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Como é ser garota na robótica: minha experiência e dicas

Por Ana Clara Santos Cavalcante, estudante do Prep Program 2024

A participação de mulheres nas áreas de tecnologias ainda é um tema que deve ser muito discutido. Embora a representatividade tenha aumentado nos últimos anos, sabemos que as oportunidades são limitadas e até mais distantes para o gênero feminino. 

A área da robótica sempre foi muito estimada, associada com o futuro e por isso fortemente relacionada aos homens, o que limita muitas meninas em seus sonhos e expectativas. Mas a realidade é que muitas mulheres foram essenciais para os avanços que temos hoje. Por isso, precisamos nos apropriar e NOS INSPIRAR. Conhecer histórias e oportunidades nos inspiraram a criar nossas histórias e oportunidades. 

Inspiração é uma grande chave para traçar sua jornada na robótica! 

Minha jornada começou muito cedo, foi como “cair de paraquedas” entre robótica, programação, ciência e tecnologia. Sempre gostei de atividades extracurriculares e de estar envolvida em projetos de extensão. Foi quando, ainda no sétimo ano, surgiu a oportunidade de entrar no time de robótica da minha escola, me inscrevi e passei no processo seletivo. Comecei então a me preparar para os torneios da FIRST Lego League, uma ótima oportunidade de introdução à robótica.

A FIRST é uma instituição sem fins lucrativos que busca criar a próxima geração de inovadores, como diz o próprio nome: “For Inspiration and Recognition of Science and Technology” (Para inspiração e reconhecimento da ciência e tecnologia. A FIRST organiza competições para diferentes idades e níveis, o primeiro nível para estudantes do ensino fundamental, a FLL, lá desenvolvemos robôs utilizando Lego, programação em blocos, projetos de pesquisa e campanhas para a comunidade. Estes foram meus fundamentos na robótica. 

Desde o início enfrentei paradigmas e estereótipos para crescer dentro da área. As meninas sempre eram associadas a áreas sociais e mais distantes da tecnologia, mas aqui vem uma dica importante: Cerque-se de garotas como você! É essencial ter uma rede de apoio à sua volta, garotas que sejam entusiastas. Sempre me apoiei muito nas minhas colegas de time. Graças a estes esforços me tornei líder, mesmo sendo uma das mais novas integrantes. Foi o meu primeiro cargo de liderança na robótica, o que foi essencial para que nos anos seguintes eu pudesse inspirar e ajudar a introduzir cada vez mais meninas neste ramo. 

Liderei por 4 anos esse time: tive a oportunidade de ser mentora e pude ensinar todos meus conhecimentos. Esta é a segunda dica: Incentive outras meninas! Cada uma de nós passa por desafios e experiências diferentes, e da mesma forma que recebemos apoio precisamos criar uma rede de transmissão de oportunidades. Hoje, me orgulho em dizer que este mesmo time é mentorado por outra garota, para quem tive o prazer de apresentar a robótica muitos anos atrás

Durante o ensino médio, decidi realizar um ensino técnico para me abrir mais oportunidades dentro da robótica e da indústria. Como sempre fui apaixonada por competições, comecei a participar dos campeonatos FIRST Robotics Competition (FRC), em um time composto de estudantes do ensino médio, mas nessa categoria os times são majoritariamente formados por garotos. A FRC é uma competição internacional que nasceu nos Estados Unidos e chegou recentemente ao Brasil. Como trabalhamos com construção de robôs de porte industrial e tecnologias cada vez mais perto da engenharia, durante todo o início precisei ‘provar o meu valor’. Infelizmente, iremos passar por isso sempre, mas não deixe que questionem seu potencial, ele vale a pena ser defendido! (essa é a dica mais importante, não se esqueça) 

Na FRC fui escolhida pelo time para competir o Dean’s List Award, prêmio que reconhece liderança e compreensão dos valores da competição. Conquistar esse prêmio em Kansas City – EUA, sendo o único time internacional foi inimaginável para a Ana de 5 anos atrás, que duvidava tanto de si. Nesse mesmo ano pudemos representar o Brasil em Houston, no maior torneio de robótica do mundo, o FIRST Championship. Esse foi meu sonho durante anos, e estar lá competindo com robôs da Nasa, Google, Microsoft não tem preço, foi um aprendizado imenso.

Hoje no meu processo de candidatura para engenharia em faculdades estrangeiras ainda enfrento barreiras, mas esses anos de robótica me fizeram muito mais forte. Os torneios FIRST encorajam muito a inclusão e diversidade, por isso recomendo para todas!

“Mas…minha escola não tem um time 🙁 “

É possível criar sua equipe! Durante minha jornada na FIRST, pude arrecadar mais de 60 mil reais em patrocínios para nossos robôs, projetos e iniciativas. Primeiro, procure membros e responsáveis para seu time. Depois, busque empresas parceiras, e aqui vale tudo, desde multinacionais até pequenos negócios. Nessa etapa você irá usar todas suas habilidades de convencimento. Com os recursos levantados é hora de colocar a mão na massa!

Claro que as competições não são a única forma de se envolver com robótica: projetos de iniciação científica e olimpíada, são oportunidades gratuitas ou de baixo custo que estão a disposição para você desenvolver sua carreira. O que não podemos é ficar paradas, conecte-se com outras meninas brilhantes e vamos garantir nossos lugares na tecnologia para trazer cada vez mais representatividade para mulheres dentro da robótica.


Ana é de Jundiaí, no interior de São Paulo, tem 17 anos e é apaixonada por ciência, tecnologia, ler, viajar e conhecer novas coisas e lugares. Ela ama falar sobre as áreas do STEM e suas experiências sendo uma garota na robótica educacional, mostrando que lugar de mulher é na ciência e onde mais ela quiser.

A coluna acima foi escrita por Ana Clara Santos Cavalcante, participante do Prep Program, preparatório da Fundação Estudar com foco em jovens que desejam cursar a graduação no exterior. Totalmente gratuito, o programa oferece orientação especializada sobre o processo de candidatura em universidades de fora do país. Saiba mais e faça sua inscrição aqui.

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