Por Lecticia Maggi
Anualmente, a Universidade Harvard, a mais prestigiada do mundo, atrai milhares de candidatos. Pouquíssimos, no entanto, conseguem uma vaga. Neste ano, dos 37.305 aplicantes para a graduação, somente 1.990 foram aprovados (5,3% do total). O que esses alunos têm de diferente dos demais?
O Estudar Fora foi descobrir e conversou com 9 brasileiros que estudam na instituição. Nas entrevistas a seguir, eles combatem a ideia de genialidade, mas mostram que que nunca se limitaram a somente assistir aulas na escola. Com suas próprias palavras, eles contam quem são e por que consideram que foram aceitos em Harvard:
Tábata de Pontes, de 21 anos, de São Paulo
Estuda Ciências Políticas e Astrofísica/ Previsão de formação: 2018
“Sempre tive sonhos bem grandes e nunca tive vergonha de falar deles, por mais inalcançáveis que parecessem.”
Quem é você?
“Estudei boa parte da vida em escolas públicas até que recebi uma bolsa para completar meus estudos na rede privada. Já representei o Brasil em cinco olimpíadas científicas internacionais. Sou co-fundadora do Projeto VOA!, que prepara alunos de escolas públicas para olimpíadas científicas, e do Movimento Mapa Educação, que visa representar as crianças e jovens brasileiros no debate nacional sobre educação. Adoro dança e livros, além de fazer trilha, andar de bicicleta e viajar.”
Por que acredita que foi aprovada em Harvard?
Acho que a minha vontade de transformar o Brasil contou muito
“Acho que foram duas razões principais: a primeira é que sempre tive sonhos bem grandes e nunca tive vergonha de falar deles, por mais inalcançáveis que parecessem. Quando estava na 7ª série, não falava nada de inglês e não tinha um ‘tostão’, e decidi que estudaria nos EUA e representaria o Brasil em uma olimpíada internacional. Deu certo. Agora, quero fazer com que o Brasil tenha a melhor educação do mundo. A segunda é que sempre me esforcei para concretizar as minhas paixões e começar a realizar os meus sonhos aos pouquinhos. Por exemplo, co-fundei o Projeto VOA e o Movimento Mapa Educação, que são um primeiro passo, ainda que pequeno, para melhorar a educação do Brasil. Acho que a minha vontade vontade de transformar o Brasil contou muito”.
Eduardo Miranda Cesar, de 19 anos, do Espírito Santo
Estuda Psicologia e Economia/ Previsão de formação: 2018
“Acho que a minha application (candidatura) deu certo porque eu fui autêntico e não tentei ‘agradar’ os admissions officers sendo alguém que eu não era.”
Quem é você?
“Estudei o ensino médio no Colégio Militar e liderei o time de Modelo da Nações Unidas em conferências nacionais e internacionais. Adoro viajar e tenho interesse por educação, música, trabalho voluntário, dança e design gráfico. Nas horas vagas, finjo que sei tocar violão. Sou o atual co-presidente da Harvard Undergraduate Brazilian Association (HUBA), associação de estudantes brasileiros em Harvard. Durante os próximos meses, farei um estágio na prefeitura de São Paulo.”
Meu personal statement (redação mais importante do processo) foi sobre lições que aprendi ficando preso diariamente em engarrafamentos
Por que acredita que foi aprovado em Harvard?
“Se tivesse que arriscar, diria que minha application (candidatura) deu certo porque eu fui autêntico e não tentei ‘agradar’ os admissions officers sendo alguém que eu não era. Muita gente extremamente talentosa compromete a qualidade da application tentando transmitir o ‘perfil perfeito’, por vezes escrevendo redações clichês ou listando atividades extracurriculares que não refletem seus reais interesses. Por exemplo, meu personal statement (redação mais importante do processo de candidatura) poderia ter sido sobre algo como trabalho voluntário ou olimpíadas científicas, mas esses são temas abordados por muitos outros candidatos. Eu queria um tópico original e que dissesse muito sobre mim. Acabei escrevendo sobre lições que aprendi ficando preso diariamente em engarrafamentos no caminho do colégio para casa, uma parte surpreendentemente importante da minha rotina de ensino médio.”
Deborah Barbosa Alves, de 22 anos, de São Paulo
Está se formando em Ciência da Computação e Matemática neste ano
“Sempre tive interesse por diversas áreas. Além de representar o Brasil em Olímpidas, dei aula em projeto voluntário, fiz aulas de violão, cantei em coral…”
Quem é você?
“Sou apaixonada por matemática e tecnologia, mas também tenho grande interesse e fiz vários cursos na área de Artes Visuais. Durante o ensino médio, representei o Brasil em diversas olimpíadas internacionais de matemática. Durante a universidade, organizei eventos e conferências com o objetivo de discutir assuntos como política, economia e empreendedorismo no Brasil. Em setembro, me juntarei ao time de engenheiros de software do Quora, empresa de tecnologia localizada no Vale do Silício, na Califórnia.”
Por que acredita que foi aprovada em Harvard?
O que eu vejo na maioria das pessoas que estudam aqui é que todas são muito apaixonadas pelo que fazem
“O que eu vejo na maioria das pessoas que estudam aqui é que todas são muito apaixonadas pelo que fazem, e tem interesses bem diversos. No meu caso, provavelmente meu ponto mais forte foi a minha dedicação às olimpíadas de matemática. Porém, também sempre tive interesse por diversas outras áreas. Dei aula em um projeto voluntário, fiz aulas de violão, cantei em coral, pratiquei handebol, futebol e judô, participava em clubes de cinema do colégio, entre outras coisas. Sempre me mantive aberta a novas experiências, tanto antes de vir para cá, quanto durante a universidade. Como o processo de seleção das universidades americanas é bem holístico, nós temos a oportunidade de mostrar esses diversos lados da nossa personalidade.”
João Vogel, de 21 anos, do Rio de Janeiro
Estuda Sociologia, Economia e Francês /Previsão de formação: 2016
“Acredito que o essencial foi acreditar em mim mesmo até o fim; acreditar que eu era capaz de passar mesmo sabendo que existem milhares de jovens mais brilhantes que eu.”
Quem é você?
“Sou natual do Rio, fui eleito por dois anos consecutivos co-presidente da Harvard Undergraduate Brazilian Association (HUBA) e também co-fundador da I Brazilian Undergraduate Student Conference (BrazUSC), a 1ª conferência de alunos brasileiros de graduação que estudam nos Estados Unidos. Hoje, sou vice-presidente da Brazilian Student Association (BRASA), comunidade de estudantes brasileiros no exterior. Meu grande sonho é impactar a gestão do setor público brasileiro.”
Por que acredita que foi aprovado em Harvard?
“Acredito que o essencial foi acreditar em mim mesmo até o fim; acreditar que eu era capaz de passar mesmo sabendo que existem milhares de jovens mais brilhantes que eu. Tenho certeza de que havia brasileiros mais inteligentes que eu, com mais premiações acadêmicas e até com um nível de proficiência em inglês melhor. Mas como o processo é bem holístico, acredito que ter só uma dessas habilidades super desenvolvida não é o suficiente, e é nesse ponto que acho que me destaquei, por ter adquirido o conjunto de habilidades que me equipavam para estudar lá: ter o inglês fluente, bom histórico acadêmico e dedicação à diversas atividades extracurriculares.”
Lucas Conti, de 19 anos, de São Paulo (SP)
Estuda Biologia e Bioquímica/ Previsão de formação: 2018
” O fato de ter me mudado para os EUA em 2007, sem falar inglês direito e sem saber a cultura do país, e mesmo assim ter ido melhor na escola do que os próprios americanos, contaram pontos.”
Quem é você?
“Amo ciências e meu objetivo é ajudar o máximo de pessoas por meio de pesquisas na área de saúde. Em 2007, me mudei para os EUA com minha família e estudei em escolas públicas até ser aceito em Harvard. Adoro jogar futebol, basquete, tocar violão e cantar. Em Harvard, entre outras atividades, faço parte da associação de estudantes brasileiros, toco percussão na banda da universidade e sou voluntário com a organização Youth2Youth, que cria abrigos para jovens sem casa.”
Por que acredita que foi aprovado em Harvard?
Publiquei uma pesquisa que fiz com o genoma da planta Landoltia punctata no meu quarto ano de high school nos EUA
“Acredito que entrei em Harvard pelo fato de ter conquistas em diversas áreas acadêmicas, esportivas e científicas, ao contrário de vários candidatos, que têm triunfos em uma área específica. Sempre tive notas altas na escola e fui muito bem no SAT. Além disso, publiquei uma pesquisa que fiz com o genoma da planta Landoltia punctata no meu quarto ano de high school nos EUA. Nesta pesquisa, achei proteínas produzidas por essa planta que poderiam ser usadas na área de biocombustíveis e biorremediação. Fora da área acadêmica, recebi prêmios de liderança em conferencias e presidiei vários clubes e organizações. Joguei futebol e fiz wrestling (um tipo de luta romana) pela minha escola, e também desenvolvi um aplicativo para android para o meu time de futebol. Acho que o fato de ter me mudado para os EUA em 2007, sem falar inglês direito e sem saber a cultura do país, e mesmo assim ter ido melhor na escola do que os próprios americanos, contaram pontos.”
Victoria de Quadros, de 20 anos, de Rio Grande do Sul
Estuda Matemática aplicada à Economia / Previsão de formação: 2017
“Mostrei para Harvard que eu realmente queria estar lá, que me esforcei muito para fazer isso acontecer e que valorizaria e aproveitaria a oportunidade.”
Quem é você?
“Sou alguém que sonha em reduzir a pobreza mundial e ajudar a garantir os direitos básicos a todos os cidadãos. Estudei no Colégio Militar de Porto Alegre e tenho interesse especialmente em macroeconomia financeira e economia do desenvolvimento. Espero alcançar algum cargo de liderança em instituições filantrópicas, como a Bill and Melinda Gates Foundation, ou em instituições de fomento ao desenvolvimento, como o Banco Mundial.”
Por que acredita que foi aprovada em Harvard?
“Um conjunto de conquistas, experiências e qualidades pessoais diferenciou a minha candidatura. Ajudei a organizar a primeira simulação da ONU para alunos do ensino médio do Rio Grande do Sul, participei de vários Modelos das Nações Unidas, também era bolsista de Iniciação Científica do CNPq… Milhares de candidatos devem ter tido notas no SAT mais altas do que as minhas e outras estatísticas fortes. No entanto, a universidade quer aceitar aquelas pessoas que aproveitaram suas oportunidades (por maiores ou menores que elas fossem) e fizeram o máximo que podiam dadas as restrições. Além de ter um currículo e um desempenho acadêmico bons, mostrei para Harvard que eu realmente queria estar lá, que me esforcei muito para fazer isso acontecer, e que valorizaria e aproveitaria a oportunidade.”
Henrique Vaz, de 19 anos, São Paulo
Estuda Ciência da Computação e Economia/ Previsão de formação: 2018
“Durante o ensino fundamental e médio, participei de Olimpíadas Culturais, tendo obtido mais de 30 premiações.”
Quem é você?
“Sou muito ligado à música, cantei no coral da escola por 3 anos e mantive uma banda com amigos. Durante o ensino fundamental e médio, participei de Olimpíadas Culturais, tendo obtido mais de 30 premiações. Em 2010, juntei um grupo de amigos para dar aulas de preparação para Olimpíadas de Matemática, Português e Astronomia para alunos de escola pública. Disso nasceu o Projeto VOA!, que está na sua quinta edição e já impactou mais de 1200 alunos.”
Por que acredita que foi aprovado em Harvard?
“Além de ter feito o mínimo necessário (boas notas tanto na escola quanto nas provas exigidas TOEFL e SAT), acho que sempre me engajei com muita vontade em todas as atividades que fazia. Os meus professores do ensino médio, que me conhecem muito bem, fizeram cartas de recomendação excepcionais.”
Larissa Maranhão Rocha, de 20 anos, de Alagoas
Estuda Economia/ Previsão de formação: 2017
“Em 2011, após tirar 1000 pontos (a nota máxima) na redação do Enem, criei o Projeto RED, uma iniciativa focada na preparação para a redação da prova.”
Quem é você?
“Em Harvard, além de estudar Economia, sou líder de torcida e membro do time de Debate. Em 2011, após tirar 1000 pontos (a nota máxima) na redação do Enem, criei o “Projeto RED”, uma iniciativa focada na preparação para a redação da prova. Em 2012, fui vencedora do Prêmio Jovens Inspiradores, organizado então pela Fundação Estudar e a revista VEJA. Sonho em conduzir uma empresa para o top 10 na lista de Market Cap e também causar um impacto significativo na educação brasileira.”
Por que acredita que foi aprovada em Harvard?
Eles procuram pessoas que têm vontade e potencial de fazerem do mundo um lugar melhor um dia
As pessoas sempre me perguntam qual a fórmula para entrar em Harvard. A verdade é que não existe uma fórmula exata. Todos os anos Harvard recebe um número de alunos que gabaritaram a prova do SAT maior do que a quantidade de vagas que oferecem. O que eles querem mesmo, pelo menos de acordo com o que eu já notei pelo perfil de amigos que tenho lá, são pessoas que tenham um bom conhecimento geral, mas também uma paixão muito grande por alguma área ou assunto específico. E não precisa ser necessariamente uma área acadêmica. Conheço muita gente lá que se destacou no mundo da música, debate, esportes e até culinária. Além disso, eles procuram pessoas que têm vontade e potencial de fazerem do mundo um lugar melhor um dia. No meu caso, acho que a minha vontade de fazer alguma coisa de impacto para o estado de Alagoas e para o Brasil como um todo transpareceu bastante no meu application através das minhas redações e da minha experiência com o projeto Enem RED.”
Especialistas de Harvard dão dicas para sua aprovação
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