No dia 8 de agosto de 2016, desembarquei em Montréal carregando 160kg de sonhos, dúvidas e aflições.
Graduada em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Filadélfia (UniFil), de Londrina, e com um mestrado na mesma área pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), sempre estive em busca de uma experiência acadêmica internacional. No doutorado, há programas de incentivo à pesquisa, como o da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior), mas os recursos destinados à minha universidade sofreram cortes, o que dificultou meus planos.
Foi, então, que decidi bater na porta da Université de Montréal, no Canadá. A escolha foi um tanto pessoal. Eu e meu esposo já pensávamos em ir para fora, e Montréal parecia uma excelente opção, pois oferece uma ótima qualidade de vida, uma atmosfera multicultural e funciona em duas línguas (francês e inglês). No início, tive receio, pois julgava quase impossível conseguir uma bolsa da própria universidade ou do governo canadense, mas ao longo do processo as coisas foram se mostrando mais simples (ou menos complicadas) do que pareciam.
Rumo ao doutorado no Canadá
Meu primeiro passo foi escolher, no site da faculdade, um professor que se encaixasse em meu perfil de pesquisa e, então, escrever um e-mail de apresentação. Menos de 24 horas depois, eu já havia obtido uma resposta positiva do professor que, mais tarde, se tornaria meu orientador. Três meses após efetuar minha candidatura – que envolve sobretudo a análise do dossiê acadêmico e do projeto de pesquisa (todos traduzidos para o francês) – recebi o e-mail tão esperado:
“Estou feliz em te escrever para te dizer que sua candidatura foi muito bem aceita pelo comitê de estudos superiores da faculdade”.
Na mesma semana, participei de uma entrevista por Skype, em que recebi a excelente notícia de que havia sido selecionada para a bolsa de isenção de taxas destinada aos alunos internacionais. Ou seja, pagaria a universidade como todo estudante local. Em resumo, seriam praticamente 6 mil dólares canadenses de desconto por trimestre.
Adaptação na universidade
Meu primeiro trimestre na Université de Montréal foi, ao mesmo tempo, agonizante e incrível. Agonizante porque, embora eu tivesse estudado francês antes de chegar a Montreal, participar das aulas, das discussões em grupo e escrever relatórios de pesquisa não se parecia muito com pedir um croissant na boulangerie dizendo “bonjour, madame”.
Muitas vezes, me senti frustrada por não ser capaz de expressar minhas ideias à altura do que gostaria. Por outro lado, eu estava estudando numa das maiores universidades do mundo, que possui uma grande estrutura de laboratórios, rede de bibliotecas, professores acessíveis e um excelente sistema de apoio ao estudante recém-chegado. Este suporte da universidade foi essencial à minha adaptação, sobretudo quanto ao idioma.
Participei de diversas oficinas de gramática e dicas de francês, de um grupo de conversação, de um curso de dicção e daquilo que julgo o mais importante: uma tutoria em francês. Todas estas atividades são oferecidas aos alunos por um custo acessível, e algumas são, inclusive, gratuitas. Em três meses, o nível do meu francês avançou muito, sendo notado pelos meus professores e colegas. E isso me deixou bastante feliz e confiante para participar das aulas e até mesmo para enviar meus trabalhos aos professores sem precisar passar por uma revisão profissional (o que demanda tempo e dinheiro).
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Meu orientador também sempre me abriu muitas portas. Desde o primeiro trimestre, ele me convidou para ser auxiliar de ensino em suas disciplinas na graduação e no mestrado. Este contato com os alunos também me ajudou a desenvolver minha comunicação em francês – além, é claro, de contribuir para meu currículo. Com o tempo e a melhora do francês, fui ganhando mais autonomia e responsabilidade em suas disciplinas, chegando a ser a encarregada pelas aulas práticas.
Se você, assim como eu, tem o sonho de estudar fora do Brasil, saiba que há várias oportunidades e possibilidades. Nós, brasileiros, somos muito bem-vindos e bem vistos na Université de Montréal e nos destacamos pela competência, senso crítico e força de vontade. A Université de Montréal tem sido muito acolhedora e me fornece diversas ferramentas para que eu possa alcançar, com sucesso, meus objetivos profissionais e pessoais.
Sobre a autora
Amanda Carvalho é mestra em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e doutoranda em Aménagement na Escola de Urbanismo da Université de Montréal. É represente dos estudantes do Centre de Recherche sur les Innnovations Sociales (CRISES).
* Foto: Universidade de Montréal / Crédito: Laurent Bélanger Wikimedia Commons