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Uma pedra, dois golpes: como fazer com que a application valha a pena mesmo que você não seja aprovado

Ana Moraes - 09/10/2024
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Por Otávio Monforte, estudante do Prep Program 2024

Certo, então você está decidindo se vai aplicar (ou já se decidiu) e está louco para saber como vai ser todo esse processo na sua vida a partir de agora. Você sabe que o processo de application é uma longa jornada — é briga de cachorro grande! — e, com certo friozinho na barriga, não para de pensar que no fim pode não dar certo, e que, portanto, deve aproveitar ao máximo possível, independentemente do resultado. Você também compreende que essa caminhada pode levar a grandes conquistas, mas, mesmo assim, quer desfrutar do caminho, pois, no futuro, é dele que você vai se lembrar.

Se você se reconheceu com essa descrição, não se assuste — fique feliz! Isso não é nenhum tipo de sinal mágico, mas um sinal de que a aplicação para uma universidade no exterior está começando a se tornar um processo real na sua vida. Muitos aplicantes, assim como eu e você, têm o mesmo medo de falhar ao chegar no fim e, consequentemente, temos a mesma vontade: fazer com que a application valha a pena, ou melhor, com que nosso delta com ela seja positivo, não importando o resultado. (PS: o delta, ∆, é o seu saldo com alguma coisa, a diferença entre dois pontos de qualquer situação. Como o ∆s ou o ∆t das aulas de física, lembra?)

Antes de tudo, preciso lhe contar que esse temor é extremamente normal e compreensível. Porém, apesar de parecer que existe um passo-a-passo específico para que o ∆ > 0 aconteça, na verdade, não há. É uma questão de mindset e, no final, it’s all on you. Para você se aprofundar mais, vou te contar sobre como eu lidei com isso no meu terceiro ano do ensino médio.

Como?

Quando comecei o processo para aplicar, queria fazer muitas coisas e tinha muitos planos, como todo aplicante tem no começo. Até aí, tudo bem. Contudo, muito do que planejamos nem sempre sai como esperado, e as coisas acabam tomando outros rumos. Ora pois, comigo, não foi diferente.

Alguns dos meus planos simplesmente caíram por terra, e, no fundo, as realizações que me davam vontade de virar para trás e dizer “eu faria de novo” respondiam à seguinte pergunta: o que você realmente quer fazer que a application pode te ajudar a realizar?

Parece uma pergunta na qual ‘Tudo.’ é uma resposta extremamente válida, mas na verdade não. Pense que é como se, ao invés de projetar a sua vida na application (como de fato deve ser feito, pois a aplicação é sobre contar a sua história), essa pergunta te convidasse a projetar a application na sua vida. Como assim? É simples: sabe aquela vontadezinha que você estava de fazer alguma coisa há muito tempo, mas nunca teve tempo ou um real motivo para fazer? Pois bem, boas notícias! Agora, a application chegou e ela é mais que a ‘desculpa’ perfeita para você realizar essa vontade. Ao realizá-la, você se sentirá contente por isso, sendo aprovado ou não. A sensação, no fim, será de que você aproveitou ao máximo tudo que pôde.

Mas, ô céus! o que pode ser essa vontade? — Bem, aqui sim, a resposta é tudo! O importante é reconhecer que tomar uma atitude em prol dela realmente te deixará satisfeito, pois ela já é um wish que você tem a long time ago. No meu caso, consigo pensar em duas coisas que foram marcantes e que, sem dúvidas, fizeram meu delta ser positivo.

A primeira é ter começado a dar aulas de física para olimpíadas na escola em que meu pai trabalha. Como já fui aluno de lá, foi gratificante para mim poder dar aulas junto com os professores que já me deram aula, além de poder contribuir a um ambiente que, um dia, já foi o ponto de chegada do meu ‘caminho da roça’. Como isso já não fosse suficiente, consegue imaginar a alegria de um pai ao ver seu filho no mesmo ambiente de trabalho que o dele, mas, agora, de fato, trabalhando? Esse foi um brinde que eu obtive ao começar a dar essas aulas.

Independentemente disso, envolver uma comunidade à qual você pertence, assim como eu fiz, é uma boa maneira de não ficar com o delta nulo quando a application acabar. Isso porque você estará gerando impacto na vida de pessoas que te receberam e acolheram naquele ambiente. Imagine ver essa comunidade transformada (ou só um pouquinho mudada) daqui a alguns anos e pensar ‘eu ajudei a fazer isso’. Recompensador, não? Minha principal mudança foi conseguir fazer alunos conquistarem medalhas em olimpíadas de física e astronomia, mas, qualquer que seja, essa mudança dará a sensação de que valeu a pena.

Você, leitor, também pode começar a dar aulas! Na sua escola antiga ou atual, basta ser uma área que você domine; ou, se entende de tecnologias, web design ou programação, pode se voluntariar a empresas da sua região para ajudá-las a construir um website novo ou atualizar o já existente (que foi o que o meu irmão fez, por exemplo, pois todos conhecem algum negócio cujo site data desde a virada do milênio); se gosta de escrever, pode começar começar um blog ou jornal para alguma comunidade (escolar, regional ou de aplicantes, como eu fiz!); se gosta de competir, pode começar ou aprofundar a tradição da sua escola em olimpíadas, hackathons ou debates — muitas fazem só um ou nenhum desses. Assim, as opções são variadas, e todos esses exemplos demonstram diversos valores e aptidões na hora da application.

O segundo item foi um pouco diferente do que vimos até agora. Não está relacionado às pessoas ao meu redor, mas somente comigo. Foi assim: a aplicação exige o conhecimento da língua inglesa (faz parte do processo). Depois que aprendi o inglês, decidi estudar francês. Como comecei no primeiro ano do ensino médio de uma maneira até que informal, estudava por conta e sabia que sabia; mas não o que, exatamente, eu sabia. Dado que testes de comprovação de proficiência em línguas são importantes tanto no meio acadêmico quanto profissional, decidi considerar a application como o estopim para fazer um. Antes, isso nem passava pela minha cabeça, então considero que, hoje, sair por aí como um francófono certificado, que até teve a lista de países de aplicação expandida, se deve puramente a ela.

A mesma coisa pode acontecer com você, leitor. Por exemplo: se a música e você vibram na mesma frequência, componha! Ou então, cante! Existe uma categoria chamada ‘vocal activity’ na aplicação (no Common App), e isso é um demonstrativo de leadership e initiative; se gosta de cozinhar, então cozinhe para seus colegas, visite restaurantes e vá em frente! Tenho um amigo que mergulhou nessa área. Eventualmente, isso se tornou o tema do seu Personal Statement (uma redação muito importante para o processo) — e eu comecei a comer cupcakes na escola. Você já consegue ver que essas atividades não necessariamente estão relacionadas com um impacto externo, mas com suas paixões interiores. Fazer a aplicação valer a pena é sobre isso.

O bom de projetar a application na sua vida, como discutimos no começo, é que o interesse que você desenvolve por certas atividades é genuíno — e isso pesa muito quando chega a hora. Além de todas as suas conquistas, os Admission Officers (as pessoas que vão te avaliar) querem ver sua paixão pelo que faz. De certa forma, você está colocando a aplicação em segundo plano, usando-a como um estopim para atingir objetivos que já gostaria de atingir e aproveitando a oportunidade. O bom disso? Você terá mais lugar de fala para quando você for comentar sobre suas aventuras e experiências nas redações exigidas (como o nosso amigo cozinheiro fez).

Além das atitudes

Antes de encerrar, não podemos esquecer do que adquirimos inevitavelmente com tudo que fazemos: experiência. Experiência ou conhecimento também é uma forma de sair da application com um delta positivo, e, por isso, gosto de chamá-la de ∆φ (phi, φ, representando a filosofia, o conhecimento).

O processo de application, antes de tudo, é um imenso processo de autoconhecimento, no qual, além de descobrir muitas áreas em que você é competente, descobre também muitas outras em que pode melhorar. Se não estivesse comprometido com esse processo, eu não me conheceria tão bem hoje, muito saberia contar a narrativa da minha história como sei. Essas suas faces novas e releituras que você faz sobre si mesmo, somadas a todas as pessoas novas que você conhece e ambientes novos em que você se expõe, compõem um ∆φ valioso que somente a aplicação pode te proporcionar. Portanto, aproveite!

Em resumo, aplicar pode ter muitas outcomes, esperadas ou não. Porém, alinhá-las com os seus propósitos é essencial para não se arrepender no fim. Hoje, mesmo que eu não passasse em nenhuma universidade, ficaria contente de saber tudo que vivi. Sejam as aulas de olimpíadas, o teste de francês ou o autoconhecimento, tenho por mim que valeram a pena. Todos temos medo de chegar ao final e falhar. Entretanto, poucos têm a coragem de encarar a application, aproveitar o caminho e querer fazer tudo de novo no fim! No fundo, ela é apenas um processo; depois dela, a vida continua. Assim, leitor, como diríamos em francês, faisons d’une pierre deux coups ! — façamos de uma pedra dois golpes.


Otávio Monforte tem 16 anos e escreve de São Paulo, capital. Ele se identifica muito com a área de exatas: participa de diversas olimpíadas científicas e estuda principalmente física e matemática. Porém, ele também gosta de se divertir com o universo da linguagem. Aprende francês e, além de adorar ler livros e poemas, ama, claro, escrever!

A coluna acima foi escrita por Otávio Monforte, participante do Prep Program preparatório da Fundação Estudar com foco em jovens que desejam cursar a graduação no exterior. Totalmente gratuito, o programa oferece orientação especializada sobre o processo de candidatura em universidades de fora do país. Saiba mais e faça sua inscrição aqui.

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Sobre o escritor

Ana Moraes
Jornalista e editora do Portal Estudar Fora. Entre em contato pelo e-mail [email protected].

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