se fundamental no mundo de hoje, um recurso para aproveitar as múltiplas plataformas educativas […] e uma ferramenta indispensável para transcender o choque de ignorâncias. Podem ser vistas como parte de um kit de visões do mundo, atitudes e competências que os jovens adquirem para usar em sua jornada de vida”.

Fica claro que a importância de se adquirir tais competências é a mesma de se aprender a ler, escrever e a calcular. É a mesma de se estudar em Harvard, Yale ou Princeton; de ter um diploma das melhores universidades do planeta. No mundo de hoje, passar pelo processo de Aprendizagem Intercultural é fundamental. Não se fala mais somente em níveis de alfabetização das pessoas, mas também em seus níveis de competência intercultural; em como essas pessoas conseguem libertar-se de seus próprios costumes, línguas, de sua própria lógica cultural, para se colocar no lugar do outro e compreendê-lo melhor, trabalhando juntos por um mundo mais equilibrado. Saber ler e escrever, para quem vive em um mundo absolutamente interconectado, acaba não sendo suficiente; é preciso saber ler e escrever também nas entrelinhas. É preciso ser culturalmente alfabetizado.

Os diálogos entre as pessoas estão cada vez mais difíceis. Ao mesmo tempo em que caminhamos para um mundo mais conectado, nosso “bairrismo”, o sentimento de pertencimento a um único grupo, também cresce. Em Moçambique, país do sul africano, há um ditado popular que exprime bem o sentimento que se percebe hoje: “estamos juntos, mas não estamos misturados”.

A palavra Diálogo, à qual me referi diversas vezes aqui, vem do grego diálogos (dia, que quer dizer através, e logos, que neste sentido tem o significado de palavra ou conhecimento). Em suma, diálogo é a troca de conhecimento, é a expressão de algo através da palavra. Para haver diálogo e parceria entre as pessoas, é necessário que elas estejam dispostas a se entender, deixando para trás seus próprios valores. E mestres, professores, mentores nunca foram tão necessários às pessoas quanto no momento de hoje; seu papel fundamental na formação de pessoas abertas ao diálogo contribui para um mundo mais justo e pacífico. Portanto, a dica é: grudem nos professores mais abertos ao diálogo, naqueles que queiram compartilhar um pouco da realidade deles com você, e encare todo o processo pelo qual vai passar (ou está passando) como um processo de aprendizado contínuo, que só vai terminar depois que já estiver de volta ao Brasil.

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Lucas Hackradt – Colunista sobre a aprendizagem em experiências de intercâmbio

Sou formado em Comunicação Social, mas trabalho na área de educação intercultural desde 2007, quando me tornei voluntário do AFS Intercultura Brasil. Trabalhei na Globo, GloboNews e na Editora Globo como repórter da Revista ÉPOCA, e desde março deste ano integro o quadro de funcionários do AFS no Brasil como Especialista em Aprendizagem Intercultural, ligado à área de Desenvolvimento Organizacional da ONG. Já passei por diversos treinamentos e capacitações na área de educação intercultural, gerenciamento de conflitos culturais e estudos de comunicação intercultural. Já morei em quatro países, o mais recente dos quais Moçambique, na África, aonde desenvolvi projetos de desenvolvimento social sempre atrelados à questão da Interculturalidade. Me guio por uma frase simples: no mundo, nada é pior, nada é melhor, tudo é simplesmente diferente. E ser diferente é legal!

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