Fazer um curso de graduação dá trabalho; fazer um mestrado também é bem exigente. E mesmo assim, algumas instituições de ensino superior dos Estados Unidos permitem que seus estudantes façam os dois ao mesmo tempo! Fazer graduação e mestrado ao mesmo tempo pode parecer uma loucura, mas na verdade é uma proposta bem possível e interessante.
É isso que conta Rafael Gehrke, estudante brasileiro da Universidade da Pensilvânia (UPenn). Ele está fazendo um major em engenharia da computação junto com o mestrado em robótica, com perspectiva de concluir ambos em quatro anos. Veja a seguir mais sobre a experiência dele.
Dá pra fazer graduação e mestrado ao mesmo tempo?
Rafael entrou na UPenn pensando em estudar engenharia. Inicialmente, não considerava fazer o mestrado junto da graduação. Mas em seu terceiro ano de estudos, ficou sabendo por alguns amigos que isso era possível — e que eles pretendiam fazer isso. Foi pesquisar e se interessou pela possibilidade.
Assim como outras universidades dos Estados Unidos, a UPenn dá grande liberdade para que os estudantes escolham quais aulas vão fazer. Mas para conquistar um major, é necessário fazer certas matérias e determinado número de créditos em algumas áreas.
Fora isso, o aluno pode escolher cumprir os outros créditos como preferir. E de acordo com suas escolhas, pode também conquistar um minor além de seu major, ou até ou double major. Fazer um mestrado junto com a graduação envolve um processo semelhante de escolher com cuidado as matérias que se deseja fazer.
“Para a graduação, a gente tem que fazer 40 créditos. Para o mestrado, são outros 10. Mas no programa que eu estou fazendo, consigo colocar 3 créditos da graduação no mestrado. Então fica só 7 créditos a mais”, explica Rafael. Em comparação, se Rafael quisesse fazer um major e um minor, precisaria de 4 créditos além dos da graduação; para um double major, precisaria de 6 créditos a mais.
Procedimentos
Mas se um aluno quer seguir essa trilha, ele precisa do aval da universidade. É necessário fazer como se fosse uma mini-candidatura para poder juntar graduação e mestrado. “Você tem que ter GPA acima de 3.3, que a maioria das pessoas tem, fazer um essay de uma página e montar um cronograma para mostrar que é possível”, relata Rafael.
Mas na visão dele, o procedimento é mais burocrático do que propriamente seletivo. A ideia é só que o aluno “mostre que pensou um pouco em como fazer isso dar certo”. Se isso fica claro para a universidade, Rafael considera bem provável que o estudante seja aceito.
E como ficam as teses?
Um desafio adicional de fazer graduação e mestrado ao mesmo tempo é que, teoricamente, o estudante precisa entregar duas teses: uma da graduação, outra do mestrado. É como se ele fosse fazer dois trabalhos de conclusão de curso ao mesmo tempo, ou em anos consecutivos.
Mas de acordo com Rafael, é possível contornar essa necessidade. Para a graduação, ele ainda precisará entregar um trabalho final. Segundo ele, será um projeto de engenharia, no qual ele precisa criar um produto.
“No mestrado, eu tinha duas opções: ou fazer uma tese, ou não fazer tese e cumprir os créditos direcionando para algum outro curso. Decidi não fazer tese porque achei que não ia dar certo, ia levar muito tempo”, comenta. Na prática, portanto, em vez de fazer a tese de mestrado, ele vai fazer mais créditos em aulas.
Quanto tempo leva?
Um dos motivos pelos quais o tempo era uma questão importante para Rafael é que fazer graduação e mestrado juntos, como se pode imaginar, é um processo demorado. A universidade prevê que um estudante leve cinco anos para concluir todos os créditos necessários.
Mas há um porém: “Aluno internacional não tem bolsa no quinto ano”, comenta Rafael. Para ele, seria inviável estudar na UPenn sem bolsa de estudos, e por isso ele precisa se formar em quatro anos. Por enquanto, diz estar com tudo certo para concluir tanto a graduação quanto o mestrado dentro desse prazo.
“Desde quando eu comecei o bacharelado eu estava puxando um pouco mais de créditos do que o a média para poder me formar mais cedo”, conta o estudante. Por isso, apesar do currículo de engenharia da UPenn ser exigente, ele acredita que consegue cumprir todos os requisitos dentro desse prazo.
Como é a experiência de fazer graduação e mestrado ao mesmo tempo?
Por incrível que pareça, Rafael diz que fazer a graduação e o mestrado juntos não é tão diferente assim de fazer só a graduação. “Em vez de fazer cinco matérias por semestre, eu tô fazendo seis”, diz. Portanto, é mais ou menos como se um estudante de graduação que tem aulas de segunda a sexta passasse a ter aulas de sábado também.
E o estudante diz que é bastante comum que outros alunos da engenharia optem por esse caminho. Ele acredita que o esforço adicional é relativamente pequeno comparado ao benefício de sair da universidade já com dois diplomas de uma vez só.
“Se a gente consegue juntar os créditos e satisfazer os dois currículos, dá para fazer. Mas pouca gente sabe disso no começo [da graduação], e se a pessoa não conseguir se organizar bem, acaba não dando certo. Acho que se as pessoas soubessem mais dessa possibilidade, daria para mais gente fazer”, diz.
Quais são os benefícios?
A ideia de se formar com dois diplomas, por si só, já é interessante. Mas Rafael, que pretende trabalhar em áreas como Realidade Virtual e Aumentada, acredita que ela pode impactar positivamente a sua carreira. Um dos motivos que o levou a fazer mestrado junto com a graduação foi “começar a ter contato com alguns dos cursos mais avançados dentro da engenharia”.
Esses cursos são essenciais para seus planos de carreira futuros. Ele já estagiou na Amazon na área em que deseja trabalhar, e pensa em passar mais algum tempo em alguma empresa da área após sua graduação. Nos anos seguintes, considera também fundar uma startup para atuar nesse setor. “Acho que fazer o mestrado me ajuda a começar a expandir minhas possibilidades”, avalia.
Rafael considera importante que estudantes da área de engenharia avaliem essa possibilidade junto a suas universidades. “Desde que você você consiga se organizar um pouco e fazer mais matérias do que a universidade recomenda, não é tão difícil”, conclui.