A experiência de poder vivenciar os desafios e a cultura de outros países por meio
da pesquisa de campo é enriquecedora, além de gerar competências vitais para o
mercado de trabalho. Um dos principais benefícios que pude usufruir da minha
experiência em fazer um mestrado no exterior, foi participar dos projetos multidisciplinares
que o programa da universidade que escolhi oferece. Além da vivência em locais
culturalmente diferentes do contexto em que estava acostumada, a complexidade das
realidades e a diversidade dos grupos se tornam motores para a busca de soluções
relevantes às comunidades.
Mas o que a vivência de um projeto multidisciplinar em outro país pode fazer pela sua carreira profissional? Muita coisa! E é essa dica que quero compartilhar hoje nesse artigo para você que está escolhendo onde estudar. No final do texto, conto o meu relato em um desses projetos e como foi transformador para a minha carreira.
Sob meu ponto de vista, um projeto multidisciplinar, ou seja, uma matéria que une estudantes de vários cursos diferentes para resolverem juntos um desafio, que pode estar no país da universidade, ou até em outro, é um ponto essencial para ser levado em consideração no momento em que decidir estudar fora do país e estiver escolhendo uma instituição.
É preciso globalizar-se
O motivo? Vivemos em um mundo cada vez mais complexo. A participação dos alunos em projetos multidisciplinares internacionais é propícia para gerar competências importantes que um curso em que o aluno permanece apenas dentro da sala de aula não é capaz de gerar da mesma maneira.
Atualmente nas organizações, exige-se que profissional compreenda como se comportar em um mundo globalizado, sabendo respeitar e lidar com a diversidade e a complexidade dos contextos de forma ágil e precisa. Vejo muito que o mundo corporativo precisa de profissionais prontos a conviver harmoniosamente com a pluralidade, acolhendo as diferenças e utilizando-as como força propulsora para alcançar resultados.
Estes são os elementos que compõem o cenário atual do mercado de trabalho e que as empresas precisam lidar diariamente. Por conseguinte, uma universidade pode ajudar a preparar o aluno para se adequar ao momento.
A vivência que tive em meu mestrado na Holanda me agregou a visão que os projetos multidisciplinares são divisores de águas na vida profissional do aluno que faz uma pós-graduação no exterior. Vou explicar melhor essas competências abaixo:
Principais competências do profissional globalizado:
Diversidade
No mundo corporativo, a diversidade pode ser traduzida como um ponto forte de uma empresa. Times compostos por profissionais vindos dos mais diferentes contextos são extremamente enriquecedores para as empresas que atuam (ou desejam atuar) ao redor do mundo. É sob a ótica destes profissionais que inovações e as melhores soluções surgem ampliando as áreas de atuação das empresas e impactando um maior número de pessoas.
O pensamento e a economia coletivos já são uma realidade em outros países e, por esse motivo, se o seu programa de pós-graduação lhe proporcionar esta experiência, você está em vantagem!
Em projetos multidisciplinares os alunos devem trabalhar com estudantes de diversos cursos. Esses estudantes são divididos em times, contendo geralmente apenas um aluno de cada faculdade. Por exemplo, em um time de cinco alunos, teremos um aluno de Comunicação, um de Engenharia, um de Direito, um de Ciências Sociais e um de Administração. Todos contribuindo com suas próprias experiências de acordo com os seus contextos pessoais. Assim, você já começa a viver desde a universidade a complexidade da diversidade que vai enfrentar no mercado de trabalho. Aqui no Brasil, muitas universidades ainda não fazem projetos assim e os alunos acabam se relacionando apenas com alunos do mesmo curso.
Diminuição de conflitos
O profissional com vivência em projetos multidisciplinares no exterior desenvolve a capacidade de reduzir conflitos e trazer um olhar diferente na resolução de divergências com base na cooperação mútua.
Agilidade e flexibilidade
O aluno que vivencia um projeto multidisciplinar em uma comunidade com poucos recursos desenvolve a capacidade de pensar com agilidade e usar da flexibilidade para potencializar o que tem em mãos para que o resultado seja entregue.
Geralmente os alunos estudam certas comunidades, e esses projetos englobam muitos desafios em um só, como por exemplo a resolução de um problema social na perspectiva do fomento do empreendedorismo local. Dessa forma, os estudantes têm que usar de toda a habilidade das faculdades que representam, para juntos, chegarem em estratégias viáveis de resolução desse projeto, em um curto espaço de tempo, geralmente menos de 1 mês. Já como profissional, a agilidade e a flexibilidade proporcionam meios de usar a criatividade como fonte para a inovação.
Seus aprendizados, seus diferenciais
Mesmo participando do mesmo projeto multidisciplinar, cada aluno tem o seu próprio aprendizado. Isso o torna um profissional único para o mercado de trabalho. A aplicação da prática aliada ao contexto de cada um permite que os participantes tirem proveitos únicos e coloquem seus talentos a serviço de todos de forma diferenciada.
Minha experiência com o projeto multidisciplinar
Em 2018, participei da vivência de um grupo de aproximadamente 40 alunos de cursos diferentes da Buas University, onde estudei na Holanda. O grupo chegou com a professora Dra. Celiane Camargo-Borges a São Paulo. O objetivo era estudar a reserva florestal FLONA Ipanema, em Sorocaba, cidade do interior. O local, que é uma reserva federal, apresenta uma complexidade única e importante: há um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra), um parque com trilhas e guias turísticos, órgãos do governo e até uma usina nuclear. Porém, nesta ocasião, o projeto foi concentrado no assentamento do MST e no parque federal.
As diretrizes do projeto
Foi pedido aos alunos para que criassem um projeto multidisciplinar com o objetivo de tornar essa reserva federal em um destino turístico. Depois de quase 3 semanas conhecendo e vivendo como locais, os times dos alunos desenvolveram projetos para o agroturismo que abrangiam visitas ao acampamento do MST e, naquele contexto, proporcionar experiências sobre alimentação, agricultura familiar, entre outros. Criaram, também, projetos para aprimoramento das trilhas da reserva florestal, facilitando o acesso aos guias turísticos que já frequentam a região.
O resultado foram cinco protótipos de desenvolvimento sustentável para a região que foram apresentados para a comunidade como resultado da pesquisa de campo e cocriação do grupo. Uma coisa linda de se ver!
Ainda como parte do trabalho multidisciplinar desenvolvido, visitamos outras comunidades na Grande São Paulo. Em uma delas, que fica em Perus, passamos a noite em casas de famílias da comunidade, o que nos proporcionou a experiência de acompanhar como e em que condições as famílias vivem seus cotidianos. Os alunos visitaram o centro e a periferia de São Paulo no intuito de identificar e observar os contrastes, e ampliar a busca por soluções que atendessem às necessidades pontuais de cada uma dessas realidades.
Sob este aspecto, a complexidade que o Brasil oferece é rica para o aprendizado dos alunos. As desigualdades se tornam recursos para o desenvolvimento de projetos relevantes. Porém, essa percepção é desenvolvida mais adequadamente quando o aluno está envolvido em um projeto multidisciplinar.
O resultado: possibilidade de desenvolvimento pessoal e profissional
Minha experiência foi extremamente rica e, certamente, foi determinante para o meu desenvolvimento profissional. Pude ver de perto o desenvolvimento dos estudantes também, e como eles lideram com a complexidade e o desafio desse projeto. Com isso, deixo aqui a minha dica para você procurar por universidade que já tenham esses projetos multidisciplinares na grade, para aplicar seus novos conhecimentos em uma vivência que mudará a sua vida e lhe trará diferenciais no mundo corporativo. Escolha bem o seu futuro!
Sobre a autora
Clara Bianchini é mestre em Imagineering pela BUAS Breda University da Holanda e
bacharel em Comunicação Social pela PUC/SP. É co-fundadora da consultoria de
inovação para organizações chamada CO-VIVA. Professora de Inovação da Escola
Superior de Engenharia ESEG e professora convidada em diversas universidades no
Brasil e no mundo. Colunista do portal Consumidor Moderno e Fundação Estudar.
Parceira do coworking WeWork para fomento de dialogo entre os membros e
fortalecimento da rede. Membro da IAF Associação Internacional de Facilitadores
presente em mais de 65 países. Representante oficial da BUAS Breda University no
Brasil.