A lógica das humanas: diga sim para as exatas!
O Estudar Fora tem colunas de vários alunos que estudam em outros países e contam suas experiências. Mas até então, ninguém que já estivesse no mercado educacional tinha se manifestado por aqui. De repente, seria interessante escutar de alguém uma análise sobre o ensino superior nos EUA… E se essa pessoa fosse brasileira, morasse bem pertinho de Harvard e tivesse contato com educação tanto no Brasil quanto nos EUA?
Muito prazer!Meu nome é Carolina, fui professora de direito no Brasil por 7 anos, trabalhei em várias faculdades e sempre fui apaixonada por educação de jovens adultos. A convite do Estudar Fora, vou mostrar em alguns textos um pouquinho do que eu sei e as minhas impressões sobre o ensino superior aqui nos EUA.
Então você está aí, sentado na frente do computador sonhando em estudar nos EUA? Talvez vir pra cá te possibilite trabalhar no Google ou na Microsoft um dia, né? Ou então, você está buscando uma experiência no exterior porque acha que ela pode mudar a sua vida e permitir que você conheça outras culturas, outras línguas, outras histórias. Acertei? O fato é que, qualquer que seja a sua vontade, estudar fora mudará a sua vida. Mudará suas perspectivas, ampliará suas possibilidades, fará com que você pense coisas que jamais passaram pela sua cabeça. Você fará amigos do mundo inteiro, provará delícias culinárias do Japão, de Bangladesh e do Marrocos. Terá amigos de todos os continentes do mundo. Sim, a experiência é incrível e eu recomendo MUITO!
Mas, antes de fazer as malas, talvez seja importante entender algumas diferenças entre o ensino superior daí e o daqui. Pois bem. Além de todo o processo de aplicação, um dos grandes diferenciais do ensino aqui é a chamada multidisciplinaridade, ou, em outras palavras, a possibilidade de várias disciplinas se interligarem numa coisa só. Deixe-me explicar melhor…No Brasil, você pensa mais ou menos assim: se eu gostar de matemática e física, devo escolher um curso de exatas. Mas se eu gostar de história e português, talvez eu deva fazer Direito ou Administração. É ou não é?
A bem da verdade, no Brasil a gente torce para que na faculdade as matérias sejam todas – ou quase todas – bem próximas daquelas com as quais a gente mais se identifica. Eu mesma, entrei na faculdade e o máximo de matemática que tive foi uma aula de Direito do Trabalho em que aprendi a calcular os valores de uma execução trabalhista… Nos EUA as coisas são diferentes. Aqui você vai trabalhar com muita, mais muita matemática mesmo. E ponto final. Escolha um curso qualquer: ciência política, por exemplo. Olha, eu já te adianto que você terá que estudar estatística e linguagem de programação para conseguir entender a metodologia da maior parte das pesquisas.
Mas Carol, e se eu quiser estudar Administração de Empresas? Pois é, você também precisará de muita matemática. As business schools daqui só trabalham com estatística, cálculo e programação. Ok, ok, mas eu quero fazer medicina! Ah, então… pra você conseguir estudar medicina – tanto no Brasil quanto nos EUA – terá que saber muita química e física, né? Só que aqui você também vai entrar no time da estatística. Não vai ter jeito… Decidiu fazer webdesign? Bem, por trás de um bom designer tem sempre um bom programador… E experimente trabalhar com visualização de dados ou data analysispara você ver: logo, logoos algoritmos estarão passeando na sua vida…
A verdade é que estudar aqui significa lidar com tecnologia sempre, todos os dias. E tecnologia e matemática andam de mãos dadas. Eu mesma, que me gabava de não ter feito um logaritmo na faculdade, já me rendi à programação em HTML e CSS. Tecnologia, linguagem de programação e matemática são essenciais nos dias de hoje. Vocês verão que as empresas de tecnologia estão, cada dia mais, transformando o mundo inteiro. Crowdfundings, StartUps, Game Industries, Social Networks… todas elas, a seu modo, estão influenciando as nossas vidas e as nossas escolhas. Ainda que você decida estudar história ou literatura, é importante que você tenha conhecimento de programação para que seus trabalhos sejam mais robustos e possam ser respeitados no mercado de trabalho do futuro. E, para isso, só mesmo com muita, mas muita estatística.
Então, meu recado para você é o seguinte: quer estudar fora? Faça o processo seletivo, aplique, seja criativo! Goste de esportes, faça voluntariado, crie algo diferente. E, além disso, estude matemática! Sim, a atual lógica das humanas é dizer sim para as exatas!
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Carol Campos é advogada por formação e docente por vocação. Fez mestrado em Ciência Política, estudou Direito Empresarial, saúde pública, educação e feminismo. Como advogada, trabalhou em escritórios como TozziniFreire e Dannemann. No serviço público, atuou na ANVISA. Por sete anos, foi também professora de ensino superior. Tornou-se gestora educacional, trabalhou com assuntos regulatórios em educação, coordenou um Núcleo de Prática Jurídica e outro de TCC: ao mesmo tempo! Até que um dia fez as malas, vendeu os móveis, empacotou os livros e foi morar com a família em Cambridge. Atualmente, realiza de diversos cursos na área de educação e é voluntária do MIT Brasil, além de escrever para o Estudar Fora.
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