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Como conseguir uma bolsa para pesquisa no exterior

moça de jaleco azul segurando tubos de ensaio - Doutorado Sanduíche, bolsa para pesquisa no exterior

Para quem deseja seguir carreira acadêmica ou está realizando pesquisa em alguma área, sair do país é uma boa oportunidade. Não apenas isso te dá a oportunidade de ter acesso a recursos e pessoas que não estão disponíveis no Brasil, como também permite que você conheça a cultura de pesquisa de outro lugar. No entanto, para muita gente, a única maneira de fazer isso é conseguindo uma bolsa de pesquisa no exterior.

Isso porque os programas universitários de pesquisa (especialmente mestrados) costumam ter um custo nas universidades estrangeiras. Esse custo, somado ao custo de vida em um país estrangeiro, pode tornar a experiência proibitiva para muitos brasileiros. Ainda mais considerando que o custo de vida nos países onde estão as melhores universidades do mundo (como EUA, Reino Unido, Suíça e Japão) é bem elevado.

Felizmente, há mais oportunidades para se conseguir uma bolsa para pesquisa no exterior do que pode parecer num primeiro momento. E, a seguir, vamos dar algumas dicas para quem deseja ter essa experiência, mas precisa do apoio financeiro. Confira:

Encontre sua turma

De acordo com Andrew Flaus, pesquisador do departamento de bioquímica da National University of Ireland Galway, o primeiro passo para quem quer uma bolsa de pesquisa no exterior é encontrar uma universidade ou departamento alinhado aos seus interesses de pesquisa.

“Dê uma olhada nos sites das universidades que te interessam e veja quais linhas de pesquisa elas têm”, comenta. Encontrar uma instituição com trabalhos na mesma área em que você atua pode ser o primeiro passo para conseguir uma bolsa de estudos.

Uma boa maneira de fazer isso é indo atrás dos autores da bibliografia da sua área. Se você tem autores que admira na sua área de pesquisa, veja onde eles estudam (ou com quem eles estudam). As universidades às quais eles estão associados pode ser um primeiro passo nessa busca.

Jogue no Google

Luiza Teixeira-Costa, pesquisadora de pós-doutorado em botânica no Harvard University Herbaria (HUH), conta que a internet é uma grande aliada na hora de encontrar oportunidades de pesquisa no exterior. Ela própria já descobriu oportunidades no México e na Califórnia só com pesquisas online — além da atual oportunidade de pós-doutorado em Harvard.

Ela pesquisa um grupo de plantas que parasita outras plantas. “A gente reconhece atualmente 12 grupos nos quais plantas paraistas se encaixam, e um desses grupos só ocorre nas florestas da Malásia. E eu não tinha contato com pesquisadores da malásia, ou financiamento durante o doutorado para fazer esse tipo de viagem de campo”, conta.

Mas então, em 2018, ela conta que “um colega veio até Harvard por outro motivo relacionado à pesquisa dele, e por coincidência viu uma coleção dessas plantas aqui. E aí ele que me deu a ideia”. A partir daí, o processo foi “jogar no google o nome do laboratório e abrir todas as abas do site, fuxicar tudo, até descobrir essa oportunidade”, lembra.

Alguém que conhece alguém

Ter contato com outros pesquisadores da sua área, portanto, também é uma dica importante. Da mesma maneira como você pode esbarrar em oportunidades que são ideais para colegas seus, algum outro pesquisador pode ver uma oportunidade de financiamento e se lembrar de você.

Graças ao seu colega (e às suas pesquisas), Luiza conseguiu, em 2018, ficar duas semanas no HUH como parte de seu doutorado. Foi nesse período que ela conheceu seu atual supervisor que, mais tarde, indicou para ela a oportunidade de pós-doutorado oferecida pela universidade.

Contatos internacionais

Normalmente, os supervisores de pesquisas de doutorado ou pós-doutorado tem uma posição importante dentro de seus departamentos. E graças a essa posição, eles têm um conhecimento maior das oportunidades de apoio financeiro que a universidade oferece — além de, em alguns casos, terem eles próprios acesso a recursos que podem ser usados para auxiliar pesquisadores estrangeiros.

Para quem procura uma bolsa de pesquisa no exterior, portanto, ter contato com essas pessoas é muito interessante. Em muitos casos, aliás, é essencial: alguns programas de bolsas exigem uma carta de aceite do futuro supervisor como um dos documentos para candidatura. E mesmo nesses casos, já ter contato com o supervisor ajuda bastante.

Começar essa contato pode ser bem simples. Artigos científicos muitas vezes trazem o contato dos autores e supervisores. Nesse caso, enviar um e-mail demonstrando apreço pelo artigo e interesse na linha de pesquisa é uma boa maneira de criar essa ponte.

Sem forçar a amizade

Isso não significa que você pode sair mandando e-mail para todo mundo que você conhece. Especialmente em áreas de pesquisa menores e mais específicas, o número de pessoas envolvidas em projetos é relativamente pequeno, e o contato entre pesquisadores costuma ser um pouco mais próximo.

Andrew recomenda que estudantes interessados em fazer pesquisa numa universidade “mandem e-mail para um ou dois departamento, mas não para dez, porque todo mundo se conhece e possivelmente vai comentar um com o outro da mensagem que recebeu”. E segundo ele, mandar muitos e-mails pode dar a impressão de que o estudante está desesperado.

Isso é ruim, porque indica que a pessoa não está necessariamente atrás de fazer pesquisa num local alinhado com a sua linha de investigação. Ou, no mínimo, que ela não pesquisou o suficiente para entender se aquele departamento faz sentido para a trajetória acadêmica dela. Por isso, é melhor ser mais “certeiro” na hora de enviar e-mails.

Além das universidades

Antes do pós-doutorado em Harvard, Luiza também conseguiu uma oportunidade de passar três semanas no México durante seu doutorado. E isso não veio da universidade onde ela ficou, mas de uma instituição que ela só descobriu porque mudou o foco do seu doutorado.

“No meio do meu doutorado eu mudei o enfoque da minha pesquisa, e quando eu fiz isso eu pensei ‘bom, tenho que começar a lei outras coisas, outra revistas científicas'”. E enquanto pesquisava por outas fontes, ela acabou encontrando também a ESEB (European Society for Evolutionary Biology, organização europeia que apoia pesquisa na área de evolução).

“Me associei a essa organização, pedi bolsa e ganhei bolsa pra passar 3 meses coletando [material para pesquisa] no México”, conta. Por isso, é importante ficar de olho em editais ou outras ofertas de apoio financeiro para pesquisadores além dos departamentos universitários.

Guardar para depois

A última dica de Luiza também envolve a internet. Mais especificamente, envolve inscrever-se no máximo possível de sites e newsletters que oferecem bolsas de pesquisa no exterior. “Sempre que vem a newsletter eu leio. Não tô procurando bolsa nenhuma agora, nem financiamento, mas vai que é uma coisa que eu posso aproveitar depois”, comenta.

Essa é uma dica que vale compartilhar com colegas e pessoas que fazem pesquisa em áreas próximas à sua. Afinal, é bem possível que você receba algo que não necessariamente te interessa, mas que é ideal para elas. Ou que elas recebam algo ideal para você.

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