No começo de junho, a Universidade Stanford anunciou que vai voltar a exigir o envio de notas de testes padronizados (SAT ou ACT) em processos de candidatura. Recentemente, Harvard, Dartmouth, Brown e Yale, que fazem parte da Ivy League, abandonaram a política test-optional. As prestigiadas Caltech e Universidade do Texas em Austin seguiram o mesmo caminho. Para Stanford, a obrigatoriedade passa a valer apenas para o ciclo de estudos do outono de 2025, enquanto as outras anunciaram o retorno já para 2024.
O retorno da exigência acontece após um período de flexibilização imposto pela pandemia de Covid-19, quando vários estudantes não puderam fazer a prova –desde então, o envio das notas passou a ser opcional.
O SAT (Scholastic Assessment Test) e o ACT (American College Testing) são exames utilizados pelas universidades estadunidenses em seus processos de admissão para graduação. Os testes são unificados e aplicados em escala nacional, como o nosso ENEM. Mas, diferentemente da prova brasileira, o SAT/ACT não são usados como um mecanismo de classificação para determinar se um aluno é aceito, mas sim como um indicador de como o aluno se sairá academicamente no primeiro ano da faculdade.
Exigência de notas do SAT e ACT
Mesmo após a pandemia, a dispensa da obrigatoriedade se manteve porque, em teoria, ajudaria alunos de baixa renda, como mostram algumas pesquisas. Um estudo realizado pela Opportunity Insights, centro de pesquisa com sede em Harvard, é um exemplo: os pesquisadores descobriram que os filhos de famílias pertencentes ao 1% mais rico dos EUA tinham 13 vezes mais probabilidade de obter uma pontuação de 1.300 ou mais no SAT/ACT do que os filhos de famílias de baixa renda.
Ter a opção de enviar ou não as notas dos testes padronizados poderia ajudar um aluno que tivesse tirado uma nota ruim, já que ele poderia omitir essa informação da sua application. Assim, a universidade consideraria apenas outros aspectos da candidatura, como notas, cartas de recomendação, atividades extracurriculares e vida escolar. Na avaliação algumas universidades dos EUA, no entanto, essa relação não é tão óbvia.
Um estudo interno realizado por Dartmouth apontou que as notas do ensino médio combinadas com os testes padronizados são os indicadores mais confiáveis do sucesso de um aluno na universidade. Os pesquisadores também descobriram que os resultados SAT e ACT representam uma ferramenta especialmente importante para identificar candidatos de alto desempenho oriundos de famílias de baixa e média renda.
Alguns estudantes de baixa renda optavam por não enviar as notas apenas porque ficaram um pouco abaixo da média da universidade. Esses resultados, na verdade, poderiam fortalecer a candidatura, já que o processo de admissão leva em consideração o histórico pessoal e vários outros fatores.
Yale também alega que a política implementada durante a pandemia era desfavorável a estudantes de baixa renda: de acordo com a universidade, quando os oficiais de admissão analisavam as candidaturas sem os testes, davam maior peso a outros componentes da inscrição. Como estudantes de baixa renda costumam ter menos oportunidades, os outros elementos da candidatura, como cartas de recomendação e atividades extracurriculares, não tinham tanto destaque quanto os de outros candidatos.
Uma mudança, no caso de Yale, é que as notas de AP ou IB (currículos internacionais, oferecidos no Brasil por algumas escolas) também serão aceitas para substituir as notas de SAT ou ACT.
“A virtude dos testes padronizados é a sua universalidade”, diz David J. Deming, professor de Harvard que também conduziu uma pesquisa na universidade. “Nem todo mundo pode contratar um coach caro para ajudá-los a elaborar uma redação. Mas todos têm a chance de ser aprovado no SAT ou no ACT. Embora existam algumas barreiras, a ampla disponibilidade do teste proporciona, na minha opinião, a política de admissão mais justa para candidatos desfavorecidos”, afirma.
Em geral, a universidades apontam que, embora os testes padronizados não sejam um fator único na decisão de admitir ou não um aluno, eles ajudam a identificar estudantes com potencial, incluindo os de baixa renda, mais facilmente. Os exames também ajudam a universidade a ter mais certeza de que os alunos terão sucesso na faculdade, além de trazer mais diversidade para o ambiente universitário.
Impacto para brasileiros
Rosie Falcon-Shapiro, diretora do Prep Program, da Fundação Estudar, avalia que a decisão deve ser positiva se, conforme as universidades anunciaram, tiver sido tomada buscando ajudar perfis mais diversos de alunos a demonstrar a sua força.
Ela diz que é bem provável que outras universidades americanas de ponta sigam pelo mesmo caminho e voltem a exigir o envio dos testes padronizados nos próximos meses, o que afeta os estudantes que pretendem se candidatar ainda neste ciclo.
“Se estiver se inscrevendo em universidades competitivas, presuma que será preciso enviar as notas”, aconselha. Por isso, ela recomenda que os candidatos comecem a se preparar o quanto antes –assim, o estudante não fica impedido de realizar uma candidatura por não ter os resultados dos testes em mãos.
Além disso, Rosie afirma que é importante ficar atento aos outros elementos do application, utilizando-os a seu favor: “As universidades sabem que estudantes de baixa renda tendem a ter notas menores no SAT, pois não conseguem fazer a prova tantas vezes quanto os alunos com maior renda. Por isso, as cartas de recomendação podem dizer que o aluno teve menos recursos para fazer o exame”.
Os alunos também podem adicionar suas notas do ENEM na seção “additional information” ou “honors” do application: “As universidades não usam isso como critério, mas algumas podem usar essas informações para ter mais contexto da candidatura”, esclarece Rosie.
Keyla Carvalho, Application Advisor do Prep Program, explica que, para alunos brasileiros, a novidade vem com um custo que pode impactar a decisão de aplicar para universidades americanas: além das provas tornarem o processo de application ainda mais custoso, elas também não são oferecidas em todas as cidades brasileiras. “A prova SAT custa cerca de R$ 500, e a maioria dos alunos faz o teste pelo menos duas vezes para obter o resultado desejado. Para quem mora em uma cidade onde a prova não é aplicada, ainda é preciso considerar os custos da viagem”, diz.
“Estudantes que querem estudar fora também podem se candidatar a programas preparatórios, como o Prep Program, que ajudam a pagar os custos de candidatura, o que inclui as provas de SAT ou ACT e outras, como teste de proficiência de inglês”, sugere Keyla.