Você já deve ter ouvido ou lido a frase “we should all be feminists” (“deveríamos todos ser feministas”, em tradução livre), que, de tão célebre, passou até a estampar camisetas. A sentença dá nome a uma conferência famosa do TEDx Talks de 2012 (que virou livro) de Chimamanda Ngozi Adichie, em que a autora questiona os papeis dos gêneros e sugere uma maneira diferente de pensar a respeito, a partir de uma perspectiva que poderia, de fato, promover a igualdade. A cantora Beyoncé, inclusive, usou um trecho da palestra para a música e o clipe de Flawless, no álbum homônimo de 2013.
A voz da escritora nigeriana já havia ecoado mundo afora em outra conferência do TEDx, intitulada “O perigo da história única”, na qual ela nos convida a ir além do que pensamos sobre uma pessoa, um local, enfim, uma história. Chimamanda foi descrita pelo suplemento literário do jornal The New York Times como “a mais proeminente de uma procissão de jovens autores anglófanos aclamados pela crítica que conseguiram atrair uma nova geração de leitores para a literatura africana”. Conheça, a seguir, a trajetória da autora feminista, que estudou em duas das mais importantes universidades do mundo, Yale e Johns Hopkins.
Infância e Juventude de Chimamanda Ngozi Adichie
Filha de um professor de Estatística (James Nwoye) e de uma administradora (Grace Ifeoma), ambos funcionários da Universidade da Nigéria, Chimamanda nasceu no estado nigeriano de Anambra, em 1977. Ela cresceu em um campus universitário na região leste do país, chamado Nsukka. Leitora voraz, começou a ter contato com a literatura ainda nos primeiros anos da infância. Já a escrita começou a ser desenvolvida aos sete anos.
A paixão pelos livros, entretanto, começou com obras escritas por autores estrangeiros cujos personagens eram brancos, de olhos azuis, que costumavam brincar na neve e comer maçãs, conforme as lembranças da própria Chimamanda. Tais personagens falavam sobre como era bom o fato de o sol ter aparecido. Porém, para quem vive na Nigéria, este cenário é, no mínimo, deslocado. Por esse motivo, a descoberta das produções literárias africanas foram decisivas para mudar o estilo da autora e fazê-la escrever a partir de um lugar em que se reconhecia.
Onde estudou Chimamanda Ngozi Adichie
Chimamanda chegou a estudar medicina e farmácia na Universidade da Nigéria por um breve período, durante o qual trabalhou como editora da revista The Compass. Aos 19 anos, ela se mudou para os Estados Unidos e ingressou na Universidade Drexel, na Filadélfia, onde estudou comunicação e ciências políticas. Foi nesta época que dividiu quarto com uma colega de turma que se impressionou com o fato de Chimamanda falar inglês, por considerar que, na Nigéria, só se ouviria dialetos tribais.
Esta percepção marcada pelo preconceito iria aparecer, mais tarde, nas famosas conferências proferidas pela escritora. Apesar de ter estudado na Filadélfia, Chimamanda concluiu os estudos em comunicação e ciência política na Universidade Eastern Connecticut State. Depois, fez mestrado em escrita criativa em Baltimore, na prestigiada Universidade Johns Hopkins. Estudou, ainda, História Africana na Universidade Yale.
Carreira e prêmios da célebre escrito nigeriana
Chimamanda Ngozi Adichie publicou, em 1997, a coletânea de poemas intitulada Decisions e, no ano seguinte, escreveu a peça For Love of Biafra. Em 2003, ganhou ao menos três prêmios internacionais (BBC Short Story Awards e David T. Wong) por seus contos. O primeiro romance, Purple Hibiscus, veio naquele mesmo ano e já foi bem recepcionado pela crítica, tendo sido indicado em 2004 para o Orange Prize para Ficção.
O segundo romance, Half of a Yellow Sun, também foi aclamado. Em 2010, Chimamanda passou a integrar a lista dos 20 autores de ficção mais influentes o, menos de 40 anos. Em 2013, a nigeriana publicou o romance Americanah, selecionado pelo The New York Times como um dos 10 melhores livros daquele ano. O livro Para Educar Crianças Feministas, de 2017, é um de seus mais recentes sucessos. O último livro lançado, Notas Sobre o Luto, de 2021, fala sobre a dor de perder o pai.
Chamamanda e o TEDx “O perigo da História Única”
A experiência da escritora nigeriana nos EUA a fez pensar sobre a importância de ir além do estereótipos e preconceitos que, por vezes, acabam guiando nossas decisões, nossos relacionamentos e nossa visão de mundo. Em um trecho da palestra “O perigo da história única”, ela explica como o poder está ligado a isso tudo:
“É impossível falar sobre a história única sem falar do poder. Há uma palavra, uma palavra malvada, em que penso, sempre que penso na a estrutura do poder no mundo. É “nkali”. É um substantivo que se pode traduzir por “ser maior do que outro”. Tal como os nossos mundos económico e político, as histórias também se definem pelo princípio do “nkali”. Como são contadas, quem as conta, quando são contadas, quantas histórias são contadas, estão realmente dependentes do poder. (…) O poder é a capacidade de contar a história de outra pessoa, tornando-a na história definitiva dessa pessoa. (…) As histórias têm sido usadas para desapropriar e tornar maligno. Mas as histórias também podem ser usadas para dar poder e para humanizar. As histórias podem quebrar a dignidade de um povo. Mas as histórias também podem reparar essa dignidade quebrada.”
A potência de sua fala está no fato de convidar o(a) ouvinte ou leitor(a) à reflexão profunda sobre como chegam para nós as histórias que ouvimos e de que maneira criamos a visão que temos sobre cada povo no mundo. Diversificar as fontes do conhecimento, portanto, é a tarefa proposta por Chimamanda para quem escuta o que ela tem a dizer.
Chimamanda no Brasil
Chimamanda Ngozi Adichie teve participações marcantes em visitas ao Brasil e no contato com a mídia brasileira. Em 2008, ela participou da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) e, em 2021, concedeu uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na qual se manifestou de maneira contundente sobre o racismo no país, segundo sua percepção pessoal.
“Uma das coisas que eu me perguntava era ‘Onde estão os negros no Brasil?’. […] Percebi que fazer perguntas sobre isso fazia as pessoas desconfortáveis. As pessoas não pareciam reconhecer que isso era um problema. Se você tem uma população que tem números grandes de pessoas negras e elas não estão representadas principalmente em cargos altos, isso é um problema.”
Já em 2022, a autora feminista participou do Salão Carioca do Livro (LER) e discursou, no Marcanãzinho, para milhares de pessoas, principalmente estudantes da rede pública. Em entrevista ao jornal O Globo na ocasião da visita, ela afirmou: “Da última vez em que estive no Brasil, eu questionei onde estavam as pessoas negras. Desta vez, eu as vi mais, mas não sei se isso é uma consequência de eu ter me posicionado no passado.”
A seguir, o famoso TEDx da escritora Chimamanda Ngozi Adichie: