Universidades como Harvard e Columbia University prestaram solidariedade ao movimento Stop Asian Hate (pare com o ódio contra asiáticos, em tradução livre) após a série de tiroteios em três casas de massagens em Atlanta, no estado norte-americano da Geórgia. A tragédia, ocorrida em 16 de março, deixou oito mortos, incluindo seis mulheres de ascendência asiática. Um homem branco de 21 anos, identificado como Robert Aaron Long foi detido e indiciado pelos ataques.
A fatalidade impulsionou uma onda de protestos em apoio a campanha que luta contra a discriminação racial e denuncia o aumento de crimes de ódio à comunidade Asiática- Americana e das Ilhas Pacíficas (AAPI) nos Estados Unidos. De acordo com a organização Stop APPI Hate — responsável por identificar e registrar essas agressões —, 3.795 incidentes racistas anti-asiáticos foram relatados entre março de 2020 e fevereiro de 2021. Desde o início da pandemia de Covid-19, os ataques a asiáticos nos EUA aumentaram em quase 150%, segundo estudo desenvolvido pelo Center for the Study of Hate and Extremism.
As manifestações do Stop Asian Hate ocorreram e seguem acontecendo em diversas localidades estadunidenses; Nova York, Oxford, Los Angeles, Lexington, San Francisco e Chicago foram algumas das cidades que foram palco de protestos da causa. O movimento também foi fortemente aderido pelo corpo discente, estudantes não apenas se uniram à marcha como organizaram atividades em seus campi. Instituições como Ohio State University, University of Kentucky, Binghamton University e Miami University sediaram em seus espaços atos em prol da campanha.
Além de honrar a memória das vítimas dos ataques e prestar solidariedade às suas famílias, a comunidade acadêmica realizou uma série de reivindicações em relação ao tratamento aos alunos asiáticos. Os manifestantes cobram maior apoio por parte das universidades, melhorias no sistema de segurança e educacional — com a implementação de ações que abordem a história do povo asiático, asiático-americano e das ilhas do Pacífico —, assim como a amplificação de representatividade.
Outras instituições de ensino superior deram suporte ao movimento através de comunicados publicados em seus portais oficiais, é o caso da prestigiada Harvard. Em nota, o presidente Lawrence S. Bacow, condenou os tiroteios em Atlanta e realçou o posicionamento da universidade contra o racismo anti-asiático e todas as formas de intolerância. “No último ano, asiáticos, asiático-americanos e ilhéus do Pacífico foram responsabilizados pela pandemia — calúnia nascida da xenofobia e da ignorância”, escreveu Bacow. “Harvard deve ser um baluarte contra o ódio e a intolerância. Acolhemos e abraçamos indivíduos de todas as origens, porque isso faz de nós uma comunidade melhor, uma comunidade mais forte. Um ataque a qualquer grupo de nós é um ataque a todos nós — e a tudo o que representamos como instituição […] Para asiáticos, asiático-americanos e ilhéus do Pacífico em nossa comunidade: Estamos juntos com vocês hoje e todos os dias daqui para frente”, assegura o documento.
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Lee C. Bollinger, reitor da Columbia University, expressou seu sincero pesar pelo acontecimento. “Aos milhares em nossa comunidade da Columbia que são asiáticos ou asiático-americanos, queremos que saibam que nós, também, em seu nome e por todos nós, sentimos a angústia e o medo justificável por causa deste último episódio de uma tensão profundamente enraizada de racismo na América. A verdade é que não pode haver equanimidade para nenhum de nós enquanto a violência nascida da intolerância e da xenofobia estiver presente em nossas vidas”, é a mensagem com a qual o público se depara ao acessar o site do Office of University Life. Outros setores da instituição também se pronunciaram sobre o assunto.
Com uma declaração escrita pelo presidente Andrew Hamilton, a New York University lamentou o episódio na Geórgia e demonstrou empatia com os envolvidos. “Nós da NYU nos unimos à comunidade asiática no luto pelos mortos, no repúdio e na oposição àqueles que atiçam o ódio e o alimentam com atos violentos, e em deixar os membros desta comunidade na NYU saberem que são bem-vindos aqui, que são apoiados, que pertencem aqui e que, como instituição, continuamos comprometidos com sua segurança e bem-estar”.
A publicação ainda salienta a preocupação da universidade em oferecer um local seguro para seus alunos e seus projetos assistenciais disponíveis. “Neste momento trágico, quero lembrar a todos que continuaremos a tomar medidas para resolver questões específicas aqui na NYU, para fornecer proativamente oportunidades educacionais e de aprendizagem, e que também temos um amplo conjunto de serviços disponíveis […] Também quero lembrar aos frequentadores da NYU que se eles forem submetidos ou testemunharem incidentes de preconceito ou assédio, temos recursos adicionais para ajudar”.
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As ações do Stop Asian Hate continuam ocorrendo, com manifestações agendadas ao longo do mês de abril nos Estados Unidos. Para contribuir com a campanha é possível realizar doações (em dólar) à AAPI Community Fund, a renda do crowdfunding será encaminhada às organizações que trabalham para retificar desigualdades raciais nos EUA. Até o momento, mais de US$ 5 milhões (R$ 28 milhões, na cotação atual) já foram arrecadados.
Além da contribuição financeira, os brasileiros podem colaborar com a causa em nosso país ao denunciar casos de racismo em delegacias convencionais ou nas Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), ao alertar e repudiar piadas de carácter xenófobo e racista e ao contribuir para a ampliação de vozes e representatividade de asiáticos.
Por Victória Lopes