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Brasileira conta como é fazer mestrado em ficção científica

A paulista Cláudia Fusco fez mestrado em ficção científica

A paulista Cláudia Fusco já era apaixonada por literatura fantástica quando cogitou ir para o exterior estudar o assunto. Na época, trabalhava como repórter e questionava a própria decisão de ter se formado jornalista. Foi quando pesquisou sobre as opções de mestrado em ficção científica e fantasia em países como Estados Unidos e o Reino Unido. “Queria me especializar nesses temas e voltar com bagagem suficiente para dar aulas e palestras sobre isso aqui no Brasil”, conta a brasileira.

Enquanto procurava por cursos no exterior, ela conheceu o trabalho do professor Bill Gray, da Universidade de Sussex, que comandava um grupo de pesquisa sobre fantasia, contos de fada e lendas. “Ele é consultor de contos de fada em Hollywood, uma autoridade no assunto”, comenta Cláudia. Ainda que Sussex parecesse uma boa pedida, não oferecia um mestrado no assunto – apenas doutorado. Por sugestão do professor, ela recorreu a outra instituição britânica: a Universidade de Liverpool.

Dessa vez, procurou o professor Andy Sawyer, interessada no mestrado em ficção científica da instituição. “Na primeira troca de emails, já percebi uma gentileza inacreditável no professor, que viria a ser meu orientador”, detalha Cláudia. A conversa dos dois e a pesquisa sobre a universidade permitiram que a brasileira decidisse, por fim, embarcar para o Reino Unido.

“Percebi que a Universidade de Liverpool era um lugar realmente especial, não apenas pelo curso”, destaca ela. “Mas pela gentileza e bom humor inacreditáveis dos ‘liverpoodlians‘ e por toda riqueza cultural da cidade e dos arredores”.

Como é, na prática, o mestrado em ficção científica 

Assim como qualquer curso de pós-graduação do tipo, o mestrado em ficção científica da universidade exige que os alunos sejam aprovados no processo de candidatura. A application que Cláudia teve de enviar incluía teste de proficiência em inglês, como o IELTS, e detalhes sobre a sua motivação em estudar na instituição britânica. Também precisou enviar textos de sua autoria sobre sci-fi para o professor. “Fui a primeira mulher latino-americana a participar do curso, o que acho que contou pontos”, diz a brasileira.

Uma vez em Liverpool, foi a vez de Cláudia aprender sobre teorias literárias e sobre obras consagradas da literatura fantástica – em sua maioria, a de origem anglófona. Nas palavras da jovem, fazer o mestrado exigia que os alunos se debruçassem “sobre obras muito amadas com uma perspectiva completamente diferente da do leitor comum”.

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O currículo do curso dividia-se em quatro módulos: história da ficção científica, ficção científica e filosofia, utopias e distopias e um módulo dedicado à obra da escritora americana Ursula Le Guin. Para dar conta do conteúdo, os estudantes tinham de ler de três a quatro livros por semana, além de textos-base para as aulas. “Nunca tinha visto meus livros favoritos sob uma perspectiva tão rica e detalhista”, comenta.

Não era necessário, a princípio, ter formação em Letras ou contato prévio com teoria literária. Com um diploma em jornalismo, Cláudia conta que conseguiu acompanhar as aulas. Para quem não passou pela área de Humanidades na graduação, um reforço na hora de ler os textos avançados de teoria literária ajuda. “É preciso estar disposto para quebrar a cabeça e pensar de verdade sobre o que leu”.

Vida em Liverpool e volta ao Brasil

Os pontos positivos da experiência em Liverpool foram além da formação em sci-fi, para Cláudia Fusco. “Também conheci pessoas fantásticas e tive a possibilidade de viajar pela região, aprender muito sobre a cultura britânica e mergulhar em uma rotina completamente nova”, conta ela.

Uma das lembranças que a brasileira destaca tem a ver com o Halloween levado “muito a sério” pelos estudantes de Liverpool. Durante o ano de mestrado, ela se juntou aos colegas para explorar um navio “mal-assombrado”, munida de equipamentos especiais para medir pressão e mudanças na temperatura. Depois de duas horas de exploração, nada de manifestações sobrenaturais. Enquanto isso, outros grupos de exploração relatavam arrepios e histórias assustadoras. “Nessa hora, minha colega deixou escapar, parecendo frustrada de verdade: ‘caramba, somos o grupo menos mágico de todos!'”, conta Cláudia. “Voltamos pra casa rindo muito e esse virou um dia para guardar na memória”.

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Graças ao mestrado em ficção científica, a brasileira voltou ao país com bagagem suficiente para colocar os planos em prática: passar adiante os conhecimentos em literatura fantástica. “Sem dúvida foi a decisão mais importante da minha carreira e da minha vida pessoal até hoje”, resume ela. Atualmente, ela ministra cursos em espaços como o Museu de Imagem e Som, a Casa do Saber e a Universidade de São Paulo. Entre os temas, estão obras de Tolkien, cursos de curta duração sobre Star Wars e formação sobre Harry Potter.

Indicações para quem quer ler sci-fi e fantasia

Com uma carga de leitura tão pesada, Cláudia explica que precisou aprender sobre as obras de autores anglófonos, mas também autores franceses, brasileiros e indianos. Confira as indicações dela sobre obras indispensáveis para quem se interessa pela área:

#1 A fundadora da sci-fi: Mary Shelley

“Ela fundou a ficção científica como conhecemos, ao escrever Frankenstein”.

#2 Outras mulheres da ficção científica

Cláudia recomenda nomes como as americanas Ursula Le Guin, estudada a fundo no mestrado em ficção científica, e Octavia Butler, bem como a canadense Margaret Atwood

#3 Autores clássicos 

“Ray Bradbury, Asimov e Arthur C. Clarke, autores mais clássicos, também são uma boa pedida”, opina a brasileira.

#4 Sci-fi psicológico 

“Philip K. Dick criou muito do que vemos no cinema e nas séries como ficção científica ‘psicológica'”, indica ela.

#5 Literatura fantástica além de Tolkien 

“Vale muito ir além de Tolkien e explorar autores como Diana Wynne Jones, Neil Gaiman, Terry Pratchett e Nnedi Orokafor”.

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