Por Ana Pinho, do Na Prática
Quando foi lançado, em 2014, o HBX CORe, principal curso da versão online da Harvard Business School (HBS), durava nove semanas. Quase três anos e mais de treze mil alunos depois, há versões de oito a dezoito semanas disponíveis.
A mudança é importante porque traz mais flexibilidade para quem tinha dificuldade de encaixar os estudos na rotina de trabalho, já que o curso tem cerca de 170 horas de conteúdo e exige entre quinze e 20 horas semanais de dedicação.
“O CORe – e o HBX em geral – foi desenvolvido para expandir o alcance da Harvard Business School e avançar na missão de educar líderes para fazer uma diferença no mundo”, conta Patrick Mullane, diretor executivo do HBX, ao Na Prática. “A administração da escola percebeu que havia muito mais gente que poderia se beneficiar dessa educação do que pessoas capazes de vir ao campus e se matricular em um programa de MBA ou de Educação Executiva.”
Em uma palestra em janeiro de 2016, Bharat Anand, professor da HBS e chefe dos docentes da HBX, reforçou a mensagem. “É um curso para profissionais de todas as áreas, de físicos a advogados, que precisam de uma base de negócios – e a diversidade dos estudantes tem sido um dos pontos fortes”, falou. “São pessoas curiosas, comprometidas com aprender e interagir umas com as outras.”
Ao custo de US$ 1950, cerca de R$ 6 600, este não é um investimento qualquer. Quem fez, no entanto, costuma dizer que a credencial vale a pena.
Como funciona o HBX CORe
O HBX CORe é composto por três pilares – Business Analytics, Economics for Managers e Financial Accounting, basicamente estatística, economia básica e finanças –, apresentados pensando em quem não tem experiência anterior com as áreas.
Com uma taxa de conclusão bastante superior a de outros cursos online, o HBX CORe exige aprovação prévia dos candidatos (a inscrição é gratuita e a resposta leva até duas semanas) e pagamento na íntegra antes do início das aulas, que são compromissos semanais sem horário fixo.
Para compensar, oferece um certificado oficial de conclusão e um histórico de notas – mas só depois de uma prova presencial, que deve ser feita em um centro Pearson. (Há dezenas pelo Brasil.)
O conteúdo, baseado em estudos de cases que vão da Cruz Vermelha à Amazon, é pré-gravado e não há contato com os professores. O resultado é um processo centralizado nos alunos, que exige participação ativa, troca de ideias e pode resultar em uma rede de contatos internacional.
“Além de ter o aspecto de aprendizado social, os programas do HBX também são baseados na ideia de aprendizado ativo, o que significa que, a cada dois ou três minutos, o estudante precisa se engajar com o material de um jeito diferente”, explica Mullane. “Esse estilo ‘lean in‘ de aprendizado mantém os alunos atentos.”
“Apesar de ser um curso online, não são videoaulas. É uma certificação mesmo, que conta créditos em Harvard”, diz Samuel Carvalho, administrador que se inscreveu através do mestrado em Administração da FGV-SP, que incluiu o HBX CORe no currículo obrigatório. “O esforço é grande, mas acho que o investimento vale a pena porque dificilmente você vai gastar 6 mil reais em outro curso e obter o mesmo retorno de conhecimento sólido e networking.”
Pouco mais de um mês após concluir o HBX CORe, empregando os conceitos e ferramentas que aprendeu, Samuel tinha aceitado uma oferta de professor assistente e sido convidado por um Chief Marketing Officer (CMO) para participar de um processo seletivo, além de ter inaugurado a própria consultoria para empresas de tecnologia e reorientado sua tese.
Vale destacar, porém, que uma coisa não é necessariamente consequência da outra. “Uma das ofertas que tenho foi desenvolvida com base no que aprendi no HBX e em que estou me aprofundando agora”, esclarece Samuel. Ele usou os insights do curso como insumos para dar foco à consultoria, uma ideia que já vinha amadurecendo e que abriu com dois sócios.
Ou seja, foi a aplicação daquilo na prática que impressionou e que, de maneira geral, guarda dentro de si um potencial para avançar na carreira – embora um “H” escarlate no currículo não machuque ninguém.
Administração de tempo
“Ouvimos de estudantes que o programa muda o jeito que eles abordam a tomada de decisões no dia a dia e que lhes dá habilidade e confiança para ir mais longe em suas vidas profissionais”, resume Mullane. “Depois do CORe, estudantes podem, por exemplo, conversar com gerentes de nível superior sobre precificação ou as finanças da organização – e também pensam de maneira mais crítica sobre o próprio dinheiro e o próprio tempo.”
São pontos destacados por Cecília Araújo, coordenadora de conteúdo da Fundação Estudar. Aproveitando a oportunidade que sua empresa, parceira institucional da HBS, ofereceu (um valor com desconto para a equipe de liderança), ela se inscreveu em 2015.
“Como minha formação acadêmica é bastante técnica, há algum tempo queria testar meus conhecimentos mais generalistas e explorar minha capacidade de aprendizado em temas pouco familiares, como finanças”, explica ela, que é formada em Comunicação Social e se especializou em Jornalismo Literário.
Ela reforça que ter comprometimento de tempo é essencial para realmente aproveitar o conteúdo. “Embora tenha precisado abrir mão de muitas atividades pessoais no período do curso, o ponto positivo foi que me tornei bem mais produtiva não só no trabalho, mas na vida como um todo.”
Samuel deixa as coisas ainda mais claras: “As pessoas que trabalham e fazem HBX CORe junto precisam saber que, durante esse período, não dá pra marcar muita viagem ou passeio. Dedique-se a essa imersão.”
Aplicação do conteúdo
Beatriz, sua colega de curso na FGV-SP e engenheira por formação, alternava entre dedicar fins de semana e virar uma noite semanal estudando para o HBX CORe.
Responsável pela parte de operações da Voxy, uma startup de ensino à distância, ela elogiou a experiência. “Eles mostram cases reais, então fica muito fácil aplicar a teoria no trabalho. Hoje foco em estudar demanda e precificação, e os insights vieram de lá”, conta.
“A primeira coisa que muda é que você passa a ter uma visão mais ampla da organização como um todo”, diz Cecília, que também notou efeitos positivos em suas decisões relacionadas a custos e despesas de projetos.
“Para mim, um dos grandes benefícios do HBX foi adquirir um entendimento maior de algumas áreas com que tinha pouca familiaridade, além de conhecer um pouco da metodologia online da HBS. Para mim, só isso já vale muito a pena”, continua ela.
“Para quem não é da área de administração mas trabalha com negócios, é um curso que te dará uma ideia do que vem pela frente. Você vai conseguir falar sobre mercado, estratégia e conceitos de análise estratégica, por exemplo”, diz Samuel. “Em qualquer momento, ele agrega valor.”
“O HBX CORe é um jeito ideal para pessoas em início de carreira explorarem o mundo dos negócios”, fala Patrick. “É, na verdade, um ‘passo intermediário’ perfeito para quem está entre uma graduação e um MBA em potencial.”
Beatriz, que se sente mais preparada para os desafios estratégicos do trabalho após as aulas, resume a experiência: “Concordo que é caro, mas para quem puder fazer sem se endividar… A experiência é incrível.”
* Matéria originalmente publicada pelo Na Prática, portal de carreiras da Fundação Estudar.
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