A mineira Letícia Bittencourt decidiu se candidatar ao mestrado no exterior logo depois de se formar em Direito. Desde 2013, ela havia estabelecido como meta conseguir uma bolsa Chevening. E, logo depois de colar grau, resolveu arriscar pela primeira vez. “A gente nunca acha que está pronto para aplicar”, ressalta a mineira, que nasceu na cidade de Muriaé, e mudou-se para Belo Horizonte. No caso dela, a tentativa deu certo, e ela agora se prepara para viajar a Londres.
Letícia estudará Direitos Humanos na Queen Mary University of London, no Reino Unido. Formada pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, a PUC-Minas, ela pretende conciliar o interesse no assunto com a paixão pelo Direito do Trabalho. Durante o mestrado, ela planeja estudar questões ligadas à escravidão contemporânea e aproveitar as oportunidades na capital britânica. “Eu acredito que vou vivenciar um mundo de oportunidades, como a possibilidade de fazer estágios de verão”, conta ela. Como Letícia explica, a mais antiga organização não-governamental que combate a escravidão, a Anti-Slavery International, surgiu na cidade.
Essa não é a primeira experiência no exterior vivida pela brasileira. Em 2015, com apoio do Departamento de Estado americano, participou do curso “Study of the United States Institutes for Student Leaders” e estudou History, Law & Government por um mês. No ano seguinte, em 2016, embarcou para três semanas na China com apoio do programa Top China, do Banco Santander.
Como se preparar para as bolsas Chevening
Um dos pontos essenciais destacados pela brasileira tem a ver com a longa preparação necessária para o processo seletivo: montar um cronograma. “Passei três meses trabalhando na application. Chegava à noite em casa, ou durante os fins de semana, e focava nisso”, detalha a mineira. Simultaneamente, ela dava conta das candidaturas para as universidades britânicas. “Como são processos bem parecidos, é plenamente fazer os dois em paralelo, se você se planejar”.
Letícia também recorreu aos bolsistas de anos passados para pedir dicas. “Mesmo quando estava na graduação e não era ainda elegível, eu acompanhava os editais, adicionava os bolsistas no Facebook e conversava sobre esse meu sonho”, explica ela, que pedia também dicas sobre o processo.
Quais as etapas mais difíceis para conseguir uma bolsa Chevening
O processo seletivo tem traços em comum com muitos editais, como a exigência de testes de fluência em inglês, a exemplo do IELTS. Também é necessário enviar diplomas, certificados e detalhar a própria trajetória educacional, além de deixar claro o porquê de querer estudar no Reino Unido.
Por outro lado, alguns itens da candidatura chamam a atenção: as experiências de liderança e a capacidade de networking. Durante a candidatura, o estudante deve escrever sobre tais temas, assim como seu plano de carreira e o porquê de ter escolhido as universidades britânicas. Tudo isso falando muito de si mesmo e da própria trajetória. “Nós brasileiros temos muita dificuldade de falar nas nossas conquistas, não é algo que estamos acostumados a fazer”, reconhece Letícia.
Encontrou uma saída ao copiar as quatro questões e trabalhar nelas por meses. “No começo, eu anotei em um documento tudo que me vinha à cabeça para cada pergunta, em português. Aí reli várias vezes, selecionei e cortei o texto, e só depois passei para o inglês”, detalha a estudante mineira.
De início, estruturar as respostas foi um desafio. Isso porque conceitos como “liderança” e “networking” pareciam abstratos — o que dificultava ainda mais a tarefa de escrever sobre eles. Em matéria de liderança, Letícia aconselha elencar experiências que demonstrem proatividade. “Pense nas situações em que tomou frente, em que se voluntariou a assumir uma responsabilidade”, indica ela. A partir daí, é possível relacionar a experiência com capacidades como resolução de problemas, oratória e, claro, networking.
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Uma boa application conta uma boa história
Mais do que ter conquistas excepcionais ou falar vários idiomas, o processo seletivo privilegia quem consegue contar bem a sua própria trajetória. E isso significa, além de responder bem às perguntas da candidatura, elencar elementos que complementem essa narrativa, como cartas de recomendação. “O ideal é escolher alguém que conheça sua performance acadêmica e profissional, que saiba como você trabalha”, explica Letícia. “Quem vai escrever a carta tem que capturar a sua essência e ajudar a vender o seu peixe, já que você está passando a bola para outra pessoa”.
Para além dessas cartas, pedir ajuda a outras pessoas pode ser bem-vindo em outras etapas. Ao escrever uma resposta, por exemplo, vale pedir a opinião de um amigo sobre o texto. No caso de Letícia, isso significou falar com amigos que conhecera nos Estados Unidos. “Eles me davam dicas, diziam se o texto estava claro, e sugeriam como falar o que eu queria de uma forma diferente, mais atrativa”, conta.
Também vale pedir ajuda para treinar conversas em inglês. Isso porque, para conseguir uma bolsa Chevening, é necessário também ser aprovado na fase de entrevistas. “Para isso, o candidato tem que estudar bem a própria application”, opina Letícia, que destaca a coerência entre o que está “no papel” e o que o aluno apresenta na hora agá da entrevista. “Eu treinava sozinha, falava de frente para o espelho, debaixo do chuveiro”, conta a brasileira.
Ela destaca que não é preciso ter um mega-currículo para se sair bem no processo. “Ter um nome já consolidado no mercado não é definitivo e a idade do candidato não serve como critério eliminatório”.