O programa de bolsas da Fundação Estudar existe há mais de 25 anos e reúne jovens talentos do Brasil inteiro. Como parte do processo de seleção, há sete etapas, que incluem testes de lógica, vídeo sobre a trajetória do candidato e entrevistas. Mas como é possível selecionar os melhores entre as milhares de candidaturas, todos os anos? Esse é o desafio para conseguir uma bolsa do programa de Líderes Estudar.
Coordenador da equipe de seleção da Fundação Estudar, Leonardo Gomes aponta que algumas características se destacam, como a curiosidade intelectual. “Outro exemplo é quando o candidato tem a capacidade e o interesse de se aprofundar em alguma temática e obter aprendizados relevantes”, resume ele. O perfil do estudante deve se alinhar aos valores da Fundação Estudar, que procura traços como foco e capacidade de execução.
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Não é necessário ter uma formação acadêmica específica, nem ter chegado a cargos altos em uma empresa – mas sim demonstrar excelência, dentro do perfil do candidato. Uma boa application para o programa de Líderes Estudar, portanto, é a que consegue contar bem essa história. “É preciso ter a capacidade de refletir sobre as próprias experiências, extrair aprendizados delas e aplicá-los”, explica Leonardo Gomes, que há quatro anos seleciona bolsistas para a rede.
Esse é um dos pontos cruciais, segundo o bolsista Diego Rodrigues, que integra o time selecionados para o programa Líderes Estudar de 2017. Natural de São Paulo, ele embarcou para o duplo-diploma em engenharia na França e explica que deve haver “lógica” na história contada pelo candidato. Em outras palavras, “dar ênfase na ligação, no que uma coisa tem a ver com a outra”. “Eu colocava em um papel os pontos que achava mais relevantes, como o motivo de ter escolhido a engenharia elétrica e o meu curso técnico, e aí fazia as ligações”, conta ele.
Passo a passo do processo seletivo
Em um primeiro momento, cada candidato faz um teste online sobre seu perfil e, também, testes de lógica. Para Diego Rodrigues, que fazia engenharia elétrica na Universidade de São Paulo, se sair mal na prova inicial não era opção. “Não dá para ter uma nota ruim em algo básico”, diz ele. “Eu fui em alguns sites de concurso, baixei os testes do tipo e treinei”.
Também é necessário responder a um questionário, além de enviar um vídeo curto sobre a própria trajetória. “O vídeo é uma das ferramentas mais práticas para darmos escala aos processos seletivos, por exigir menos investimento de tempo dos candidatos, sem perder a qualidade da avaliação”, explica Leonardo Gomes, que trabalha na seleção de Líderes Estudar.
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Para o brasileiro André Sztutman, que cursa o PhD no MIT (Massachusetts Institute of Technology), é importante dedicar tempo ao vídeo, uma das etapas iniciais do processo. “Achei impressionante quantas horas podem ser gastas para a produção de um minuto de vídeo”, conta ele, que elaborou um roteiro sobre sua trajetória e gravou vários takes durante o processo. “Desde então, minha admiração por atores e atrizes duplicou de tamanho”, brinca ele.
A partir daí, o processo se desdobra em entrevistas, ora presenciais, ora por plataformas como Hangouts e Skype. Depois da entrevista de competências, o candidato recebe o convite para o painel com ex-bolsistas, mais uma rodada de perguntas sobre suas conquistas e planos. Nas palavras do estudante Diego Rodrigues, essa etapa significa um “divisor de águas”. “Você tem que responder as perguntas em tempo real, não pode hesitar”, descreve o bolsista, que hoje estuda em Grenoble, na França. Entre as perguntas feitas, estão questões sobre planos a curto, médio e longo prazo. “Tinha que ter tudo muito fresco na cabeça e explicar como isso vai ajudar e contribuir com o país”.
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Para Bruno Guidi Marcolini, que hoje faz seu MBA em Harvard, essa etapa é a mais desafiadora, já que o perfil dos ex-bolsistas é variado. “Esteja preparado para explorar os aspectos econômicos, sociais, políticos e técnicos de suas ideias”, aconselha ele.
Para Diego, as perguntas sobre o passado do candidato parecem mais fáceis, em comparação com as questões sobre seus planos. “Para falar de algo passado, basta recontar as histórias, fica muito mais simples”, explica ele. Já quando o assunto se volta aos planos, a tarefa muda de figura. “É preciso pensar diversos aspectos, entender como os planos se encaixam em um contexto nacional, em como você pode ajudar o seu país”.
A última etapa, realizada junto aos membros do conselho da Fundação Estudar, exige também preparação para perguntas – e coerência com a trajetória narrada até então. Em meio às etapas para contar uma boa história, há um erro comum que precisa ser evitado. “Para mim, o erro mais comum é se vender mais do que é ou do que entregou”, sintetiza Leonardo Gomes.
Valores dos Líderes Estudar
Mais do que selecionar candidatos que apresentem um mega currículo, a Fundação Estudar busca gente que compartilhe ideais e valores. Em outras palavras, profissionais e estudantes dispostos a melhorar o Brasil e que apresentem características como foco e conhecimento aplicado.
O brasileiro Bruno Guidi Marcolini, selecionado pelo programa de Líderes Estudar e que hoje estuda em Harvard, dá dicas para demonstrar um dos valores-chave no processo seletivo: o conhecimento aplicado. “Lembre-se que milhares de pessoas vão participar desse processo e suas chances de se destacar aumentam quando tem sua história associada a algo único e concreto”, sintetiza ele, que recomenda aos candidatos buscar pontos em que vão ancorar sua trajetória.
Para demonstrar foco e contar uma história que faça sentido aos avaliadores, portanto, o caminho é refletir sobre os pontos principais a destacar. “O candidato precisa estar pronto para contar os detalhes de cada uma de suas conquistas, como estão conectadas e como ajudaram o candidato a se desenvolver”, destaca André Mendes, que faz o PhD na New York University, nos Estados Unidos. Em outras palavras, nada de se “perder” ao contar todos os detalhes de todas as conquistas, sem traçar os pontos-comuns. Afinal, o que vale como regra é contar uma boa história.