Ao estudar fora do Brasil, suas chances de prosperar no mercado brasileiro sempre aumentam. Existe quem retorna para o Brasil com um diploma diferente e único, e que consegue cargos de liderança em ótimas organizações. E tem também quem acaba abrindo um negócio disruptivo e se dá bem no empreendedorismo.
Quando eu fui fazer a minha pós-graduação na Europa, eu não tinha ainda considerado o empreendedorismo como forma de aplicação do conhecimento adquirido. Mas, ao voltar, percebi que era a melhor forma de colocar em prática tudo o que eu tinha aprendido e vivido por lá.
Eu fiz o meu mestrado na Holanda, numa universidade de ciências aplicadas chamada Imagineering Academy, no tema de inovação colaborativa para organizações. E eu percebi que a maioria das universidades holandesas têm uma característica em comum: elas se preocupam em formar líderes, e não somente bons funcionários, ou seja, elas estão constantemente questionando o status quo das profissões e se voltando para a discussão critica sobre o futuro.
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Desta forma, depois de estudar na Holanda, quando eu retornei para o Brasil, eu tinha um conhecimento tão diferenciado, tão único para o mercado brasileiro, que muitas organizações podiam se beneficiar disto ao mesmo tempo. Assim, ao invés de investir todo esse conhecimento em uma só organização, eu percebi que poderia ajudar a transformar mais o Brasil se eu empreendesse e pudesse espalhar este conhecimento em mais ambientes.
Assim, se você considera empreender no futuro, considere também estudar na Holanda. Pois lá, esses pontos abaixo são parte de quase toda graduação e pós por lá, o que torna os Holandeses ótimos empreendedores a nível global.
O que aprendi ao estudar na Holanda
Liderança e crítica
Durante uma aula numa universidade Holandesa, e também em reuniões no mercado de trabalho por lá, os Holandesas jogam o que eles chamam de “power game”. O que é isso? Os professores compartilham conhecimentos e teorias, e o comum é que os alunos questionem porque isso é desta forma. Os professores precisam desenvolver bons argumentos para afirmar as teorias, o que torna as aulas bem calorosas e com muito diálogo. Com isso, os professores se abrem a revisitar constantemente se as teorias vigentes ainda fazem sentido para os dias atuais, dependendo dos questionamentos dos estudantes.
O mesmo acontece nas organizações: os chefes compartilham com seus funcionários as decisões que tomaram e esperam que os funcionários façam perguntas e questionem. Se a estratégia do chefe não passar pelo crivo dos mais jovens, então não era uma boa estratégia, e eles se propõem a construir uma melhor. Bem diferente do Brasil, não acha?
Esses exercícios diários são ótimos para os empreendedores, que tem que defender suas ideias e empresas diariamente, e sempre buscar soluções inovadoras que tragam diferenciação estratégica. Assim, estudar e estagiar na Holanda pode te ajudar muito a se tornar um empreendedor mais profissional e preparado.
Auto-gestão e organização
Durante o meu mestrado de inovação, no primeiro bimestre de aulas, os professores compartilharam uma variedade de teorias sobre as organizações e sociedade. Eu que tive que separar e saber organizar o que era inovador (pós-moderno) e o que era tradicional (moderno).
Os professores holandeses raramente irão entregar um conteúdo organizado e mastigado para os estudante. Eles esperam que os alunos façam essa função sozinhos, e saibam observar o mundo ao seu redor, e entende-lo criticamente. Mas para isso, temos que desenvolver a capacidade de auto-organização e autogestão.
E, para muitos empreendedores, o inicio de uma empresa pode ser um caos, tendo que fazer de tudo um pouco, e se envolvendo em todos os aspectos da empresa. Assim, saber organizar tarefas, classificar prioridades, olhar para os problemas como oportunidades, e se inserir nesse contexto caótico e ao mesmo tempo gerando valor para o seu entorno, são algumas habilidades que se requer no empreendedorismo, e que os estudos na Holanda me ajudaram a desenvolver.
Futurismo
A Holanda tem a cultura do pioneirismo. Desde a época das navegações por volta de 1500, os Holandeses sempre inventaram moda. Não é a toa que um país com apenas 17 milhões de habitantes (menos que a cidade de São Paulo) tem uma das maiores economias do mundo.
Para você entender um pouco o que eu estou falando, vou contar um exemplo: a KLM, linhas aéreas holandesas, fará em 2020 o primeiro voo comercial para a estratosfera. Depois de anunciar e vender os ingressos, todas as escolas primarias da Holanda decidiram então que Astronomia deveria ser uma matéria a ser estudada desde a infância, e que já entraria na grade do ano seguinte!
Portanto, os holandeses estão sempre muito antenados com o futuro, e agem rapidamente para se atualizarem. E essa cultura é ótima para empreendedores, que precisam inventar coisas novas, e estar a frente das novas necessidades da sociedade e das organizações.
Inteligência para lidar com pessoas diferentes
Estudar na Holanda com certeza vai te colocar em contato com pessoas de diferentes nacionalidades. A minha sala de mestrado contava com pessoas de 13 países diferentes: Brasil, México, Alemanha, Indonésia, Irã, Estados Unidos, Bélgica, Rússia, Checoslováquia, França, Inglaterra, Espanha e Holanda. Para um futuro empreendedor, isso é um cenário ótimo de aprendizagem!
O empreendedor precisa desenvolver bastante empatia para entender as necessidades de pessoas diferentes e agir perante a isso. Estudando no Brasil podemos fazer isso também, mas acredito que as diferentes nacionalidades deixam essas diferenças e semelhanças das necessidades mais em destaque, e a sensibilidade de ouvir para realmente tentar entender o outro fica mais aflorado. Assim, se colocar em situações de estudo, de trabalho em grupo, em que os desafios interculturais estão aflorados, ajuda muito a desenvolver algumas habilidades fundamentais para um empreendedor, como a inteligência social.
Conhecimentos que o tornam um profissional único e diferenciado
Estudar outras referências, através de outras perspectivas, com certeza adicionaria muito valor ao estudante. Os que acabam estudando somente no Brasil podem possuir acesso a uma limitada gama de referências de autores, teorias, metodologias, etc. Principalmente porque nem tudo de inovador e diferente acaba sendo traduzido para o Português.
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Então, estudar em um idioma mais global, como o inglês, te conecta automaticamente a muitas referências alternativas. Quando se estuda num ambiente mais internacional – e a Holanda respira na sua cultura a mistura com quase todas as partes do mundo -, você acaba vendo novas formas de contar e perceber o mundo. Isso forma profissionais bem diferenciados e únicos para o mercado brasileiro. E um bom empreendedor passa a usar isso ao seu favor, com certeza!
Mente focada em projetos e oportunidades
Ao estudar na Holanda, percebi que os holandeses encontram oportunidades em tudo o que fazem. Um exemplo: na minha aula de mestrado, tínhamos que ler 25 livros por ano. Bom, isso é humanamente impossível, correto? Então, como a universidade se organizou: pediu que cada um dos 25 alunos lessem 1 livro, e que criassem um resumo no estilo TED, com cerca de 15 minutos de apresentação cativante.
Como a maioria dos livros eram de inovação em administração de empresas, eles perceberam também que gestores e donos de startups também não tinham tempo de ler os 25 livros. Assim, eles criaram um dia de evento, onde os alunos iam apresentar seus resumos em estilo TED e venderam ingressos para esses gestores e empreendedores.
O projeto foi um sucesso! E o dinheiro que os alunos ganharam com este evento puderem investir em uma experiência educacional decidida pelo grupo. Então, poder estudar em um ambiente em que ler um livro acaba virando um super projeto bacana, é um ótimo local para treinar a mente de um futuro empreendedor focado em projetos e oportunidades.
Eu tive essa oportunidade de fazer o meu mestrado na Holanda, e hoje eu sou empreendedora no Brasil. Com certeza estudar nesse ambiente foi um divisor de águas na minha vida! Eu espero que depois de ler a minha experiência você considere também o país como destino da sua próxima formação.
Sobre a autora
Clara Bianchini é ex-aluna do Mestrado em Imagineering na Breda University of Applied Science, na Holanda. É cofundadora da consultoria de inovação para organizações chamada CO-VIVA. Professora de Inovação da Escola Superior de Engenharia ESEG e professora convidada da INSEEC Business School em Paris. Colunista do portal Consumidor Moderno