A resposta à pergunta acima é simples: tudo depende dos seus objetivos. O Brasil tem uma tradição acadêmica muito forte, mesmo quando se trata de objetos de ensino aplicados: nossos mestrados são stricto sensu, duram dois anos e têm foco teórico. “O mestrado no campo de públicas aqui no Brasil contribui muito para quem quer seguir carreira acadêmica ou quem precisa do título para entrar ou ter uma promoção em algum cargo do setor público”, diz o economista Valdemir Pires, coordenador do curso de Administração Pública da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Grande parte das dissertações desenvolvidas é ligada a questões locais, e as análises podem servir como base teórica para discutir problemas em setores específicos do governo, mas sua função prática é restrita.
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Já no exterior, os mestrados podem durar apenas um ano e costumam ser mais profissionalizantes. Em algumas escolas, há a possibilidade de o estudante apresentar um projeto ao fim do curso, no lugar da tradicional tese dissertativa. Para Fernando de Souza Coelho, doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professor da Universidade de São Paulo (USP), a grande diferença em relação ao Brasil está na metodologia de ensino. “Em geral, os mestrados em políticas públicas nos Estados Unidos e na Europa têm um cunho menos acadêmico e mais prático. Eles são ideais para quem quer adquirir um conhecimento aplicado ou desenvolver habilidades de liderança”, afirma.
Faz sentido estudar fora para um funcionário público brasileiro que cresceu no seu departamento e sente que precisa aprimorar algumas competências para tomar decisões e gerir uma equipe maior. Ou alguém que busca uma posição num Ministério, como o de Energia, por exemplo, e precisa ter conhecimentos específicos na área para entrar, que podem ser abordados em cursos no exterior. Para quem quer trabalhar em órgãos multilaterais, como o FMI, o mestrado fora também é uma ótima porta de entrada. Para outros que querem entrar em ONGs internacionais, é uma boa forma de adquirir bagagem e conexões importantes. Funcionários do Itamaraty também costumam cursar matérias de relações internacionais no exterior. “O importante é escolher bem a escola, dando preferência àquela com que você se identifica, tanto com o ambiente, quanto com a proposta de ensino”, pontua Fernando.
Contribuições
Embora a internet tenha reduzindo bastante as distâncias entre países, no que diz respeito à troca de informações e opiniões na área, a vivência no exterior possibilita ao estudante fazer comparações mais profundas com o Brasil, em relação a condições de trabalho e a influências políticas no setor, por exemplo. “Assim, é possível voltar com novas propostas de soluções e alternativas para lidar com os nossos problemas e até superá-los, considerando, claro, as especificidades de cada local”, diz o pesquisador de gestão pública e professor da UFMG Ivan Beck, que fez um doutorado em Administração Pública na Aston University, na Inglaterra.
Sandra Inês Granja, especialista em Politicas Públicas da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) – órgão do governo de estado de São Paulo -, acredita que um profissional que decide fazer um mestrado nessas áreas no exterior pode trazer uma contribuição relevante para o governo brasileiro. “Outros países podem ter encontrado soluções pertinentes para problemas que também enfrentamos. Claro que elas não poderão ser simplesmente transpostas para a nossa realidade, mas é importante saber como foram aplicadas lá fora para refletir sobre os desafios e encontrar nossas próprias soluções”, ressalta.