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O que fazer com seu animal de estimação se você vai estudar fora?

Cachorro de coleira ao lado de uma mochila

Não tem jeito: se você vai estudar fora, vai precisar se despedir de alguns amigos, mesmo que por um tempo. E para quem tem animais de estimação, essa despedida pode ser bem dolorosa. Isso especialmente no caso de pessoas que moram sozinhas, ou com amigos. Nesses casos, o que fazer com o seu pet quando você vai estudar fora?

Para responder a essa pergunta, é necessário se informar bem. Algumas pessoas levam seus animais de estimação consigo; outras, deixam-nos aos cuidados de amigos ou parentes. Mas em todos os casos, há indicações dos veterinários sobre a melhor maneira de proceder. Confira:

Despedida dolorida

Quando a engenheira química Rosiane Vitor foi fazer seu mestrado em Tecnologia Hídrica na Alemanha, teve que se despedir do seu cãozinho: “uma princesa Lhasa Apso, Meg”, adotada com 3 meses.

Na época, Meg tinha 3 anos e já tinha acompanhado Rosiane em vários momentos difíceis. “Ela é muito carinhosa e foi doloroso dar tchau para ela”, relembra a engenheira. “[cães da raça] Lhasa Apso são conhecidos por serem muito fiéis”, acrescenta.

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Assim como outros amigos que conheceu durante o mestrado, Rosiane deixou seu animal de estimação aos cuidados de sua mãe. “Fui feliz e sortuda por ter minha mãe, pois nunca pensaria em deixá-la”, considera.

Mesmo sabendo da separação difícil que tinha pela frente, ela conta que o pensamento de se separar da Meg não chegou a impactar sua decisão de estudar fora. “Ela seria uma ótima companhia para minha mãe, e eu já tinha decidido que se não voltasse depois de dois anos, iria buscá-la”, conta.

Matando as saudades

Enquanto estava fazendo o mestrado, Rosiane conta que matava as saudades de seu animal companheiro conversando com ela por Skype. “Eu falava ‘Meg, cadê a mamãe?’ e ela ficava me procurando”, lembra.

De fato, após dois anos, Rosiane voltou e se encontrou novamente com a Lhasa Apso. Como seria de se esperar, foi um reencontro emocionante. “Falei a mesma coisa que eu falava para ela por Skype escondida, para ela não me ver. Ela saiu correndo e lógico que eu chorei”, diz.

Se a história faz parecer que a Meg reconhecia a voz e a imagem de sua humana pelo Skype, não é à toa. Segundo a veterinária Daniela Mol Valle, isso acontece mesmo. “Quando você fala com um bicho pela câmera, ele te reconhece e reconhece a sua voz, eles ficam procurando”, comenta.

Como levar um animal de estimação para outro país

Para quem quer levar seu animal de estimação consigo para estudar fora, Daniela conta que o procedimento muda dependendo do país. “Os da Europa costumam ser os mais complicados, porque é muito caro para o tutor [do animal]”, comenta. Entre os procedimentos solicitados estão sorologia de raiva, atestado de saúde, carteira de vacinação e o uso de uma caixinha de transporte específica.

O mais fácil, dentre os que Daniela se lembra de ter auxiliado, foi o procedimento de levar um cão para os EUA. “Só precisou ter a vacina em dia, remédio antipulga, vermífugo e atestado de saúde”, relata. O Governo Federal disponibiliza uma página que lista as exigências de alguns destinos comuns.

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Esses procedimentos são necessários para garantir que o bichinho não traga nenhuma doença para o país onde vai morar. Justamente por isso, as exigências variam de país para país, e é importante verificar junto a entidades como o consulado do país o que é necessário para levar seu animal de estimação para lá.

Via de regra, no entanto, é necessário colocar um microchip de identificação no animal, ter a carteira de vacinação dele, para mostrar que ele está com as vacinas em dia, e um atestado de saúde para provar que ele não tem nenhuma doença. Mas, de novo — é importante verificar os requisitos específicos de cada país.

Como é a viagem para o animal?

Ricardo Regatieri, professor de sociologia da UFBA, passou um ano e meio fazendo pesquisa e lecionando em Seul, na Coreia do Sul. Quando voltou para o Brasil, trouxe consigo uma cadela chamada Jigae (“jiguê”) que ele tinha adotado por lá.

O nome vem de um prato típico da região, um cozido que, segundo Ricardo, antigamente tinha carne de cachorro entre seus ingredientes. “Hoje em dia o pessoal mais jovem tem muito cachorro em casa, as cidades tem muitos pet shops, a maior parte dos coreanos vê com nojo a ideia de comer cachorro. Mas todo mundo tem alguma história”, comenta.

Quando Jigae veio para o Brasil, ela precisou ser microchipada e teve que fazer um certificado de saúde internacional — além de ter uma caixinha de transporte adequada. Esse certificado também pode ser visto em outra página do Governo Federal brasileiro que lista os requisitos para animais de estimação que queiram entrar no país.

Turbulência?

Embora a viagem de avião da Coreia do Sul para o Brasil seja bem longa, Ricardo conta que Jigae não parece ter se importado muito. “A minha percepção é de que [a viagem dela] foi muito boa”, lembra Ricardo. “Ela saiu abanando o rabo. Não vi o que aconteceu lá embaixo [onde ela viajou], mas vendo o jeito que ela entrou e saiu, não parecia ruim”, complementa.

Mas segundo Daniela, cada linha aérea tem suas próprias diretrizes para o transporte de animais de estimação, e nem sempre a experiência é boa. “Tem companhias que permitem que animais de até 7 quilos viagem na cabine; outras não permitem e obrigam que todos eles sejam despachados. Eu nunca permitiria que meu animal viajasse junto com bagagem”, diz.

Embora ela diga já ter ouvido falar de casos de animais que se machucaram durante a viagem, nunca viu casos de animais que tenham tido problemas psicológicos causados pelo transporte. E que cães costumam viajar melhor que gatos. “Até porque ele [o cachorro] já é acostumado. Já o gato não sai de casa. Quando alguém fala que vai viajar com o gato, eu penso se é necessário mesmo”, comenta.

Jigae, felizmente, parece não ter tido problemas. Hoje, ela está com quatro anos de idade e, segundo Ricardo, não teve dificuldade em trocar o clima mais frio de Seul pelo calor de Salvador. E como, segundo Ricardo, as rações caninas são bem padronizadas internacionalmente, a adaptação de alimentação também foi tranquila.

Um cão deitado na areia com o focinho ujo
Coreana, Jigae se adaptou bem ao clima da Bahia

Como deixar meu animal de estimação com alguém se eu for estudar fora?

Mas para viagens mais longas a destinos mais distantes, levar o animal de estimação nem sempre é viável. Nesses casos, os animais também sentem a falta do dono. Daniela acredita que animais que saem menos de casa, cujos donos passam mais tempo em casa, ou que já tenham passado por uma situação de abandono, podem ser mais sensíveis a isso.

Arrumar alguém que possa cuidar dos bichinhos também exige cuidado. A veterinária relembra o caso de uma cliente sua que deixou seus três gatos com seu namorado quando foi fazer um curso de seis meses no exterior. O namorado era alguém que não tinha experiência em cuidar de animais, e não percebeu quando um dos gatos começou a apresentar sintomas de lipidose hepática (acúmulo de gordura no fígado).

Quando ele notou que havia algo de errado, era tarde demais. “Ele não resistiu. E foi muito triste, porque ele era um gato saudável. Acho que o problema foi que não houve uma preparação”, comenta Daniela.

Experiência positiva

Por outro lado, a veterinária também recorda de uma cliente que tinha dois gatos, um dos quais era epilético e tomava remédios todo dia. Quando foi viajar para fora por três meses, essa pessoa planejou tudo com antecedência: contratou uma cuidadora para se encarregar dos animais e separou dinheiro e um cartão de crédito para caso de emergências veterinárias. Deixou a veterinária avisada e apresentou-a à cuidadora.

Além disso, apresentou a cuidadora aos gatos: “em dias aleatórios, ela entra sem ser anunciada, mexe na ração, na caixa de areia, deixa o cheiro naquele ambiente e deixa que aquela pessoa dê a medicação”, explica Daniela. No final, após os três meses, ela voltou e os gatos continuavam felizes. “A palavra-chave é planejamento”, diz Daniela.

Com quem deixar?

Muita gente acaba deixando os animais de estimação com os pais, acreditando que os bichinhos conseguem reconhecer neles o cheiro de seus donos, por causa do laço parental. Mas segundo Daniela, isso não tem nada a ver: para os pets, o cheiro dos pais de seus donos não tem, a princípio, nada de especial.

Na hora de escolher com quem deixar os animais, Daniela afirma que o ideal é que seja alguém com quem eles já estejam acostumados. Alguém que frenquente a casa, portanto — um amigo, parente ou namorado — pode ser indicado, contanto que a pessoa tenha preparo para lidar com o bichinho.

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E, segundo Daniela, o melhor é que os animais fiquem na mesma casa em que já viviam. “Mudança de ambiente não costuma ser benéfica, Ficar longe do tutor já é ruim, e se a gente ainda por cima troca o ambiente, acaba mudando a vida inteira daquele animal”, comenta. Um cenário em que um amigo ou namorado que já tenha familiaridade com o animal possa ficar na sua casa enquanto você viaja, na visão da veterinária, é o ideal.

Cuidado com cuidadores

Para quem pensa em deixar os animais com cuidadores, Daniela alerta que é importante conhecer o serviço da pessoa antes de se ausentar por vários meses. “Cat sitter e dog sitter são trabalhos que viraram bico. A pessoa tá sem trabalho e aí coloca um anúncio dizendo que faz isso, mas sem ter conhecimento ou orientação nenhuma”, comenta.

Além de ser alguém capaz de identificar comportamentos preocupantes ou problemas de saúde nos bichinhos, o cuidador também deve, se possível, ser apresentado a eles de antemão. “Se for gente que o bicho nunca conheceu e com quem ele nunca teve contato, pode ser bom, mas também pode dar muito errado”, avalia. E ao contrário do que muita gente imagina, “o gato é muito mais sensível ao tutor do que o cachorro”, diz Daniela.

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