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Escola de inglês com foco em cultura afro promove destinos diferentes para intercâmbio

Cidade do Cabo - intercâmbio na África do Sul

Quando o assunto é intercâmbio de inglês, vários destinos vêm à mente: Estados Unidos, Reino Unido, Irlanda e Austrália, por exemplo. Em alguns casos, a África do Sul também é lembrada, mas raramente se considera ir para a Jamaica ou Gana para um intercâmbio desse tipo. E, no entanto, esses são alguns dos lugares para os quais foram alunos e ex-alunos da Ebony English, uma escola que ensina inglês misturado com cultura afro.

“Nada contra aprender inglês com músicas do Elvis, mas você também pode aprender com músicas da Ella Fitzgerald ou com textos do Martin Luther King, Angela Davis ou Nelson Mandela, por exemplo”, comenta Rodrigo Faustino, co-fundador e vice-presidente da escola. Ele também cita a série The Get Down, da Netflix, como outra produção cultural que pode ser usada para aprender inglês ligado à cultura dos povos negros.

Início da escola

Rodrigo conta que a escola foi fundada em 2008, com o crescimento das classes médias. Também naquela época, as universidades públicas começaram a aplicar ações afirmativas como cotas raciais de maneira mais consistente.

Isso trouxe mais pessoas negras às universidades. “Mas nos programas de estágio, tinha uma questão quase obrigatória do estagiário falar inglês. E para os estudantes negros, muitos deles vindos de escola pública, isso ainda era uma dificuldade”, lembra.

A ideia, portanto, era oferecer uma possibilidade de estudo de inglês acessível e diferente. “Já que São Paulo tem milhares de escolas, [o foco na cultura afro] era uma maneira de se diferenciar”, comenta Rodrigo. Ele ressalta, no entanto, que a escola não é restrita à população negra, e que “todo aquele e aquela que curta a cultura é benvindo”.

Atualmente, a Ebony está realiando suas aulas e encontros na modalidade EAD, devido às medidas de isolamento social relacionadas à pandemia da COVID-19. Além das aulas, a escola também promove palestras e outros eventos com especialistas negros de fora do Brasil, como uma maneira de treinar o inglês dos alunos e oferecer outras oportunidades de ampliação de seu conhecimento.

Intercâmbios

Além das aulas de inglês, a Ebony também ajuda seus alunos a conseguir fazer intercâmbio de inglês. E, nesses casos, a escola mantém o seu foco promovendo destinos ligados à cultura dos povos negros, como África do Sul, Gana e Quênia.

Isso também foi reflexo de um aumento de acesso a essas possibilidades durante os anos posteriores à fundação da escola. Segundo o co-fundador, entre 2008 e 2009, apenas cerca de 5% dos estudantes da Ebony tinha passaporte; hoje, cerca de 80% deles têm o documento.

Além de promover destinos ligados ao foco da escola, isso também acaba tornando a experiência de intercâmbio de inglês mais acessível. Rodrigo conta que um intercâmbio para países africanos ou caribenhos pode sair por menos da metade do preço de um intercâmbio para os EUA, mesmo que a passagem de avião seja mais cara.

“Tinha um mito de que intercâmbio era coisa de gente rica. A gente costuma dizer que intercâmbio não é coisa de quem tem dinheiro, é coisa de quem se planeja”, afirma o co-fundador. Ele também diz que o intercâmbio ajuda muito a ampliar os horizontes dos estudantes, e a conhecer um pouco da diversidade do continente africano. “Eu estive em 4 países da África, e nenhum é igual o outro, a riqueza cultural é muito grande”, conta.

Experiências de alunos

Essa ampliação de horizontes foi um dos motivos que levaram Henrique Carvalho, agente de atendimento do SESC, a fazer um intercâmbio de inglês na Jamaica. “Já era um destino dos sonhos há muito tempo, por amar reggae e lugares com praia e natureza”, comenta.

Embora a Ebony não tenha auxiliado no planejamento da viagem dele, a escola foi uma importante fonte de inspiração: Henrique cita o professor Everton, que lhe deu aulas na Ebony, como uma das influências para sua escolha de destino. “Ele já conhecia e tinha trabalhado com jamaicanos quando morou no exterior”, diz.

A vontade de aprender inglês surgiu para Henrique na década de 90, quando ele notou que muitos dos artistas de que gostava falavam a língua. Ele conheceu a Ebony por volta de 2012, mas só se tornou aluno mais tarde, em 2016, e diz que o foco da escola em cultura afro foi um fator determinante para sua escolha.

“Conforme fui amadurecendo, fui tendo cada vez mais consciência da minha negritude, e achei muito interessante a proposta da escola”, lembra. “Aprender inglês costuma ser um pouco constrangedor no início, e se você puder encontrar um local em que ensinam inglês com cultura afro, onde todos alunos têm histórias de vida parecidas com você, creio que seja uma experiência muito mais atraente e rica”, complementa.

Tamiris Bastos, analista de conteúdo, também considera que o ambiente da Ebony ajudou-a a se sentir mais à vontade na hora de aprender. “Pelo menos eu, que sou uma pessoa mais tímida, não me sentia tão travada”, comenta.

Tamires Bastos em Table Mountain, na África do Sul.
Tamires Bastos em Table Mountain, na África do Sul.

Tamiris fez intercâmbio para a África do Sul — mais especificamente para Cape Town — e a escola também influenciou na sua decisão de destino. “Eu pensava em ir para o Canadá, por questões de custo e por ser conhecido como um país que recebe bem os estrangeiros. Mas por meio da Ebony eu conheci a África do Sul: eles nos apresentaram esse destino, eu pesquisei e achei incrível”, lembra.

Ela acabou fazendo o intercâmbio com a Mama África, e conta que muito do que ela aprendeu na Ebony foi essencial para que ela tivesse uma boa experiência. “Os professores falavam as expressões locais que a gente precisava conhecer para se virar lá, e quais expressões não eram legal de usar em determinados países”, diz.

Muito além do inglês

Erica Ferreira, professora e ativista social, passou 5 meses na África em intercâmbio para estudar inglês. A maior parte desse tempo foi passada em Acra, capital de Gana, e alguns dias no fim do período em Harare, capital do Zimbabwe. A viagem foi a maneira que ela encontrou para concretizar uma vontade de aprender inglês que tinha há muito tempo.

Em 2008, ela viajou para a ilha de Gorée, no Senegal, para um curso de Direitos Humanos e Direitos das Mulheres junto com outras mulehres negras de diversos países. “E aí a questão da língua pegou de novo, porque a instituição oferecia tradutor, mas eu sentia que ficava muito dependente. Então pensei em voltar a estudar para ter mais independência”, conta.

Ela voltou com enorme dedicação: saiu do trabalho em que estava e passou a estudar todos os dias, com vistas em fazer um intercâmbio assim que pudesse. E, para isso, conversou com as amigas que tinha feito durante sua viagem para o Senegal. Embora ela tivesse se organizado bastante para isso, a Ebony também foi determinante em sua viagem.

“Eu falei que precisava de aulas todos os dias, e eles tiveram essa flexibilidade”. Rodrigo também ajudou-a a definir Gana como destino, por ser um local com mais estabilidade política que o Zimbabwe (que Erica tinha pensado como primeira opção). “Com eles foi diferente, porque parecia que eu podia falar dos meus desejos, que outras escolas não poderiam abarcar. E isso era muito legal”, comenta.

Erica Ferreira em Labadi Beach, em Gana

Intercâmbio

Em 2011, Erica embarcou para Acra, e ficou quatro meses no bairro chamado Banana Inn, na periferia da cidade, alojada com amigos de amigos. Pelo curso de três meses que fez, conta que pagou cerca de 300 dólares.

Sua vivência, porém, foi muito maior que o curso — conheceu as igrejas católicas de Gana, andou nas lotações de Acra (que se chamam “trotrós”, segundo ela) e até fez seu vestido de casamento lá. Ela acabou conhecendo um país muito além do que imaginava. “A vivência que eu tive em Gana me mostrou sim várias semelhanças [com a cultura negra no Brasil], mas é muito distante do que nos trazem”, conta.

Segundo ela, a escola de inglês foi essencial nesse processo. “Se não fosse a escola Ebony eu não teria ido fazer intercâmbio nenhum na minha vida”, diz. Para ela, o contato com outras pessoas negras durante as aulas fez toda a diferença. “Parecia mais próximo, e a gente pensa que se eles conseguem, eu também consigo”, conclui.

 

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