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Alexandre: de Petrolina para Harvard

Alexandre Miranda em Harvard

Mais de 6.500 km separam a cidade de Petrolina, no interior do Estado de Pernambuco, onde fica um dos campus da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), da cidade de Boston, nos Estados Unidos, onde está localizada a Harvard Medical School — a melhor faculdade de medicina do mundo, segundo os principais rankings internacionais. Essa distância geográfica foi apenas uma das barreiras — e provavelmente a mais fácil — que Alexandre Miranda, de 23 anos, estudante do 3º ano de medicina da Univasf, transpôs para ir atrás de seu sonho. “Diziam que estudar fora só serviria para atrasar a minha formatura. Ouvi de muitas pessoas, inclusive de professor, que era impossível conseguir um estágio em Harvard”, conta. “Provei que não”.

Impossível, certamente, não é. Mas o caminho é tortuoso e exige muita determinação para percorrê-lo. Aos 15 anos, Alexandre decidiu que queria estudar no exterior e, desde então, começou a se preparar. Além de obter boas notas no colégio, investiu em pesquisas e atividades extracurriculares. “Fiz trabalho voluntário e, já na faculdade, participei de sete congressos e de ligas acadêmicas. Um curso que me ajudou bastante foi o de fundamentals of clinical trails no edX (plataforma de cursos oline e grátis de Harvard e MIT)”.

A grande mensagem que ficou é que, apesar de difícil, não é impossível. Muitos colegas acham que precisam ser um Albert Einstein para ir à Harvard. Mas não é por aí.

A chance de ir para os Estados Unidos veio em 2013 por meio do programa Ciência sem Fronteiras (CsF), do governo federal. Mas havia outro obstáculo importante no caminho: o inglês. Mesmo tendo estudado no Brasil, Alexandre não conseguiu uma nota satisfatória no TOELF (exame que mede proficiência em língua inglesa) e foi enviado à Universidade do Arizona para ganhar fluência no idioma antes de poder assistir aulas do curso de medicina, propriamente. “Cheguei aos EUA em agosto de 2013 e fiquei quatro meses só estudando inglês. Em janeiro, ingressei em um bridge programe, em que continuo tendo aulas de inglês, mas já posso cursar algumas disciplinas”, explica.

Nesse período, porém, chegou à conclusão de que seria mais vantajoso para sua área de atuação realizar um internship (estágio não remunerado) em um hospital de ponta do país do que assistir a aulas teóricas na universidade. “Mandei e-mails com meu currículo e uma carta de apresentação para mais de 200 pesquisadores e fui chamado para algumas entrevistas “, conta. “Um belo dia, durante a aula, acessei meu e-mail pelo celular e vi que havia um comunicado da Harvard Medical School: tinha sido aceito como pesquisador visitante! Saí da sala correndo, chorando e fui ligar para os meu pais”, lembra, de novo emocionado.

Com a aprovação, Alexandre conseguiu junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) extensão de sua bolsa de estudos no exterior. A partir de junho e durante 9 meses, dará expediente no hospital da universidade as 9h às 17h, pesquisando sobre saúde cardiovascular.

“A grande mensagem que ficou é que, apesar de ser difícil, não é impossível. Muitos colegas acham que precisam ser um Albert Einstein ou ter descoberto a cura do câncer para ir à Harvard. Mas não é por aí: é preciso ter competência, determinação e tentar. A gente só sabe tentando”, afirma.

Projetos paralelos – Enquanto não chega a hora de realizar seu sonho na prática, Alexandre tem se dedicado a ajudar outros brasileiros que, como ele, chegaram aos Estados Unidos sem dominar completamente o idioma. Junto a quatro colegas, criou o projeto Toelf Arizona, em que a cada dia da semana um professor voluntário dá aulas de inglês para os novatos. “Trabalhamos todas as competências: reading, writing, listening e speaking. Criamos até uma plataforma online para que os alunos publiquem suas redações e possamos corrigi-las rapidamente”, explica.

Volto para o Brasil assim que concluir minha pesquisa. Quero compartilhar o que aprendi e criar um impacto positivo no meu país.

Questionado sobre o porquê faz isso, Alexandre diz que “não quer que outros estudantes tenham seus sonhos destruídos”: “Sei da dificuldade que é adquirir fluência em inglês em tão pouco tempo e não desejo que outras pessoas voltem ao Brasil porque não conseguiram obter uma nota suficiente no TOELF. Gasto duas horas por semana com as aulas e um hora no fim de semana e recebo um feedback muito positivo. Isso me motiva: saber que, com pequenas ações, podemos fazer a diferença para alguém”.

Planos — O estudante ainda nem começou o estágio, mas diz que já tem um plano imutável. “Volto para o Brasil assim que concluir a pesquisa aqui. Quero compartilhar o que aprendi e criar um impacto positivo no meu país”.

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