O Common Application, sistema online unificado para envio de candidatura para centenas de universidades dos Estados Unidos, vai passar a ser mais inclusivo para candidatos transgênero a partir do processo seletivo 2021-2022.
As mudanças incluem a possibilidade de o aluno indicar o nome pelo qual preferem ser chamados, adicionar um conjunto de pronomes para que o estudante indique aquele com que mais se identifica e, ainda, a alteração em uma pergunta do formulário sobre qual é o “sexo” do candidato – que, agora, passará a perguntar sobre o “sexo legal” (termo que corresponde ao gênero com o qual se identifica, independentemente do sexo biológico, de nascimento).
Saiba mais sobre essa iniciativa e outros exemplos de application inclusivos em termos de gênero!
Como funciona o Common Application
O Common Application, ou simplesmente Common App como é chamado, reúne, ao todo, 900 instituições de ensino aceitam as candidaturas por meio do sistema online, tanto para o processo de admissão regular quanto para transferências. Por esse motivo costuma funcionar como uma espécie de SISU (Sistema de Seleção Unificada) dos EUA – mas há, também universidades fora dos Estados Unidos que o aceitam, na França, Alemanha, Itália, Suíça e no Reino Unido.
A vantagem é que os estudantes podem se candidatar em diversas instituições, sem que precisem preencher diversos formulários ou fazer várias redações. No Common App é necessário preencher informações pessoais e, também, os resultados acadêmicos e atividades extracurriculares, mas, quando se pensa em questionário – ainda mais em se tratando de um dos mais populares do mundo -, é cada vez mais urgente que os formulários acolham respondentes LGBTQIA+. Nesse sentido, o sistema anunciou mudanças para este ano.
Como e quando o “SISU dos EUA” vai se tornar mais para pessoas trans
A reformulação do questionário em termos de gênero foi anunciada no último mês de fevereiro, tendo como objetivo substituir uma tentativa anterior de inclusão de alunos trans que não foi bem aceita. Isso porque o sistema perguntava qual era o “sexo de nascimento” dos estudantes, ignorando o fato de que algumas pessoas trans tiveram a identidade social alterada no momento em que se aplicaram.
O item, então, foi substituído por “sexo legal”, para fazer com que todos se sintam incluídos.
No application de 2021-2022 haverá, ainda, uma pergunta para que possa compartilhar o nome de sua preferência, além de possibilitar que escolham o pronome com que preferem ser tratados.
Sistema já tentou ser mais inclusivo para LGBTQIA+
Essa não é a primeira vez que o Common App empreende esforços para promover diversidade. Em 2016, o formulário adicionou uma caixa de texto onde o estudantes poderiam registrar voluntariamente sua identidade de gênero – e contou com mais de 69 mil respostas. Entretanto, uma pesquisa com os responsáveis pelas admissões revelou que muito candidatos não entenderam a questão e precisavam de algo mais preciso. Vale lembrar que as pessoas não-binárias, por exemplo, podem não se identificar nem com o gênero masculino, nem com o feminino.
As iniciativas do Common Application envolvendo inclusão para transgênero foram baseadas em uma pesquisa de 2019 do Trevor Project, uma organização de prevenção ao suicídio entre jovens LGBTQIA+, segundo a qual 54% dos jovens trans e não-binários consideraram seriamente tirar a própria vida naquele ano. O levantamento também revelou que candidatos trans negros tinham duas vezes mais chances que os brancos cisgênero de abandonar a escola, na medida em que não se sentiam incluídos.
De acordo com Jenny Rickard, presidente e CEO do Common App, as mudanças no sistema permitem eliminar barreiras:
“A fim de cumprir a promessa do ensino superior como um caminho para oportunidades econômicas, cabe às instituições, defensores e partes interessadas eliminar quaisquer barreiras potenciais que possam estar no caminho para estudantes de todas as origens.”
Application da Universidade de Waterloo segue a mesma linha
No Canadá – que é considerado um dos países mais inclusivos do mundo para a comunidade LGBT – uma iniciativa semelhante vem sendo adotada desde 2017 no application da Universidade de Waterloo. O formulário em que os candidatos preenchem dados pessoais permite assinalar a resposta “outra identidade de gênero” além das opções “masculino” e “feminino”.
Na ocasião, Jeremy Steffler, membro do Grupo de Trabalho sobre Diversidade Sexual da instituição canadense declarou que se tratava do primeiro passo para que as universidades começassem a identificar alunos trans e construir pontes entre eles, a fim de perceber a melhor forma de apoiá-los.