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Da Somália à Universidade Harvard

Redação do Estudar Fora - 13/10/2015
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Dentre os milhares de jovens de todo o mundo que começaram a ter aulas na Universidade Harvard, nos EUA, neste ano, um dos mais improváveis é Abdisamad Adan, de 21 anos. Parte dos 18 irmãos de Abdisamad é analfabeta e os demais não concluíram o ensino fundamental. Ele foi criado sem eletricidade e água encanada por uma avó analfabeta em um país que não existe oficialmente. E chegou à mais prestigiada universidade do mundo.

Abdisamad é de Somalilândia, uma república separatista que não é reconhecida por nenhum outro país (e, portanto, não têm sequer embaixada dos Estados Unidos). Ele estudava a luz de velas e é, provalmente, a única pessoa em Harvard que sabe ordenhar camelos. Segundo o escritório de admissões da universidade, não se tem conhecimento de outro estudante da região da Somália na instituição nos últimos 30 anos. Sua incrível história foi contada pelo jornal The New York Times.

O jovem reconhece que poderia ser hoje mais um dos milhares de imigrantes que tentam chegar à Europa, fugindo de guerras e da miséria. O fato dele estar agora em Harvard e não em uma embarcação precária no meio do oceano se deve, sem sombra de dúvidas, ao seu próprio talento, mas também a um magnata americano que se mudou para Somalilândia e criou uma escola para crianças brilhantes que, de outra forma, não teriam qualquer oportunidade.

O financista Jonathan Starr tinha uma tia que se casou com um homem de Somalilândia, e ficou encantado com histórias sobre seus desertos e nômades. Em 2008, fez o que muitos de seus amigos acharam uma grande loucura: fundou um colégio interno em língua inglesa para crianças de alto potencial na região.

A chamada Escola Abaarso de Ciência e Tecnologia tem professores norte-americanos, é cercada por altos muros e tem em sua entrada guardas armados para frustrar ataques de rebeldes. Foi nesse lugar que Abdisamad se desenvolveu.

Ele contou ao jornal The New York Times que seus pais se divorciaram antes dele nascer e sua avó analfabeta o criou. Diariamente, ele gastava cerca de duas horas para buscar água e, mesmo sem qualquer tipo de incentivo aos estudos, nos exames nacionais da 8ª série conseguiu a segunda maior nota nacional.

Contudo, seus estudos estavam fadados a parar por ali. Isso porque enquanto uma escola de ensino fundamental custava apenas US$ 1 por mês, um bom ensino médio custaria pelo menos US$ 40. Sua avó não podia pagar isso e também não enxergava necessidade dele ir além, já que ninguém de sua família tinha completado o ensino médio.

Felizmente, Abdisamad foi aceito na escola Abaarso, que é flexível em relação à cobrança de taxas – quem pode, paga e quem não tem condições, não. De cara, ele teve que enfrentar dois grandes desafios: ter aulas em inglês, que não sabia nada; e lidar com o descontentamento da avó, que achava que ele estava traindo a família, gastando seu tempo estudando em vez de ajudando em casa.

“Ela, definitivamente, não estava feliz no início”, lembra Abdisamad. “Ela me perguntou: ‘você está começando a nos odiar? Está se apaixonando por americanos?'”.

Mas ele persistiu. Aprendeu inglês, continou a ter notas boas e três anos depois ganhou uma bolsa de estudos para uma escola preparatória para a faculdade, em Nova York. A partir daí, não é difícil imaginar o restante da história: Abdisamad aplicou para Harvard e… Foi aceito.

Sua admissão foi tratada como uma causa nacional de celebração em Somalilândia e ele virou uma espécie de herói local, sendo convidado inclusive para uma reunião com o presidente. Sua avó, que nunca tinha ouvido falar da universidade, disse estar orgulhosa do neto.

Em sua 1ª semana de orientação em Harvard, o jovem conta que estranhou os conteúdos abordados: “Eles nos falaram de coisas que nunca foram citadas em casa, como assédio sexual, uso de perservativos… Foi tudo muito interessante”, disse.

Abdisamad está no 1º ano da graduação, mas já faz planos para sua carreira: quer voltar à Somalilândia e trabalhar com jovens, atuar na política e, quem sabe um dia, ser presidente.

*Foto: Abdisamad Adan / Crédito: reprodução do The New York Times, fotógrafa Kayana Szmczak 

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