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Diante de pandemia, universidades dos EUA propõem adiamento de matrícula a brasileiros

Universidade Columbia

Universidades dos Estados Unidos tem enviado cartas a estudantes estrangeiros — incluindo brasileiros — reforçando a possibilidade de adiar por um ano suas matrículas. Os documentos falam sobre a possibilidade de pedir um deferral, um adiamento da matrícula para o próximo ano.

Elas mencionam a pandemia de COVID-19 como um fator causador de incertezas que pode atrapalhar os planos de estudos dos alunos, e citam como os estudantes podem fazer para começar o ensino superior em 2021. A ideia é que estudantes interessados em tirar um “gap year” (um ano de pausa entre o ensino médio e superior) se lembrem dessa possibilidade.

Lidia Toledo, aprovada para estudar em Columbia, foi uma das brasileiras que recebeu uma carta desse tipo. Na carta, à qual o Estudar Fora teve acesso, a secretaria de admissões de graduação da universidade comenta que “há muita incerteza no mundo atualmente” e que isso pode afetar a capacidade da estudante de se matricular. “Por isso, se quiser solicitar um adiamento de sua matrícula (…), queremos lembrar que o prazo para fazê-lo é até 15 de maio”, continua.

Helena Frudit, aprovada tanto para Yale quanto para Princeton, também recebeu documentos semelhantes das universidades em que foi aceita. “Basicamente todas falam que estão considerando as possibilidades e que vão fazer o melhor para manter a qualidade de educação”, descreve.

A pandemia atrapalhou bastante o calendário das universidades dos EUA. Mais de 400 delas adiaram os prazos para matrícula por causa dos problemas causados pelo COVID-19 (neste link, é possível ver a lista de todas as instituições que tomaram medidas desse tipo). Para estudantes estrangeiros, no entanto, as universidades estão reforçando a possibilidade de adiar a matrícula em um ano para evitar complicações relacionadas à crise.

Aprovada, mas sem certezas

Helena se candidatou a Yale em dezembro do ano passado. Após receber notícia de sua aprovação em março, esperava aproveitar o primeiro semestre de 2020 para se preparar para a mudança e fazer alguns cursos até sair do país em agosto de 2020. Agora, no entanto, diz que não sabe mais como vai ser o ano.

Helena Frudit
Helena Frudit

Conforme a situação da pandemia evoluiu, Helena conta que não chegou a ter dúvidas sobre sua capacidade de estudar fora, mas sim sobre como seria a experiência. “Senti muita incerteza sobre tudo, sobre como iam ser as coisas a curto prazo, se as faculdades começariam presencialmente e tudo o mais”, diz.

Ela pretende fazer a graduação em Princeton, mas segue sem saber ao certo como iniciará os estudos. “Estou esperando ouvir mais certezas da universidade para tomar qualquer decisão. Não gostaria de ter que atrasar um ano, mas a mensagem de Yale mostra que será possível caso necessário”, comenta.

Esperar mais um ano

Lidia passa por uma situação semelhante. Se candidatou a Columbia no fim de 2019 e pretendia passar o começo de 2020 estudando Ciências da Computação na USP (onde também foi aprovada) e seguindo seu trabalho na escola de programação onde atua. Enquanto isso, aguardaria a resposta de Columbia enquanto prepararia os documentos para estudar fora.

A resposta positiva da uiversidade chegou em 26 de março. Mas conforme a pandemia avançava, “eu fiquei com receio do fall semester [semestre letivo iniciado em setembro] ser cancelado ou online, já que Nova York se tornou um grande foco da doença”. E Nova York é, justamente, a cidade onde Columbia fica.

Lidia Toledo
Lidia Toledo

“Como já tirei um gap year, não gostaria de tirar outro”, comenta. Por isso, por enquanto ela pretende “focar nas minhas atividades enquanto aguardo comunicações mais decisivas sobre o fall semester“. Lidia diz que aguardará até 15 de maio e, se não tiver mais informações, pedirá o adiamento da matrícula. Assim, começará os estudos em Columbia em agosto 2021.

Depósito para garantir vaga

Um dos motivos pelos quais as universidades tem tomado essa medida é a incerteza sobre as atividades dos consulados dos Estados Unidos. Como alunos estrangeiros dependem deles para conseguir vistos de estudante (sem os quais não é possível entrar no país), pode se tornar impossível chegar aos EUA se o país não estiver emitindo vistos para estrangeiros.

É uma das situações que Helena considera que podem fazer com que ela atrase o início de seus estudos — e ainda não há certezas sobre essa questão. “Tem muita coisa que dependerá de cada estado e governo, que eles [as universidades] não tem como interferir”, considera.

Além disso, no entanto, há o fato de que as matrículas nas universidades estrangeiras podem exigir um depósito — e alguns alunos podem ficar receosos de dar dinheiro à universidade numa situação em que não sabem se conseguirão chegar ao país a tempo. Em Columbia, por exemplo, é necessário fazer um depósito de US$ 500 (cerca de R$ 2.700 na cotação atual). “Mas eu só paguei US$ 50 devido à bolsa generosa que recebi da universidade”, diz Lidia.

Acontece que mesmo quem pretende adiar sua matrícula para o ano seguinte precisa fazer esse pagamento. Se não, terá que fazer todo o processo de application de novo — e corre o risco de não reconquistar. “Então qualquer decisão minha sobre entrar em 2020 ou 2021 teria que envolver esse pagamento”, elucida Lidia. Ela conta que fez o pagamento logo aós receber a aprovação.

Pandemia onde a saúde é cara

Mesmo assim, ela ainda se incomoda com a questão financeira. “Com a variação do dólar, minhas economias de 2019 podem não ser suficientes para cobrir todos os custos que vou ter”, afirma. Por isso, ela pode ter que recorrer a parentes para conseguir inteirar esses custos — algo que preferiria não fazer.

Lidia também se preocupa com eventuais custos relacionados a saúde que ela pode ter ao estudar nos Estados Unidos. “Tenho receio de haver um segundo pico da doença em Nova York e, se eu estiver lá, correr o risco de adoecer e lidar com os altos custos de tratamento”, avalia.

As universidades estrangeiras costumam oferecer a estudantes internacionais um apoio de saúde. é comum que ele inclua o acesso a hospitais universitários e recursos especiais para casos de doença. Mesmo assim, custos podem ser bem altos — ainda mais com o dólar quebrando sucessivamente seu récorde de valorização frente ao real. “Os EUA não são um país no qual eu gostaria de ficar doente, mesmo com o health insurance da universidade”, comenta Lidia.

Por isso, ela imagina que pode acabar ficando mais um ano no Brasil. “Acho melhor um gap year do que um primeiro semestre online”, comenta. De toda forma, ela considera que a carta que recebeu de Columbia fez com que ela repensasse seus planos para 2020 e avaliasse opções em que a universidade não aparece. “Ainda não tenho um plano B para esse tempo livre”, comenta.

 

 

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