Quando eu estava me candidatando às faculdades americanas, pensava muito nas aulas que iria ter, nas pessoas que iria conhecer e na liberdade que iria experimentar como consequência de morar sozinha. Quase nem pensei no fato de que, além de estar prestes a começar a faculdade, estava prestes também a mudar de país.
Mesmo estando tão perto do Brasil, há muitas coisas que nos lembram frequentemente que não estamos em casa
Acreditava que os Estados Unidos eram um país parecido com o Brasil. Afinal, foi uma terra de povos indígenas, descoberto no final do século XV, colonizado por europeus, com muita mão de obra escrava até uma data tardia… Considerava-me relativamente culta no assunto Estados Unidos e, por isso, sentia-me confortável ao planejar uma mudança para lá.
Contudo, mesmo estando num lugar tão perto do Brasil, há muitas coisas que nos lembram frequentemente que não estamos em casa. Após algumas semanas em solo americano, comecei a sentir o choque cultural. E não ajudou muito ter ido parar em Maine, estado com poucos estrangeiros e quase nenhum brasileiro.
Cultura das faculdades – As faculdades refletem a cultura do país como um todo, porém, cada uma tem sua subcultura própria. Há faculdades onde os alunos estudam muito e outras mais conhecidas pelas suas festas, onde o importante mesmo é socializar. Algumas levam o esporte muito a sério, e o jogo de futebol anual contra uma escola rival é o programa do ano. Outras focam no meio ambiente, e seus alunos gostam muito das atividades ‘outdoors’. Há também as instituições que se encontram em grandes metrópoles, e os alunos têm inúmeras possibilidades ao redor.
Os professores dão a aula e exigem dos alunos um grande trabalho extraclasse, com muito estudo e muita leitura. Às vezes, temos cerca de 100 páginas de uma única disciplina para ler em dois dias
O que me chama a atenção é que os professores dão a aula e exigem dos alunos um grande trabalho extraclasse, com muito estudo e muita leitura. Às vezes, temos cerca de 100 páginas de uma única disciplina para ler em dois dias. Isso não é tão comum nas faculdades brasileiras.
Vida no campus – Aqui, como os alunos moram em dormitórios e comem nos refeitórios, eles passam quase todo seu tempo no campus da faculdade. Há pouco contato com pessoas de fora, as festas se passam no campus e os fins de semana também são aproveitados na área da faculdade. E, porque os alunos passam tanto tempo no campus, eles têm uma estrutura excelente: além de fantásticos centros desportivos e acadêmicos, as faculdades investem muito na sua estética, e a maioria dos campi é linda.
As escolas americanas, do jardim de infância à faculdade, também se diferenciam um pouco das brasileiras em seu investimento no bem-estar dos seus alunos. Nos campi, há aulas de ioga, meditação e grupos religiosos, além de grupos organizados por alunos, como de dança. Há também psicólogos e psiquiatras disponíveis, totalmente de graça.
Esportes – Quem mora nos EUA também é exposto a esportes diferentes. Os alunos jogam os clássicos futebol, vôlei e basquete, mas o futebol não é paixão nacional como no Brasil. Aqui, existe também o lacrosse, jogado com bastões que acabam em redes; o futebol americano, o hóquei de gelo, o hóquei de grama e o beisebol.
Os americanos vão mais direto ao ponto. Não falam tchau antes de terminar uma ligação telefônica e não dão beijinho, só oferecem a mão
Os esportes dependem muito da localização da sua faculdade. Em lugares mais frios, esportes de neve são bastante populares. No verão, é comum muitos alunos deitarem no gramado, jogarem frisbee e praticarem o popular slackline. O outono oferece atividades como a colheita de maçãs, e o inverno, às vezes, traz consigo alguns casos de depressão. Muitas faculdades celebram a primavera com um festival ou um concerto, que marcam também o final do ano letivo.
Os EUA é um país de proporções maiores que as do Brasil, e é impossível capturar todas as tradições, os jeitos e os pensamentos do povo americano. Cada estado tem bastante autonomia e atua com leis próprias.
Percebi também um comportamento diferente dos americanos comparado ao dos brasileiros, embora seja mais difícil de descrever. Os americanos vão mais direto ao ponto. Não falam tchau antes de terminar uma ligação telefônica e não dão beijinho, só oferecem a mão. Mas, apesar disso, acredito que a cultura americana tem muito a nos oferecer. Estudar e morar nos EUA é ótimo para poder comparar a cultura deles com nossa e adotar os melhores aspectos de cada uma.
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Andrea Wunderlich é estudante de graduação no Bowdoin College, nos EUA.
*Foto: Bowdoin College/ Crédito: divulgação
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