Um estudo publicado na Brazilian Business Review encontrou uma relação entre o aumento de rentabilidade com menores taxas de riscos e a presença de profissionais com doutorado no exterior nos conselhos e diretorias de empresas brasileiras. Além disso, cerca de 34% das instituições possuem, pelo menos, um mestre ocupando esses assentos, enquanto doutores representam apenas 20,1%.
Esses números são baixos, quando comparados com outros países, como os EUA, que chegam a ter 40% de empresas com a presença de, ao menos, um professor titular. Os dados do Brasil foram obtidos a partir de uma amostra de 133 empresas não financeiras listadas na Bolsa de Valores de São Paulo.
Em uma entrevista (disponível aqui) para a Agência de Notícias da Fapesp, Marcelo Perlin, cientista de dados da Escola de Administração da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), e um dos co-autores do artigo, destacou que “essa foi uma primeira tentativa de estimar, com dados reais, o impacto de indivíduos com formação acadêmica no desempenho financeiro das empresas no Brasil” e lembra que ainda é necessário “mais estudos para confirmar uma relação de causalidade nos resultados”.
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A presença desses acadêmicos é maior em empresas com conselhos e diretorias mais numerosos. De acordo com o artigo da Brazilian Business Review, são as “empresas jovens, de grande tamanho e endividamento” que “tendem a contratar pesquisadores com doutorado obtido no exterior”.
A baixa presença de profissionais mais qualificados no empresariado brasileiro também pode ser explicada por uma possível “falta de conexão e negociação entre o mundo corporativo e a academia”. “Ao contrário de outros países, o Brasil ainda carece de maiores interações entre empresas e as universidades”.
Melhor desempenho econômico e menor vulnerabilidade
O principal resultado obtido pelos pesquisadores foi a relação entre maior rentabilidade sobre as chamadas ROA (Retorno sobre Ativo) e ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) em empresas que possuem profissionais com doutorado no exterior. Para a Revista Fapesp, o professor explicou que “o primeiro (ROA), reflete o potencial de retorno de uma empresa aos acionistas a partir dos ativos que detém, enquanto o segundo (ROE) mede a capacidade de adicionarem valor ao negócio e, portanto, aos investidores, com base em seu patrimônio líquido”
Para além dos efeitos positivos nas empresas, de acordo com o artigo, os dados obtidos são ótimos indicadores de como as políticas públicas e iniciativas de inserção internacional de professores e pesquisadores brasileiros podem ser construídas. “Sabe-se que o doutorado no exterior é um forte sinalizador de desempenho na produção científica, seja pelo próprio viés de seleção dos candidatos ou pelo treinamento superior por parte dos centros científicos internacionais”, afirma o artigo.
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Trazer o conhecimento acadêmico do exterior e trabalhá-lo de forma inteligente no Brasil pode impactar não apenas a qualidade da produção científica quanto melhorar a performance das empresas nacionais. “Esta pesquisa reforça a importância de parcerias acadêmicas com instituições internacionais de peso”.
Para a Fapesp, Perlin explica que a especialização internacional também auxilia os profissionais a entenderem o cenário e lidarem melhor com possíveis riscos. “Nossa hipótese é a de que eles (doutores) conseguem ajudar a solucionar problemas corporativos reais e melhorar o desempenho das empresas”.
Como os dados foram obtidos
O estudo considerou a presença de profissionais com formação superior, de mestrado ao doutorado e realizados tanto no Brasil quanto fora, nas empresas nacionais, entretanto, apenas a categoria de doutores formados no exterior se mostrou expressiva. Perlin sugere que esse resultado pode indicar que “a formação do exterior sinalize ao mercado melhores práticas corporativas e maior experiência de gestão, as quais gerariam maiores oportunidades e rentabilidades para as empresas”.
Os valores do estudo foram obtidos a partir do cruzamento de informações disponíveis na plataforma Lattes e dados financeiros, balanços patrimoniais, demonstrativos de resultados e fluxo de caixa das empresas.
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O artigo “O Impacto da Titulação Acadêmica de Conselheiros e Diretores sobre a Performance de Empresas Negociadas na B3” (disponível aqui), foi publicado pelos pesquisadores Marcelo Perlin, Guilherme Kirsh e Mauro Mastella, da UFRGS, e Daniel Vancin, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos.
O texto utilizou informações da Brazilian Business Review e da Revista Fapesp.