Concentração: o que é, como melhorar a sua e quais transtornos podem atrapalhar
Para quem estuda, a capacidade de se concentrar é fundamental. Mas apesar de ser importante, manter a concentração nem sempre é fácil — qualquer um que já precisou estudar um monte na véspera de uma prova sabe bem disso.
E agora durante a pandemia, com a mudança das aulas para a modalidade EAD, muitas pessoas tem encontrado dificuldade em se concentrar. Afinal, assistir às aulas fica maisdifícil quando WhatsApp, YouTube e redes sociais estão a apenas algumas abas de distância.
Por isso, conversamos com a psiquiatra de crianças e adolescentes Beatriz Ravagnani para entender melhor o que é concentração, como podemos melhorar a nossa capacidade de manter o foco, e quais transtornos podem atrapalhar essa capacidade. Confira:
O que é a concentração humana?
De acordo com Beatriz, para explicar a concentração, é mais fácil começar pela atenção. A atenção é considerada uma função cognitiva, assim como a memória ou o afeto. “Ela é complexa, envolve diversos processos para filtrar e balancear as informações que a gente recebe do mundo”, comenta.
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Há duas formas de atenção que são estudadas: a atenção passiva e a ativa. A atenção passiva é espontânea e involuntária, e tem mais a ver com uma consciência dos nossos arredores. “Se o seu irmão toca uma buzina do seu lado, você olha, é espontâneo”, exemplifica.
Já a atenção ativa é o que chamamos de concentração: uma atenção voluntária, direcionada, e que depende de um esforço mental para ser mantida. Segundo Beatriz, esse esforço envolve “selecionar informações, focar naquilo que é importante num determinado momento, e também inibir pensamentos ou ações que atrapalhariam a tarefa”.
Pode não parecer, mas às vezes a concentração realmente exige um grande esforço. “Por exemplo: você está resolvendo um problema difícil de matemática. Ao mesmo tempo, o seu celular está vibrando, você pensa que preferiria estar olhando o TikTok, e ao fundo tem o barulho de uma festa na casa do seu vizinho. E mesmo assim, você continua”, cita Beatriz.
Quais fatores afetam a nossa concentração?
A partir dessa definição, já é possível perceber algumas coisas sobre a concentração que podem nos ajudar a melhorá-la. Ela envolve tanto o esforço de destacar informações que são importantes quanto de excluir as que não são. Portanto, já dá para imaginar: quanto mais evidentes forem as informações importantes, e quanto menos informações não-importantes tivermos que excluir, menor será o esforço de se concentrar.
Em outras palavras, é mais fácil ler um livro bem diagramado, com letras grandes e frases claras, do que um livro velho, empoeirado e pouco legível, com frases longas e complexas. Ou ainda: é mais fácila companhar a aula por EAD se a sua conexão está boa e o áudio e a imagem estão claros. É dessa maneira que destacar as informações importantes pode ajudar: o esforço de decodificá-las se torna menor.
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Ao mesmo tempo, nossa concentração também é afetada pela quantidade de “ruído” ao nosso redor. E como Beatriz ressalta, esse ruído não vem só do ambiente externo — ainda que fatores como o seu celular vibrando ou seu vizinho dando uma festa obviamente prejudiquem sua capacidade de resolver um problema de matemática.
Há também o ruído que vem de “dentro”, ou o seu “ambiente interno“: a sua vontade de olhar o TikTok ou outras preocupações que você pode ter naquele momento. “Se você estiver com fome, vai ser mais difícil se concentrar, por exemplo”, comenta Beatriz. E para melhorar a concentração, é preciso diminuir essas duas fontes de distrações.
Como melhorar nossa concentração?
Para esse fim, Beatriz oferece uma série de recomendações que podem ajudar. São recomendações tanto para melhorar o seu ambiente externo quanto o seu ambiente interno para a concentração.
Com relação ao ambiente externo, as recomendações envolvem, de maneira geral, criar um ambiente tranquilo, reduzir estímulos externos e deixar o espaço mais agradável. Isso é o essencial, e as recomendações a seguir geralmente cumprem esse objetivo. Mas sabendo disso, você talvez consiga pensar em outras que sejam mais adequadas para você.
Algumas dicas para melhorar sua concentração:
- Ficar sozinho no ambiente;
- Fechar a porta do seu quarto, e usar uma plaquinha de “não perturbe” para avisar outras pessoas que morem com você que você está concentrado;
- Se não tiver um espaço só para você, usar fones de ouvido para bloquear ruídos externos;
- Desligar a TV;
- Deixar o celular em outra sala, para evitar que ele te distraia;
- Na aula, sentar na primeira fileira para reduzir as distrações;
- Experimentar ouvir música (“para algumas pessoas ajuda, mas para outras atrapalha”, comenta Beatriz).
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Ao mesmo tempo, é importante tentar criar um ambiente interno tranquilo. E para isso, algumas dicas são:
- Ter uma rotina;
- Fazer atividades físicas;
- Manter contato regular com amigos;
- Ver a luz do sol (Beatriz explica que a luz do sol regula o nosso hormônio do sono, a melatonina, e por isso ficar sem exposição a ela pode prejudicar a concentração);
- Fazer uma lista de tarefas e ir marcando o que já fez;
- Concentrar-se em uma atividade por vez;
- Praticar meditação ou mindfullness — técnicas que ajudam a focar no momento presente e podem ajudar na concentração.
Mas aqui também vale lembrar: embora essas dicas funcionem de maneira geral, o importante é entender o objetivo delas, que é criar um ambiente interno tranquilo. Isso signfica, de modo geral, eliminar outras preocupações e pensamentos durante o momento em que você precisa se concentrar. Com isso em mente, você talvez consiga pensar em outras medidas que funcionem para você!
E quando nada funciona?
Há transtornos psiquiátricos que podem atrapalhar nossa capacidade de concentração. Mas antes de falar deles, Beatriz acha importante frisar que mesmo que você não esteja conseguindo se concentrar, isso não significa que você sofre de algum deles. “Todo mundo tem dias mais desatentos, e isso nem sempre indica que a gente precisa de tratamento”, reforça.
A pandemia de COVID-19 é um bom exemplo disso, segundo ela. “Para muitas pessoas, a preocupação com o vírus, com a família e as mudanças de hábito podem influenciar a concentração”, coloca. E a mudança das aulas presenciais para a modalidade EAD também pode fazer diferença, já que o aluno deixa de estudar num ambiente propício para aulas e passa a estudar na própria casa, que nem sempre é o lugar mais adequado.
Mas em alguns casos, se a dificuldade de se concentrar não passa, isso pode ser sintoma de um transtorno psiquiátrico. O mais comum é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, ou TDAH. “Na infância é um dos mais comuns, e pode se estender até a vida adulta. Cada pessoa expressa de uma forma, mas em geral ela tem dificuldade de prestar atenção, de controlar comportamentos impulsivas, e é mais agitada”, comenta Beatriz.
Dificuldade de se concentrar, portanto, não indica necessariamente que a pessoa tem TDAH. Pode ser um sintoma de outro transtorno, como depressão, por exemplo — que segundo Beatriz é um dos transtornos mais comuns. Ela se caracteriza por fadiga, insônia, tristeza, alterações de apetite, perda de interesse em atividades de que gostava e, também, por dificuldade de concentração.
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Ansiedade também pode afetar nossa capacidade de concentração. Em uma medida pequena, ela não é necessariamente ruim — ficar um pouco ansioso para uma prova pode te motivar a estudar, por exemplo. “Mas se você fica preocupado demais, aí isso acaba atrapalhando os estudos, porque você nem consegue focar”, comenta considera.
Finalmente, o uso de substâncias psicoativas (como álcool ou maconha) também afeta a concentração. Segundo Beatriz, quem usa substâncias desse tipo com muita frequência pode, no longo prazo, ter problemas de concentração.
Como saber se eu preciso de ajuda?
No caso de todos esses transtornos, é importante procurar ajuda de um profissional de saúde para o tratamento. Mas como saber se o que eu tenho é um transtorno ou só uma falta de concentração temporária?
De acordo com Beatriz, “você deve buscar ajuda quando percebe que essa dificuldade de concentração, ou sintomas associados, estão prejudicando muito no seu dia a dia”. Ou seja: se esses sintomas estiverem causando problemas na sua vida escolar, no seu trabalho ou em seus relacionamentos, pode ser o caso de buscar ajuda profissional.