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Os velhos MBAs se reinventam – e surgem alternativas

jovens fazendo trabalho em grupo

No berço do MBA internacional, a Harvard Business School, onde nasceu o famoso método de estudos de caso (case studies) e que já formou milhares de gestores de várias partes do mundo ao longo dos últimos 100 anos, experiências práticas em equipe e fora da sala de aula ocupam cada vez mais espaço no curso. Alunos são convidados a criar um negócio totalmente novo em poucos meses e até visitar empresas de países que nem pensavam em conhecer.

As mudanças começaram após a nomeação do indiano Nitin Nohria com reitor, em julho de 2010. Ele buscava responder às inúmeras críticas que vinham surgindo nos últimos anos contra o MBA, seu currículo extremamente teórico, seus alunos com excesso de autoconfiança e mais interessados em contatos do que em conteúdo, e seus cursos pouco globais para um mundo tão globalizado. A ideia era tornar as aulas mais práticas e internacionalizar o MBA.

Surgiu então o Field Immersion Experiences For Leadership Development (“Experiência de imersão em campo para o desenvolvimento de liderança”) – ou seja, um mergulho dos alunos no mundo real. Se durante mais de um século HBS se tornou conhecida pelas salas de aula em formato de anfiteatro, em que o professor era o centro das atenções, as mesas ganharam uma nova disposição, e viagens internacionais foram incluídas no currículo dos estudantes.

Field Method
Quando o capixaba Ricardo Sodré, formado em engenharia mecânica no ITA, decidiu fazer um MBA em Harvard, ficou muito interessado no Field Method. Agora, experimentando a novidade na prática, ele conta que o curso é dividido em três etapas. Na primeira, os alunos aprendem a trabalhar em equipe, dar feedbacks e negociar com os colegas. As interações acontecem dentro da sala de aula, mas num formato totalmente diferente dos case studies.

Na segunda etapa, passam dois meses se preparando para trabalhar numa empresa estrangeira e depois viajam de fato para o país em questão para entender como a companhia funciona na prática e interagir com os consumidores – ficando lá por até 15 dias. “É muito interessante ter contato com um ambiente profissional totalmente novo, ao lado de pessoas de alto nível e com o suporte de uma faculdade como a Harvard Business School.”

Na terceira etapa, têm como missão lançar uma microempresa. “Nós nos dividimos em grupos de cinco ou seis pessoas, de acordo com afinidades e interesses em comum, e ‘ganhamos’ 5.000 dólares para começar uma startup do zero”, afirma Ricardo. Segundo ele, os alunos que têm um perfil mais empreendedor acabam se empolgando e trazendo o projeto para o mundo real.

É o caso da Hourly Nerds, que já levantou mais de meio milhão de dólares em fundos de venture capital, faltando seis meses para o fim do seu MBA. “Mesmo aqueles estudantes que não pretendem abrir seu próprio negócio e estão levando a startup como um trabalho de escola, é um aprendizado incrível”, completa.

Para Ricardo, o objetivo das escolas de negócios não é atrair apenas pessoas empreendedoras, mas oferecer aulas que garantam uma experiência única ao aluno. “As faculdades estão se reinventando para justificar sua existência num mundo virtual e globalizado, criando atividades internacionais e que não podem ser replicadas na internet.”

Críticas
Um dos livros que assumiu um tom bastante crítico e ofereceu novas propostas às escolas de negócios foi o Rethinking the MBA (“Repensando o MBA”, 2010), escrito por acadêmicos da própria Harvard. Antes disso, Managers not MBAs (“MBA? Não, obrigado”, 2005), de Henry Mintzberg, professor da Universidade McGill, de Montreal, já havia causado um rebuliço entre os executivos tradicionais. O autor chegou a cofundar um curso alternativo de administração.

Mintzberg dizia que os cursos de MBA “treinavam as pessoas erradas, de formas equívocas, com consequências inadequadas”. Para ele, administração não é uma ciência ou uma profissão que pode ser ensinada na sala de aula – é uma prática adquirida com experiência. “Os MBAs até são bons no ensino de marketing, finanças ou contabilidade. Mas tentar convencer que se forma gestores a partir de jovens que nunca geriram coisa alguma é puro engodo”, afirma.

A própria imprensa americana também pautou discussões sobre o tema. O Wall Street Journal, por exemplo, questionou o valor pago no MBA, sugerindo que o dinheiro seria melhor investido num negócio próprio. “Ao invés de confiar em uma escola para ter sucesso, desenvolva você mesmo as habilidades necessárias para se tornar um mestre no campo que escolher. Construa uma boa rede de contatos e coloque em prática projetos que tenham impacto no mundo real.”

Tendências
Outras escolas de negócios trilharam caminhos semelhantes ao de Harvard. Em Wharton, os alunos já podem optar se querem cursar um módulo voltado para empresas grandes ou pequenas. Algumas disciplinas também passaram a ter aulas baseadas em simulações práticas. Em 2011, Berkeley passou a oferecer a possibilidade de reciclar o conhecimento de ex-alunos do MBA a cada sete anos em aulas gratuitas sobre os temas que escolherem.

A Columbia Business School também demonstrou seu esforço para se adaptar às novas necessidades dos profissionais e ao contexto mundial. Criou módulos teóricos on-line para os alunos terem mais tempo em sala de aula para discussões em grupo. Além disso, passou a alinhar os objetivos profissionais dos estudantes incluindo mais aulas eletivas logo no primeiro ano do curso, para melhorar seu aproveitamento do MBA e também suas chances no mercado de trabalho.

Alternativas
Surgiram ainda alternativas para quem não quer ou não pode fazer um MBA padrão, como a Kaospilot – uma escola híbrida de negócios e design, que oferece aulas de liderança e empreendedorismo para pessoas criativas e com potencial transformador. A ideia é que elas desenvolvam conhecimentos, habilidades e competências para colocar projetos em prática. Seus alunos acabam criando suas próprias empresas ou trabalhando em posições de gestão.

Outra possibilidade é optar pelos cursos on-line. Atualmente, há uma série de opções para aqueles que querem fazer um MBA à distância. Os mais conceituados que podem chegar a custar o mesmo valor de um MBA tradicional, caso da Kenan Flager Business School, cujo curso tem o mesmo processo seletivo e grade curricular do MBA presencial.

Para quem busca o conhecimento de ponta das escolas de negócios internacionais, uma boa opção podem ser os cursos online de curta duração que muitas das melhores escolas de negócios do mundo já oferecem, como a Tepper School of Business (Carnegie Mellon), a Kelley School of Business (Indiana University) e a IE Business School, na Espanha.

Acredita-se que em não muito tempo esse formato deve se consolidar e adquirir um prestígio cada vez maior entre os recrutadores de grandes empresas.

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