Você já deve ter ouvido falar na sigla STEM. Trata-se de uma abreviação, em inglês, de “Science, Technology, Engineering and Maths” (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). A sigla é usada para se referir a cursos de graduação e pós-graduação nessas áreas. E para quem pensa em fazer uma pós-graduação no exterior, ou mesmo um MBA, os cursos designados como STEM podem ser particularmente interessantes.
Via de regra, os cursos designados como STEM trazem aos estudantes uma perspectiva mais analítica e científica — mesmo quando não tratam, diretamente, de ciência, matemática ou engenharia. Além disso, para quem pensa em estudar nos Estados Unidos, eles oferecem algumas vantagens “diplomáticas” que podem fazer toda a diferença.
O que são cursos STEM?
De acordo com Anne Ziemniak, reitora assistente e diretora do programa de MBA em tempo integral da USC Marshall School of Business, a designação STEM é uma espécie de título oficial. Ela é concedida a programas de graduação e pós-graduação nos Estados Unidos pelo USCIS (serviço de alfândega e imigração dos Estados Unidos). E os estudantes de programas designados como STEM podem ficar nos Estados Unidos até 24 meses a mais após a conclusão de seus cursos.
Esses 24 meses são chamados de OPT, ou “Optional Practical Training” (treinamento opcional prático). Em geral, quem estuda nos EUA pode ter 12 meses de OPT. Os cursos STEM, no entanto, permitem que os alunos fiquem até 24 meses além desses 12. Ou seja: após concluir o curso, o aluno pode ficar até três anos trabalhando nos EUA. “Isso pode ser atraente para etudantes internacionais que desejem ganhar experiência de trabalho adicional nos Estados Unidos após sua graduação”, considera Anne.
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E, mais recentemente, cursos relacionados a gestão e negócios também vem sendo designados como STEM pelo USCIS incluindo programas de MBA. “Um STEM MBA exige que os alunos foquem em trabalhos técnicos e quantitativos, particularmente em áreas como ciências de dados, finanças e analytics, o que lhes dá habilidades altamente buscadas no mercado de hoje”, diz Anne. A própria Marshall School of Business vai lançar um STEM MBA em Management Science (ciência da gestão) no próximo ano acadêmico, e Anne acredita que programas desse tipo devem se tornar ainda mais comuns nos próximos anos.
Escolha de cursos
Há, no entanto, cursos designados como STEM em diversas áreas. O engenheiro Augusto Tiezzi, por exemplo, fez o Masters in Construction Engineering and Project Management na University of Texas at Austin. Formado em Engenharia Civil, ele trabalhava com projetos estruturais, mas queria fazer a transição para a área de gestão de projetos, e viu na pós-graduação a oportunidade de dar esse salto.
“Eu entrei em alguns sites, pesquisei as melhores universidades dos Estados Unidos, peguei as cinco melhores e escolhi um pouco a cidade. Não queria uma cidade muito pequena”, conta. Para ele, o aspecto de networking e experiência profissional do mestrado eram importantes, e por isso a opção por uma cidade maior.
Adriano Yoshino, por sua vez, fez um M.Sc. (mestrado científico) em Applied Urban Science and Informatics na New York University (NYU). “Minha formação é em engenharia civil, e eu achei que seria legal ir para essa parte mais aplicada, de tornar as cidades melhores para as pessoas”, diz. Atualmente, ele trabalha numa consultoria de ciência de dados em Nova York chamada Fulcrum Analytics, mas pretende voltar ao Brasil no ano que vem para trabalhar no setor público ou em empresas voltadas a urbanismo.
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Há opções até mesmo para pessoas que tenham menos disponibilidade de tempo, ou que não queiram suspender totalmente a vida profissional. Henrique Carretti, por exemplo, está cursando o Master in Supply Chain Management do MIT. Trata-se de um programa semipresencial, no qual o estudante faz cinco cursos online e, ao final, vai ao MIT para um semestre presencial. “Eu percebi que conseguia conciliar isso com a minha trajetória profissional”, conta.
Curiosamente, nem Augusto, nem Adriano, nem Henrique sabiam da possibilidade de estender o OPT por mais 24 meses por causa do curso ser STEM. “Eu pensava primeiro só em estudar mesmo”, conta Augusto. Henrique também não tinha planos de trabalhar nos EUA. “Eu já estou numa empresa muito boa, e meu plano é ficar nela”, conta. Adriano, por sua vez, considera que, se soubesse, isso teria influenciado sua decisão. “É um curso caro, e trabalhar para pagar o curso era uma das minhas metas”, diz.
Application para cursos STEM
A candidatura para os programas de pós-graduação STEM é semelhante à de programas de MBA. É necessário comprovar proficiência em inglês por meio de provas como TOEFL ou IELTS; fazer provas padronizadas como GMAT ou GRE; enviar diploma, histórico escolar e cartas de motivação e de recomendação. “Até falo que é a parte mais difícil do mestrado”, brinca Augusto.
Ele se candidatou a diversos programas e foi aprovado no da University of Texas at Austin, que era também o que ele mais gostou. Um dos pontos que ele considerou mais difícil foi a prova padronizada GRE, por conta da necessidade de conciliar estudo e trabalho. “Tirei férias do trabalho só para estudar”, lembra.
Adriano, por sua vez, candidatou-se apenas à NYU. A assertividade na escolha do curso é um dos fatores que, segundo ele, podem ajudar na application. “Entender o perfil da universidade é importante para você aplicar”, diz. Tanto ele quanto Augusto também recomendam a quem pretende se candidatar que entre em contato com alunos e professores dos cursos pretendidos. Isso ajuda a entender melhor o curso e também demonstra interesse por parte do candidato.
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No caso de Henrique, o fato do programa STEM do MIT ser semipresencial torna o processo um pouco diferente. A nota dos cursos online serve como parte do processo de avaliação para determinar quais alunos farão o semestre presencial no MIT, e acaba substituindo as provas como o GRE ou GMAT. Além dessas notas, o candidato precisa mandar uma proposta de pesquisa já com certo grau de maturidade. “Se você só vai ficar seis meses na instituição, você já precisa chegar com boa parte do trabalho pronto”, diz. Ele foi aprovado, mas mesmo quem não é ganha uma certificação do MIT pelos cursos online que já completou.
Um ponto interessante é que, em alguns casos, a aprovação no programa é válida para mais de um período. Ou seja: se você foi aprovado para estudar a partir de maio de 2020, por exemplo, pode solicitar para começar no ano seguinte. Foi o que Adriano fez. “Eu passei em 2015 na NYU, mas fui estudar só em 2016, porque vi que era caro e não dava pra pagar”. A universidade permitia que ele postergasse o curso por até dois anos. Ao longo de 2015, no entanto, ele conseguiu um financiamento pela Prodigy Finance e, com ele, pode concretizar os planos de estudar fora.
Vale a pena?
Apesar do custo relativamente elevado, os três consideram que seus cursos STEM na pós-graduação são investimentos. “Por mais que seja um curto bem elevado, eu acredito que no longo prazo ele se paga”, considera Henrique. Augusto também ressalta que os custos de tuition podem acabar sendo um fator limitante, mas que oportunidades de financiamento e apoio financeiro são uma boa opção, já que o salto salarial de quem conclui um curso desse tipo acaba compensando.
Afinal, os cursos possibilitam ter acesso a conhecimentos e oportunidades de networking que não seriam possíveis no Brasil. “O Brasil tá numa fase de desenvolvimento da ciência de dados que já passou há muito tempo lá fora”, considera Adriano. Por isso, a chance de estudar lá e adquirir experiência de trabalho permite que os profissionais se qualifiquem mais para aplicar seu conhecimento no Brasil. É o que Adriano pretende fazer em 2020.