Para muita gente, estudar fora do Brasil é um sonho um tanto assustador. Como é morar em outro país? Como é ficar ficar afastado da família e dos amigos? Para quem já está trabalhando, há também a questão de passar muito tempo afastado do mercado de trabalho. E na hora de voltar para o Brasil, como fazer para se recolocar no mercado?
Para entender melhor essas questões, conversamos com alguns bolsistas da Fundação Estudar. Eles nos contaram suas motivações para estudar fora, suas experiências no exterior, e os motivos pelos quais voltaram (ou pretendem voltar) ao Brasil. Confira:
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Por que sair do Brasil?
Luana Dias Gomes, que atualmente trabalha como trader do banco JP Morgan em Londres, fez a graduação em economia em Stanford. Foi a flexibilidade do currículo d faculdade estrangeira que a atraiu. “Eu sabia que indo para fora eu teria a liberdade de descobrir o que eu queria estudar conforme eu fosse explorando diferentes interesses”, diz.
Essa flexibilidade também atraiu Emmanuel Longa, atualmente consultor estratégico do Boston Consulting Group (BCG). “O currículo da Poli [Escola Politécnica da USP] era muito flexível até então”. Ele era aluno de graduação na universidade e descobriu que conseguiria fazer um duplo diploma em uma instituição estrangeira. Optou pela Universidade Técnica de Munique (TUM), na Alemanha, “uma país cuja engenharia eu admiro”.
Além disso, ele sentiu que o currículo da TUM permitia que ele adquirisse um conhecimento mais “horizontal”, entre diversas disciplinas. Emmanuel cita também a vontade de ter mais independência como fator determinante de sua escolha de estudar fora. “Eu realmente queria a experiência de morar fora, conhecer novas culturas”, diz.
Chegando lá
E ele conseguiu ter essa experiência de maneira muito “intensa”, conforme conta. “A sensação de quando você chega no aeroporto, olha pros dois lados e só tem você, é um impacto muito forte”, rememora. Essa solidão também é citada por Luana como uma das principais dificuldades da experiência. “Eu estava completamente fora da minha área de conforto e tive que criar uma nova área de conforto me abrindo à outras culturas”, lembra.
Por outro lado, é justamente essa sensação que traz alguns dos principais benefícios de ficar fora do país. “Fiz amigos do mundo inteiro, de culturas e backgrounds completamente diferentes, que eu jamais teria feito se tivesse ficado no Brasil. Isso ajudou à abrir a minha cabeça, e me fez crescer como pessoa”, conta Luana.
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Para ela, sentir na pele a flexibilidade maior oferecida pela universidade estrangeira foi outra experiência positiva. “Você tem a liberdade de fazer aulas que você acha interessante mesmo não tendo aplicação alguma a sua futura vida profissional, ao invés da obrigação de fazer apenas aulas que completarão o seu currículo. Tendo essa liberdade de explorar seus interesses próprios, que vão além do seu major, você adquire um aprendizado enorme”, afirma.
Para Mateus de Oliveira Taveira, que fez pesquisa pós-doutoral em Harvard e atualmente é médico residente e doutorando no A.C. Camargo Cancer Center, o acesso a uma infraestrutura diferenciada foi outra vantagem. “Impactou muito minha pesquisa porque a liberdade e velocidade pra testar várias hipóteses te ajuda a explorar muitos caminhos e ver onde os dados preliminares são mais promissores”, considera.
Voltar para o Brasil (e para o mercado)
Em Harvard, Mateus fez pesquisa translacional em câncer de mama usando camundongos. ” A pesquisa translacional é aquela que está bem na transição entre a pesquisa básica, que é aquela que se interessa em entender o fenômeno em si, e a pesquisa clínica, que é aquela que se interessa em aplicar as descobertas sem seres humanos”, explica.
Agora, no entanto, ele ainda é doutorando aqui no Brasil. Isso se deve a algumas “diferenças em questão de titulação” entre Brasil e EUA. “Lá, eu fazia pós-doutorado porque minha formação como médico me qualifica como ‘doutor’. Aqui no Brasil, esse título só me é dado depois de concluído um PhD. Como ele é essencial aqui no Brasil pra seguir adiante na academia, eu estou agora fazendo meu PhD”, esclarece.
Na hora de voltar para o Brasil, portanto, podem surgir alguns transtornos desse tipo. A trajetória de Emmanuel, no entanto, foi mais direta. Ainda fora do país, ele pode participar de processos seletivos para atuar no Brasil, voltados especificamente para estudantes de duplo diploma. “Eu apliquei para a vaga de lá, e passei lá”, conta. Dessa forma, ele teve uma garantia de trabalho ao voltar para o Brasil.
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Tanto Emmanuel quanto Mateus acabaram mudando de área. Embora tivesse estagiado com desenvolvimento de produto e gestão de inovação, Emmanuel voltou para trabalhar com consultoria — uma mudança que fez sentido para ele. “Também é algo que lida com problemas muito abertos, sem uma resposta muito óbvia, e você precisa fazer análises, então achei que exigia habilidades semelhantes”, conta.
Mateus, por sua vez, agora faz pesquisa em diagnóstico por imagem em oncologia. “Como não tenho experiência clínica nenhuma em Radiologia/Imagem, estou fazendo residência médica em Radiologia junto ao PhD”, comenta. Voltar para o Brasil acaba sendo também uma oportunidade de mudar de área, nesse sentido. Luana, por exemplo, que ainda não voltou ao Brasil, diz que “gostaria de atuar na área de educação, e começar algo nesse setor no curto prazo”.
A experiência de voltar
Ele considera, no entanto, que “fez sentido voltar”. “Mas nada impede que daqui a 2, 5, 10 anos eu entenda que faz sentido ter uma outra experiência fora, dessa vez num estágio diferente da minha vida e carreira”, complementa. Ele considera que trata-se de uma experiência única, e recomenda a quem pensa em estudar fora que “se existe a possibilidade, vá em frente”.
Emmanuel acredita que “foi importantíssimo voltar para o Brasil”, porque “tinha muita vontade de deixar minha contribuição aqui”. “A gente vê tanta coisa boa lá fora e fica pensando ‘por que o nosso país não pode ser tão bom assim também?'”. Retomar contato com os familiares e amigos, acrescenta, também foi um fator importante na sua decisão de retornar.
Ele também recomenda a quem tiver a oportunidade de estudar fora e voltar que aproveite. “É um período da vida em que você vai poder ver coisas diferentes e crescer, o país vai estar aqui te esperando e você vai voltar com outra energia”, diz. Ficar fora, segundo ele, ajudou-o a entender melhor as particularidades do Brasil, “e agora que eu voltei, voltei bem mais brasileiro”.