Por Matheus Simões Pires
Durante a minha vida sempre me senti motivado por dois tipos de pessoas: pessoas de sucesso e pessoas de pré-sucesso. As de sucesso são as mais fáceis de reconhecer: reconhecemos por contas bancárias, artigos nos jornais, prêmios… As pessoas de pré-sucesso são o oposto disso. O sucesso delas não tem nenhuma materialidade. Se pessoas de sucesso são uma árvore, as pessoas de pré-sucessos são apenas sementes. São feitas de sucesso em forma de potencial.
É por elas existirem apenas em potencial que nós, nas nossas rotinas egocêntricas olhando sempre para os nossos smartphones, muitas vezes nem notamos quando cruzamos por uma pessoa de pré-sucesso. Involuntariamente deixamos de notar todas as qualidades escancaradas nas atitudes de uma pessoa de pré-sucesso. Pessoas de pré-sucesso sempre nos deixam pensando “Essa pessoa ainda vai fazer grandes coisas” e falando pra nós mesmos “eu poderia estar fazendo mais”. Muitas vezes nós ignoramos as pessoas de pré-sucesso por causa desse segundo pensamento, o pensamento de vergonha por não estarmos fazendo mais, de cobrança. Na nossa ânsia de proteger nossa autoestima, buscamos com força algum motivo para dizer que as atitudes delas são produto de algo além de puro esforço. Queremos dar caráter místico e sobrenatural para as suas atitudes a fim de nos convencermos de que não poderíamos estar fazendo mais do que já fazemos. Para poder continuar vendo mais alguns episódios de Game of Thrones.
Pessoas de pré-sucesso sempre nos deixam pensando “Essa pessoa ainda vai fazer grandes coisas” e falando pra nós mesmos “eu poderia estar fazendo mais”
Isso sempre acontece comigo. É uma espécie de realidade seletiva, em que distorcemos a realidade para nos sentirmos melhor com a nossa própria inação. Escolhemos fechar os olhos para a realidade de que em algum lugar da equação do sucesso existem noites viradas, medos encarados, muito esforço e sonhos solitários. Por outro lado, escolhemos acreditar que sucesso e conquista é um fator de berço, sobrenome e de contatos. Até que um dia a realidade nos dá um soco no meio do nariz. E nos faz voltar a ver as coisas como elas realmente são. Foi isso que aconteceu comigo em um dia úmido no meio do Kentucky.
Eu estava lá como parte de um programa de trabalho voluntário que a minha faculdade, Cornell University, promove em parceria com o Berea College. Berea é uma faculdade não convencional, onde todos os alunos trabalham e recebem ensino grátis. O processo de admissão é super concorrido, mas pelo fato não ser paga, Berea acaba sendo casa de jovens brilhantes do mundo inteiro, muitos deles de países pobres e em situação de risco. Esses jovens deixam tudo para vir para os Estados Unidos tentarem conquistar seus sonhos em um novo horizonte.
Eu estava lá com alguns outros alunos de MBAs e Cornell com um objetivo simples: Auxiliar os alunos de Berea a estarem prontos para o mercado de trabalho. Durante dois dias atendemos alunos individualmente em sessões de revisão de currículo e mock interviews, uma espécie de entrevista de emprego fictícia com sessão de feedback ao fim. Foi em uma dessas entrevistas que eu levei um murro na cara que me fez lembrar do que realmente faz uma pessoa de pré-sucesso.
No outro lado da mesa estava sentada uma tímida aluna de um país da África central. Entrevistá-la estava sendo muito difícil, minhas perguntas eram retribuídas por silêncios desconfortáveis e respostas monossilábicas. Cinco dos trinta minutos de entrevista haviam passado quando cheguei à última pergunta: “Me conte sobre alguma vez que você utilizou a criatividade para solucionar um problema”. Ela balançou a cabeça em sinal de negação. Decepcionado com a minha falta de direcionamento, resolvi perguntar algo mais concreto: Perguntei como tinha vindo do seu país até os Estados Unidos.
Ela contou que viu um folheto sobre a Berea em uma agência de educação que possuía um link para mais informações. Como o acesso a internet era algo restrito na sua vila, ela foi até um café e gastou as poucas moedas que tinha em alguns minutos de acesso. Os minutos passaram, e a página não carregou. Diversas tentativas depois ela descobriu que a conexão de lá era muito limitada para esse tipo de uso.
Conversando com um funcionário do café, ela descobriu que administradores da rede tinham acesso a uma conexão mais rápida. Ela não pensou duas vezes: chamou o gerente e pediu por um emprego. Seis meses se passaram até que ela fosse promovida de assistente de limpeza para caixa e ganhasse acesso à rede da administração. Finalmente, ela conseguiu completar e enviar a sua aplicação para Berea. Algumas semanas depois, no mesmo local ela recebeu a confirmação que havia sido aprovada. Mas sua alegria não durou muito tempo.
Como seu país era controlado por uma ditadura, não era permitido que seus cidadãos emigrassem. Ela viu seu sonho desaparecendo como areia pelo meio dos dedos. Para piorar, alguns dias depois ela ficou doente e precisou ser levada para um país vizinho para o tratamento. Lá se deu conta de que, como não estava mais em seu país, poderia embarcar em um avião para os Estados Unidos. E foi assim que veio: sozinha, doente, e sem poder se despedir de sua família e dos seus amigos. Perplexo, eu falei pra ela que essa era a melhor resposta do mundo para a pergunta “Me fale sobre alguma vez que você utilizou a criatividade para solucionar um problema”. Ela riu envergonhada, como se tivesse me contado apenas o que ela tinha comido no almoço de ontem.
Enquanto ela continuava a me contar como estava sendo a sua vida nos EUA, minha mente divagou, e comecei a pensar nela, uma criança, tendo que passar por tudo isso, lutando sozinha. Naquele momento, em uma salinha no meio do Kentucky, me dei conta da força que um sonho pode ter. Percebi como ela deve se sentir solitária aqui, longe da família e de sua cultura. Mas ela persiste, é dona de uma força que raramente se encontra. A força das pessoas de pré-sucesso.
No avião de volta eu comecei a olhar pra mim mesmo, para as minhas próprias atitudes. Um sentimento de profunda culpa preencheu todo o meu corpo. Comecei a comparar a grande batalha que aquela menina havia vencido com todas as que eu perco no meu próprio dia-a-dia. Perco a batalha contra o despertador, contra a escolha saudável de refeição, contra a minha to-do list. Por mais simples e insignificantes essas batalhas possam parecer, muitas vezes são elas que fazem a gente perder uma guerra muito mais importante, a pelos nossos sonhos. Por que sonhos são construídos de micro ações.
Então vamos ao que interessa. Como ser alguém de pré-sucesso:
1. Não faça o que a maioria das pessoas faz. Isso significa simplesmente fazer mais coisas que trazem resultados e menos que não trazem. A maioria das pessoas acorda às 7h? Acorde as 5 e vá ler um livro e meditar. A maioria das pessoas faz o mínimo que precisa fazer na escola e no trabalho? Faça muito mais do que foi pedido, mais que a sua obrigação. A maioria das pessoas passa o final de semana relaxando e curtindo a vida? Aprenda a usar o final de semana fazendo algum curso, fazendo trabalho voluntário ou estudando algo que te interessa.
2. Acredite profundamente que você pode conquistar seus sonhos. Muita gente diz que quer ter sucesso mas na verdade não se sente capaz nem digna de conseguir o sucesso que deseja. Quando esse é o caso, não existe como vencer, já que o sentimento interior de não-valia vai sempre sabotá-lo. Se você sente que esse é o seu caso, a minha dica aqui é a seguinte: Comece a fazer mais. A partir do momento que você começar a fazer mais do que a maioria das pessoas, o próprio fato de estar trabalhando, estudando e suando mais que a maioria vai começar a criar um sentimento de merecimento. Um sentimento que te diz que você está pagando o preço pelos seus sonhos e por isso é digno de vê-los concretizados.
3. Se afaste das pessoas que te puxam pra baixo. Todas as pessoas com quem interagimos causam em nós algum tipo de efeito. Nós temos a tendência de classificar esses efeitos entre pessoas que nos fazem bem e pessoas que nos fazem mal. Na verdade, existem outros tipos de efeitos que surgem das nossas interações. Eu gosto de chamá-los de pessoas que te puxam para cima e pessoas que te puxam pra baixo. O grande problema aqui é que muitas vezes as pessoas que te fazem bem podem te puxar pra baixo. O fazer bem delas é um fazer bem superficial – é aquele bem que nos faz sentirmos confortáveis, anestesiando os nossos sonhos. Por outro lado, muitas vezes as pessoas que nos fazem sentir mal nos puxam pra cima, por que nos fazem lembrar que precisamos trabalhar, estudar e lutar mais para continuar indo atrás dos nossos grandes sonhos.
Não importa o quão estreita seja a passagem, quantas punições existam no meu roteiro, eu sou o mestre do meu destino, eu sou o capitão da minha alma
Na parede do meu quarto eu tenho o poema Invictus, que Nelson Mandela lia diariamente durante os 27 anos que ele passou na cadeia. O poema acaba com a seguinte passagem “Não importa o quão estreita seja a passagem, quantas punições existam no meu roteiro, eu sou o mestre do meu destino, eu sou o capitão da minha alma.”
Agora, toda vez que eu leio esse poema eu lembro da menina africana que eu conheci no Kentucky. Para mim, ela representa perfeitamente as atitudes de pessoas de pré-sucesso. Se você pretende se tornar alguém de pré-sucesso, eu peço que além das três dicas acima sempre que as coisas complicarem e você sentir que não existe saída que você respire fundo e repita para si mesmo: “EU SOU O MESTRE DO MEU DESTINO, EU SOU O CAPITÃO DA MINHA ALMA.” E vá com tudo.
Sobre Matheus Simões Pires
Empreendedor em Design de Produto pela UFRGS, Matheus é aluno no MBA da Cornell University. Com 21 anos fundou a Mutta Shoes, empresa de calçados masculinos focada no mercado exterior. Matheus é palestrante, maratonista, músico e apaixonado por desenvolvimento pessoal e excelência profissional. Acompanhe seu Instagram.
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