Quando Ana Paula Manzalli escolhia a carreira para a qual se candidataria no vestibular, tinha duas opções em mente. “Eu já falava que era jornalismo ou farmácia”, brinca a paulista. Na hora agá, optou pelo curso de jornalismo da Universidade de São Paulo. Durante a graduação, entretanto, suspeitava de que aquela não fosse bem a sua praia, mas “não sabia para onde mudar”. Hoje, Ana Paula dedica-se a implementar tecnologias nas escolas, para melhorar a educação pública e facilitar o ensino de matérias como a matemática.
Primeiros passos no jornalismo
Mas essa mudança de carreira não veio de um dia para o outro. Durante a graduação, Ana Paula gostava da parte prática do curso, que possibilitava aos alunos produzir o Jornal do Campus e participar de uma agência de notícias. “Eu gostava do curso porque era muita mão na massa”, resume ela.
“Era o que eu estava procurando. Ter um propósito maior, ajudar mais gente, ter uma função mais social no meu trabalho”
Quando se formou, conseguiu um emprego na área de checagem, na Revista VEJA. Fazia parte da rotina, então, verificar a grafia correta dos nomes de entrevistados e personagens, checar fatos históricos citados e fatos econômicos listados nas matérias. Como ela explica, era um trabalho de “controle de qualidade e edição”, em que não tinha tanto contato com as fontes entrevistadas para os textos e personagens.
A pista para a mudança de carreira chegou através de uma sessão de orientação vocacional, em que a educação apareceu como sugestão de área. Como ela não havia pensado nisso antes? “Era o que eu estava procurando. Ter um propósito maior, ajudar mais gente, ter uma função mais social no meu trabalho”, explica Ana Paula.
Como melhorar a educação pública
Ana Paula deixou de lado a carreira em jornalismo quando conseguiu uma oportunidade na Fundação Lemann. Na época, o desafio era levar as atividades da Khan Academy, maior site de ensino de matemática do mundo, às escolas públicas brasileiras. A fundação queria, além de traduzir o material para o português, garantir que os professores tivessem como incorporar a tecnologia no dia a dia.
A jornalista paulista passou a integrar um time variado de profissionais, que incluía pedagogos e professores de matemática, e a trabalhar diretamente com as instituições de ensino em prospecção e acompanhamento das atividades. Em outras palavras, conhecer de perto o trabalho das escolas, oferecer formação especial aos professores e verificar o avanço do projeto junto a coordenadores pedagógicos. “Era gente querendo fazer acontecer, ensinar melhor a matemática usando a ferramenta”, conta Ana Paula.
O contato com as instituições e também com o trabalho das secretarias mudou de vez a carreira de Ana Paula. Era a vez de conhecer a fundo e pensar alternativas para melhorar a educação pública. “Todo mundo quer ajudar, mas nem todo mundo conhece a educação pública”, opina ela.
O momento certo de estudar fora
Logo depois de mudar de área, Ana Paula percebeu que precisaria investir em formação acadêmica. Chegou a participar de uma sessão informativa com a Universidade Columbia, mas julgou que não tivesse “bagagem suficiente”. Mantendo as oportunidades no exterior no radar, ela optou por uma pós-graduação em educação. “Eu queria pegar um pouco dos aspectos pedagógicos em que eu não tinha formação ainda”, conta.
Foi só em 2017 que Ana Paula fez as malas para a universidade americana, para o mestrado em “Desenvolvimento Educacional Internacional”, com foco em planejamento e políticas internacionais no Teachers College. Por trás da decisão de embarcar para Columbia, estava a vontade de entender melhor o sistema de ensino no Brasil e aprender sobre as abordagens no exterior.
“Não se ‘copia e cola’ uma prática em educação. Não é porque um programa funcionou na Finlândia que vai funcionar no Brasil também”
Na sala de aula em Columbia, os assuntos giram em torno das estatísticas sobre educação no mundo, a forma de interpretar os indicadores e os estudos de caso em países variados. Mais do que entender a teoria sobre educação, o mestrado em educação debruça-se sobre como as políticas públicas acontecem na prática. “Não se ‘copia e cola’ uma prática em educação. Não é porque um programa funcionou na Finlândia que vai funcionar no Brasil também”, resume Ana Paula.
Ela também considera que a experiência no exterior vai ajudá-la a mensurar e aperfeiçoar o impacto dos projetos que conduz na área. Depois de fundar a Sincroniza Educação, Ana Paula foca iniciativas de implementação de tecnologia em escolas públicas e privadas. Atualmente, são mais de dez projetos em execução, desenvolvidos em mais de 1100 escolas brasileiras.