Estudar fora é ter a oportunidade de trazer conhecimentos essenciais para fazer a diferença na sua comunidade. E a trajetória de Caroline Tavares, bolsista da Fundação Estudar, ilustra perfeitamente esse caso.
Caroline nasceu em Acreúna, no interior de Goiás, e sempre quis ser professora. Por isso, quando terminou o ensino médio, entrou na faculdade para estudar Letras. Seu objetivo era ser professora universitária. Mas desde esse momento ela já se preocupava em amplificar o impacto de sua atuação na sociedade.
Por isso, ainda na faculdade, ela fundou uma escola pré-vestibular de baixo custo em um bairro de periferia da cidade de Aparecida de Goiânia. O objetivo era ajudar jovens que não tinham condições de pagar por escolas mais caras a ingressar na universidade e “melhorar a vida”. “Todos nós, quando entramos para a licenciatura, éramos as primeiras pessoas da família a entrar na faculdade”, conta.
Em 2009, Caroline entrou em seu primeiro mestrado, na área de Teoria Literária, produzindo um trabalho sobre o poema longo moderno como releitura do gênero épico. Ao ingressar, vendeu sua parte na escola pré-vestibular que havia fundado. “Mas o meio acadêmico brasileiro não me atraiu muito”, lembra. “Era divertido para mim, eu me sentia inteligente, mas não ajudava a vida de ninguém”, diz Caroline.
Por isso, ela deixou de lado a ideia de seguir carreira acadêmica. “Aquela ideia de fazer doutorado, viver de pesquisa, não era bem meu drive… meu drive era realmente saber que no fim do dia meu trabalho estava fazendo a vida de alguém melhor”.
Atuando no setor público
Com isso em mente, Caroline começou a trabalhar na Secretaria de Educação do Estado de Goiás, cujo governador era, na época, Thiago Peixoto. Começar a atuar de maneira impactante não foi um processo fácil: “No começo eles me tratavam como estagiária, eu ficava atendendo telefone, e falava ‘gente, eu tenho ideias, me deixa participar! Eu tenho experiência com produção de material”, relembra Caroline.
Com o tempo, a oportunidade chegou. Caroline pode participar de um projeto que visava melhorar a nota do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) nas piores escolas do estado. Nesse projeto, ela desenhou um programa de coaching, formação de professores e desenvolvimento de lideranças. E as escolas, em 2012, tiveram um resultado muito melhor no Ideb.
“A diferença entre essas escolas muito ruins, que conseguiam melhorar, e as escolas muito ruins que não conseguiam melhorar era a qualidade do gestor que elas tinham”, conta Caroline. “E foi aí que eu comecei a pensar e estudar como que você desenvolve lideranças, pra que essas lideranças conseguissem fazer o turnover da escola”.
Nesse processo, ela traduziu artigos de pesquisadores do Teacher’s College, da Universidade de Columbia, e conversou com professores da instituição. E em 2012, ela passou a coordenar todas as ações da rede estadual voltadas para a melhoria dos resultados das escolas.
A Secretaria do Estado também recebia consultoria de uma empresa chamada Bain. Foi em conversas com os consultores da empresa que que Caroline conheceu a Fundação Estudar. Das pessoas da Bain com quem ela falava mais, uma foi estudar em Harvard e a outra em Stanford. “Então eu falei ‘ah, se eles podem ir, eu posso também'”.
Saindo do Brasil
O Teacher’s College era o destino desejado por Caroline, por conta do contato que ela já tinha tido com os professores e as produções de lá. “Eu achava que era um lugar que fazia a diferença nas escolas”, lembra. Ela se candidatou então para o programa de Adult Learning And Leadership de lá.
Em 2014, ela foi aceita pela instituição. Mas chegar até lá não foi tão simples assim. “Por causa da greve da Polícia Federal, eu tive dificuldade de conseguir documentação, então eu não consegui pegar o early deadline, eu consegui só o late deadline e perdi a bolsa”
Diante desse obstáculo, Caroline trancou sua matrícula e continuou na Secretaria de Educação por mais um ano, até conseguir a bolsa da Fundação Estudar em 2015. Nesse ano, então, ela foi para a Universidade de Columbia fazer seu segundo mestrado. “Sem bolsa eu não conseguiria ir”, conta.
Foi uma experiência transformadora. “Existe a Carol antes do Teachers College, e existe a Carol depois. As bolsas, claro, alavancaram minha trajetória profissional, mas o Teachers College me transformou como pessoa mesmo”, diz. “Porque, pra você ser um bom líder, você tem que ter essa visão mais humanista das coisas”, complementa.
De seu trabalho lá, Caroline destaca duas disciplinas marcantes. Uma delas se chamava Action Learning, “a ideia de você aprender fazendo durante o processo”. Ou seja: “você vai aprendendendo sobre como os grupos trabalham, trabalhando em grupo; e sobre como resolver problemas, resolvendo-os”, relata.
A outra foi Adult Development for Leadership, uma disciplina sobre “como desenvolver pessoas a partir do momento em que você as coloca como líderes ou mentoras”, nas palavras de Caroline. “Foi sensacional”. Seu trabalho final do mestrado foi sobre desenvolvimento de liderança e gestores escolares, focado no caso brasileiro.
Trazendo os frutos para casa
Em 2015, enquanto ainda realizava seu mestrado em Nova York, Caroline começou a trabalhar para uma startup brasileira de educação chamada Mira Educação. A empresa oferece recursos para ajudar alunos e docentes a gerenciar seu aprendizado, e Caroline atuou “ajudando a construir e, depois, como diretora de produto” da empresa.
Após formar-se na Teacher’s College, ela continuou trabalhando na Startup, agora em São Paulo. Mas conforme a empresa consolidou seu serviço, o trabalho de Caroline como diretora de produto começou a se desviar do foco que ela planejava ter. “O trabalho de diretora de produto [naquele momento] era muito mais de focar na área de tecnologia, validar trabalhos de design, pensar em agile… e não era esse o meu foco”.
Por isso, ela traçou um plano para se desligar da empresa no final de 2017. E em março de 2018, começou a atuar na organização sem fins lucrativos Todos Pela Educação. “Eles estavam desde o ano passado [2017] desenhando projetos para a melhoria de políticas docentes no Brasil, e tinha tudo a ver com o que eu queria fazer”, conta.
Lá, ela participa de um projeto que tem 12 anos de duração. Os dois primeiros anos serão dedicados a traças propostas para melhorar as políticas docentes do Brasil articulando o poder público com outras instituições que trabalham com o tema. E, uma vez desenhadas essas propostas, os próximos dez anos serão voltados para implementá-las. O objetivo é “garantir melhores condições de trabalho, tendo em vista que os professores são o elemento mais importante para melhorar a educação dos alunos”.
Não se trata de algo simples de se realizar, como se pode imaginar. E Carolina ressalta que a democracia é o elemento central para que o projeto possa ser realizado. “Independente de estar mais à esquerda ou à direita, mantendo-se a base democrática, é possível fazer mudanças que sejam relevantes, pouco importando o viés político”, diz.