Uma pesquisa divulgada recentemente pelo Council of Graduate Schools (CGS), conselho de escolas de pós-graduação dos Estados Unidos, mostrou que o número de estudantes matriculados em cursos de pós no país despencou entre 2019 e 2020. Em programas de mestrado, o número de matrículas chegou a cair 43% no período.
No doutorado (ou PhD), também houve queda expressiva: foram 26% a menos de matrículas em 2020 na comparação com 2019. Esses dados demonstram que os cursos de pós seguiram a mesma tendênica das graduações nos EUA. O número de estrangeiros que começou o ensino superior no país em 2020 também foi 43% menor que em 2019, de acordo com a Times Higher Education (THE).
Nos mestrados e cursos do tipo certificate, foram 21.742 matrículas de estrangeiros nos EUA em 2020, contra 40.034 em 2019. Entre estudantes de PhD, a queda foi de 13.802 no segundo semestre de 2019 para 9.626 no mesmo período de 2020. Os países que tiveram maior queda no número de estudantes que enviaram aos EUA foram Índia (menos 66%) e China (menos 37%).
Motivos
Evidentemente, a pandemia da COVID-19 foi um dos fatores que prejudicou o recrutamento de alunos estrangeiros nas universidades dos Estados Unidos. A crise sanitária fez com que países fechassem suas fronteiras e univesidades mudassem seus cursos para modalidades online a fim de evitar aglomerações.
Outro efeito da pandemia foi cancelar algumas provas como o SAT e o TOEFL, que normalmente são solicitadas por universidades dos EUA (embora muitas delas tenham aberto exceções no último período de recrutamento). Complicações financeiras geradas pela pandemia também podem ter sido um fator.
No entanto, ainda de acordo com a THE, não foi só a pandemia que provocou essa queda. A diretira de políticas púlbicas e estratégia legislativa da Nafsa, Rachel Banks, considerou que a administração de Donald Trump foi “ativamente prejudicial” em trazer estrangeiros para estudar no país. A Nafsa é uma associação de educadores internacionais nos EUA e alega ser a maior organização sem fins lucrativos voltada à educação internacional.
Suzanne Ortega, presidente da CGS, também citou a mais recente administração do Partido Republicano dos EUA como parte do problema. “Entre os efeitos da pandemia (…) e a ausência de de direção consistente e oportuna da administração Trump quanto às políticas de vistos para estudantes internacionais, estávamos preparados para ver uma queda”, avaliou.
De fato, a administração Trump dificultou a entrada de brasileiros nos Estados Unidos. A política adotada pelo governo durante a pandemia também ameaçou deportar alunos universitários cujos cursos estivessem na modalidade 100% online.
Lado positivo
Segundo dados citados pela Nafsa, a queda no número de estudantes estrangeiros deve representar, no curto prazo, um prejuízo de US$ 1,8 bilhão para o setor de educação, além da eliminiação de cerca de 42 mil postos de emprego. Num prazo maior, no entanto, a situação pode se reverter.
Isso porque muitos alunos estrangeiros foram aceitos, mas fizeram deferral de suas matrículas. Esse processo permite que o estudante aceito pela universidade atrase em um ano o começo de seus estudos. Segundo dados do relatório Open Doors 2020 de mobilidade estudantil, citados pela THE, mais de 40 mil alunos estrangeiros de todos os níveis de ensino superior optaram pelo deferral em 2020.
Dessa forma, parte da queda que ocorreu entre 2019 e 2020 deve ser compensada no segundo semestre de 2021. Mas nesse caso, conforme colocado pela vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento do CGS, a questão se torna “quantos alunos estrangeiros as universidades dos EUA conseguirão acomodar em 2022?”. E conforme ela disse à THE, “há muita incerteza” quanto à resposta.