Graduação nos EUA: poucas provas e Thanksgiving na casa do professor
Por Pedro Girardi
Vou começar essa coluna contando um pouco sobre a rotina de provas finais aqui no Carleton College, nos EUA, onde estudo. Nessa semana, as aulas acabam na quarta-feira, quinta e sexta são reading days (dias para revisar a matéria e “descansar”), e as provas ocorrem sábado, domingo e segunda. As provas, entretanto, não têm um peso tão grande quanto as que eu tinha no Brasil. Aqui, as provas finais dificilmente valem mais de ⅓ da nota total, e algumas disciplinas nem tem esse tipo de avaliação. Um exemplo é Utopias, meu curso do departamento de filosofia, cujo projeto final foi um discurso.
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Durante esta semana, fui nas office-hours (encontros fora do horário de aula) dos professores de Cálculo e de Microeconomia. Eu fiquei bastante espantado quando os dois me perguntaram a mesma coisa: “Como você está se sentindo, agora que o trimestre acabou?”. Na minha cabeça, aquilo não fazia muito sentido, porque o mais importante (provas finais) ainda estaria por vir. Eles, então, me explicaram que o aprendizado, a parte que realmente importa, já havia sido feito, e que agora era uma questão de “cumprir calendário”.
Tive uma surpresa muito boa: meu professor de cálculo me convidou para passar o feriado de Ação de Graças com ele. Eu e outros dois alunos passamos o dia na casa do professor com seus familiares e colegas
Esse pensamento tem tudo a ver com a filosofia de liberal arts, que defende a formação de cidadãos completos, com capacidade de relacionar diferentes matérias e trabalhar em vários campos. Portanto, o aprendizado é algo que requer muito mais do que dois reading days: aprender é ter domínio sobre o conteúdo, entender os conceitos e saber aplicá-los. Isso ficou ainda mais claro para mim após as minhas provas finais: em nenhuma delas eu seria beneficiado por decorar conceitos, acessar o Google ou o livro didático – as questões traziam problemas em contextos cujo raciocínio nenhuma máquina poderia trazer.
Eu gostaria de trazer também outras duas experiências muito legais que tive fora da sala de aula com os professores. Na aula de Microeconomia, o professor desafiou os alunos a usarem uma planilha de Excel para prever retorno de investimentos imobiliários em Minnesota. O meu grupo venceu, e o professor nos levou para uma hamburgueria tradicional da cidade, onde batemos papo sobre assuntos do cotidiano (e apreciamos a culinária americana). Outro fato marcante dessas últimas semanas foi o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving), que é um dos maiores feriados americanos e costuma reunir amigos, vizinhos e famílias. Tive uma surpresa muito boa: meu professor de cálculo me convidou para passar o feriado com ele. Eu e outros dois alunos passamos o dia na casa do professor com seus familiares e colegas. A experiência contou tanto com características tradicionais do Thanksgiving, como peru, batatas e tortas, quanto com particularidades, como jogos e problemas lógicos envolvendo matemática. Essas experiências são muito proveitosas para alunos e professores, que passam a se conhecer fora do ambiente acadêmico. Sou muito grato a Carleton por esse tipo de convivência, que é uma das partes mais interessantes de estudar aqui.
Sobre o autor
Pedro Girardi é aluno de graduação do Carleton College, nos Estados Unidos, onde pretende se formar economia e política. Durante o ensino médio, envolveu-se em diversos projetos nessas áreas, sendo seu preferido a participação em Simulações das Nações Unidas. Por meio de atividades extracurriculares, descobriu que adora lidar com pessoas e ajudá-las a desenvolver suas habilidades. Quer ser professor e pesquisador.
*Na foto, estudantes em frente ao Carleton College
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