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Como é fazer High School nos EUA: experiência de uma aluna brasileira

Redação do Estudar Fora - 31/07/2024
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Por Isabella Nascimento, estudante do Prep Program 2024

Todos fomos criados com uma visão específica do que seria o high school — o ensino médio estadunidense. Filmes como “Clube dos Cinco” (1985), “As Patricinhas de Beverly Hills” (1995) e “Clube da Luta para Meninas” (2023) perpetuam uma imagem particular sobre como seria a escola nos Estados Unidos… Líderes de torcida, jogos de futebol americano, nerds, detenção, o temido horário de almoço. Diariamente, também são reproduzidos memes sobre a suposta baixa qualidade do ensino acadêmico estadunidense — seja a falta de aulas de geografia ou o nível básico de matemática. Entretanto, quais desses estereótipos são verídicos? 

Meu nome é Isabella Nascimento e estudo nos Estados Unidos há dois anos. Nativa de Belo Horizonte (MG), saí do Brasil para finalizar meu ensino médio em uma escola particular estadunidense com bolsa de estudos completa. Lá, passei por experiências similares, mas também drasticamente diferentes das retratadas em Hollywood, e é isso que vou contar para vocês hoje. Venham aprender um pouco sobre os mitos e verdades do high school!

Tipo de Escola

Antes de qualquer coisa, é necessário fazer uma distinção importante. Eu recebi uma bolsa de estudos 100% para uma boarding school, ou seja, um internato. Assim, eu diria que minha experiência escolar foi mais parecida com “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989) e “Harry Potter” (2001) do que com outros filmes sobre o ensino americano, pois eu morava dentro da minha escola.

Normalmente, internatos como o meu são particulares; enquanto escolas públicas dos Estados Unidos funcionam como no Brasil, ou seja, os alunos vão para a escola de manhã e retornam para casa de tarde. Isso faz com que minha experiência tenha sido ainda mais específica e não ortodoxa. Portanto, irei me referir à experiência de estudar em um internato particular nos Estados Unidos, e algumas dessas vivências não são aplicáveis a escolas públicas tradicionais!

Rotina Acadêmica

Nos Estados Unidos, os alunos têm muito mais liberdade acadêmica do que no Brasil. Não apenas escolhendo suas próprias aulas, após terem cumprido com um currículo obrigatório básico, mas também montando seu próprio cronograma. Por semestre, a maioria dos estudantes fazem cinco aulas acadêmicas (nas áreas de ciências, inglês, linguagens, matemática e ciências sociais) e uma aula de artes. Isso quando alunos não “largam” uma aula para ter um horário livre em suas agendas. 

Assim, é possível imaginar quão mais flexível o ensino estadunidense é quando comparado ao brasileiro, que obriga todos alunos a cumprirem a mesma carga horária. Mas, com menos cursos e horas mais longas (de 8:00 até 15:00, com um intervalo para o almoço), o conteúdo das aulas nos Estados Unidos era mais aprofundado. Desta forma, pode-se dizer que os filmes de Hollywood não erram completamente: alunos têm muita flexibilidade quanto ao seu dia escolar, podendo chegar na escola mais tarde ou ir embora mais cedo dependendo da composição de suas agendas. 

Pessoalmente, essa flexibilidade era muito bem vinda. Quando meus professores cancelavam a primeira aula do dia, eu conseguia dormir um pouco mais e ainda chegar a tempo no próximo horário. Após o almoço, meus amigos iam para seus quartos tirar um cochilo. E, escolhendo ter apenas cinco aulas ao invés de seis, era possível ir para a biblioteca em seu horário livre para adiantar as tarefas do dia ou apenas comprar um lanche na cafeteria com seus amigos. 

Nível Acadêmico 

Algo que muda drasticamente do imaginário popular brasileiro para a realidade é a qualidade de ensino dos EUA. Todos ouvimos relatos de estudantes brasileiros que, fazendo intercâmbio nos Estados Unidos, ficaram chocados com o fácil nível das aulas. Entretanto, essa história é um pouco mal contada. 

Ao contrário do Brasil, onde todos os estudantes fazem a mesma aula obrigatoriamente, o ensino estadunidense tem aulas divididas por níveis: regular, acelerado e avançado. Portanto, uma aula de biologia avançada e regular geralmente cobrem tanto quantidades diferentes de informação, quanto o fazem em velocidades diferentes e com profundidade variada. Assim, uma regra geral é que, se uma aula for surpreendentemente fácil para um aluno, ele está no nível errado. Não costuma ser difícil mudar de nível, mas ir para os níveis avançados requer uma nota mínima e recomendação dos professores.

Devido ao fato de que o processo de ingresso ao ensino superior nos Estados Unidos inclui uma análise dos cursos que o aluno fez durante o EM, os estudantes prezam por estarem em aulas de maiores níveis que conseguirem. Ou seja, o estereótipo de nerds e alunos populares que odeiam estudar não é tão 8 ou 80. Dependendo do ambiente escolar, o descolado é ser um aluno versátil; e tirar notas altas em aulas difíceis seria algo importante.

Esportes e Atividades Extracurriculares

Quanto à oferta esportiva e extracurricular das high schools, os filmes de Hollywood acertam em cheio. Não importa se a escola é privada ou particular, elas oferecem dezenas de atividades para seus alunos: basquete, futebol, vôlei, natação, tênis, hockey no gelo, robótica, simulações da ONU, debates, clube de matemática, teatro, banda, clubes religiosos, dentre outras.

Os alunos têm muitas opções e flexibilidade para escolher suas atividades extracurriculares. Na minha escola, assim como na maioria das instituições, era obrigatório participar de ao menos três atividades por ano. E os alunos fazem suas escolhas baseado tanto em seus interesses, quanto no que seria mais vantajoso para colocar em seus currículos para a faculdade. Portanto, nos Estados Unidos, o que você faz fora da sala de aula é tão importante quanto o que você faz dentro dela. Ser parte de clubes, capitães de times, e líderes em suas atividades é essencial para conseguir ingressar em sua faculdade escolhida. 

Por estudar em um internato, minha vida era focada na comunidade escolar. Após terminar minhas aulas de tarde, eu ia diretamente para meu treino esportivo (vôlei ou basquete). Depois, já chegava o horário de jantar, fazer tarefas e participar de reuniões de clubes e organizações como simulação da ONU e anuário escolar (yearbook). 

Para quebrar um pouco a rotina, os times esportivos competiam em campeonatos dentro e fora da escola duas vezes por semana. Isso levava os alunos a montarem torcidas como as vistas em filmes. Especialmente em jogos contra nossos maiores rivais, era possível ver o espírito escolar em todas as suas cores. Assim, alguns aspectos da experiência de high school são muito similares aos filmes americanos, como a festa de homecoming, os jogos de futebol com arquibancadas lotadas e as diversas atividades oferecidas pela escola. 

Num geral, minha rotina era muito puxada e em constante movimento, o que pode ser tanto um benefício quanto uma desvantagem dependendo da pessoa. Entretanto, esse é o ambiente ideal para explorar seus interesses: seja por meio de uma escolha personalizada dos seus cursos, dos seus esportes e atividades, ou níveis de aulas. O ensino médio americano não é perfeito, e minha experiência foi definitivamente influenciada por ter frequentado apenas uma escola particular muito bem financiada; por isso é importante entender as formas em que a realidade se diferencia da visão romantizada vendida por Hollywood para poder decidir se estudar fora é realmente para você.


Isabella Nascimento é uma jovem nativa de Belo Horizonte, Minas Gerais, e apaixonada pela interseção de justiça social, arte e ativismo juvenil. Atualmente, ela estuda com bolsa completa na The Taft School (CT) nos Estados Unidos, mas recebeu outras 4 bolsas para escolas no exterior em 2022. Isabella é multi medalhista em olimpíadas do conhecimento, ex-aluna de programas de verão renomados como Yale Young Global Scholars e Stanford Pre-Collegiate Summer e é uma dos 11 jovens transformadores brasileiros a serem reconhecidos pelo Rise for the World e Rhodes Trust. Através de seu ativismo social, ela busca divulgar oportunidades nacionais e internacionais a alunos brasileiros, ajudando outros jovens a alcançar um ensino de qualidade como o que recebeu. 

A coluna acima foi escrita por Isabella Nascimento, participante do Prep Program, preparatório da Fundação Estudar com foco em jovens que desejam cursar a graduação no exterior. Totalmente gratuito, o programa oferece orientação especializada sobre o processo de candidatura em universidades de fora do país. Saiba mais e faça sua inscrição aqui.

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