A pandemia do COVID-19 afetou diversas instituições, incluindo as universidades estrangeiras. Muitas delas cancelaram suas aulas presenciais, orientaram seus estudantes a saírem do campus e suspenderam temporariamente todos os eventos que reuniam grandes números de pessoas. Mesmo com essa situação, estudantes brasileiros relatam que as instituições tomaram medidas específicas para garantir sua saúde e segurança.
Diego Alves, que está fazendo doutorado em neurociência na Universidade de Grenoble Alpes, conta que mesmo antes da declaração de pandemia, alguns professores já se programaram e começaram a dar aulas remotamente. “Hoje todo mundo do laboratório faz teletrabalho, e quem precisa fazer experimentos ou ir ao laboratório por alguma razão pede uma autorização escrita ao seu chefe e consegue entrar só nas terças e quintas”.
De acordo com Diego, a instituição está oferecendo quatro níveis de apoio aos estudantes que continuam no campus: social, psicológico, de saúde e com relação à burocracia. O apoio social consiste em linhas de contato por meio das quais os alunos podem pedir ajuda com doação de alimentos, por exemplo. A universidade também oferece um canal de consultas online com psicólogos para apoiar a saúde mental dos estudantes.
Com relação à saúde física, Diego conta que “a universidade tem centro de saúde no campus, então quem tiver algum problema como sintomas acentuados do COVID-19 pode ir lá diretamente e será atendido”. Os testes são feitos lá mesmo para evitar que os estudantes visitem os hospitais antes de que seja estritamente necessário. E caso essa necessidade se confirme, eles são encaminhados para hospitais da região.
Especificamente para alunos estrangeiros, a universidade tem um centro de apoio para questões burocráticas. “Eles fazem o possível para ajudar a solucionar problemas, por exemplo, com relação à renovação do visto de permanência”, comenta.
Should I stay or should I go?
Rafael Camargo Lima, que está fazendo doutorado em estudos de guerra no King’s College London, acabou perdendo acesso ao escritório onde trabalhava na universidade, bem como à biblioteca. A instituição anunciou o seu fechamento total no dia 27 de março, mas mesmo antes disso já vinha recomendando que todos que pudessem trabalhassem ou estudassem de casa.
De acordo com Rafael, a recomendação inicial da universidade foi que todos os estudantes internacionais voltassem para os seus países de origem. Mas no caso dos alunos de doutorado, foi recomendado que cada um avaliasse com seu orientador como a situação afetaria a pesquisa.
“Em conversa com o meu orientador, a gente achou que a melhor situação seria ficar aqui”, conta. Por isso, atualmente Rafael está vivendo na acomodação estudantil da universidade e trabalhando nas áreas comuns, respeitando as regras de distanciamento social e mantendo dois metros de distância de outras pessoas.
Além do seu trabalho, outro fator que influenciou a decisão do pesquisador foi “a evolução muito rápida da situação aqui em Londres”. “Eu tinha uma certa preocupação de que se voltasse, talvez pudesse afetar minha família, e isso me deixava um pouco preocupado”, explica.
O pesquisador conta que a universidade tem tratado a situação “como a maior crise […] desde a Segunda Guerra Mundial”. Ele conta que a universidade mandou informes semanais sobre a COVID-19 desde janeiro. No fim de fevereiro, a instituição passou todas as suas aulas para a modalidade online e finalmente, em 27 de março, fechou totalmente o campus. Segundo Rafael, a universidade dispõe de linhas específicas de auxílio para estudantes estrangeiros.
Ajuda a quem voltou
Para alunos que acabaram voltado ao Brasil, as universidades também prestaram auxílio de outras formas. Foi o caso de Bruna Diamand, que faz graduação em design industrial na California College of the Arts. Ela conta que a universidade começou dizendo que atrasaria a volta às aulas após o “Spring Break” (feriado dos EUA semelhante à “semana do saco cheio” no Brasil), e finalmente declarou que fecharia totalmente seu campus e faria aulas online.
Ela achou melhor voltar ao Brasil para passar por esse período crítico junto à sua família — e ela não queria arriscar continuar nos EUA em uma situação em que o país fechasse suas fronteiras e proibisse viagens internacionais. “Uma decisão que a faculdade já mandou é que a gente vai receber um sistema de créditos para o housing [alojamento]. Então no próximo semestre eu vou ter que pagar menos por moradia, pois eu já tinha pagado por esse semestre e não estou usando”, conta.
Samuel Carvalho, que faz engenharia elétrica e economia em Stanford, diz que a universidade está prestando assistência de saúde (tanto física quanto mental) aos estudantes que ficaram lá. Essa assitência é oferecida por meio de uma clínica de saúde da própria instituição de ensino.
“Para os que saíram e deixaram suas coisas porque acharam que iam voltar ao fim do spring break, eles estão se oferecendo para empacotar suas coisas e ou guardar ou enviar para você por correio”, diz. Ele conta que as aulas online de Stanford estão funcionando muito bem por meio da plataforma Zoom.
Alguns alunos já haviam inclusive comprado a passagem para voltar aos EUA após o spring break, mas acabaram tendo que cancelar a viagem. Nesse caso, segundo João Abdalla, aluno de primeiro ano da graduação em Harvard, a universidade ofereceu reembolso para as passagens. “O próprio serviço de armazenamento dos nossos pertences eles também cobriram, para quem recebe apoio financeiro”, diz.