Cada universidade tem um ambiente, e um dos fatores que impacta isso é a idade média de seus pesquisadores. Em geral, a gente imagina que pesquisadores univesitários (especialmente na área de pós-graduação) costumam ser mais velhos. Mas esse nem sempre é o caso, especialmente em alguns países da Europa.
É isso que indicam os dados do Eurostat, a agência de estatísticas da Comissão Europeia. O Eurostat, entre outras coisas, publica dados sobre a idade dos pesquisadores universitários dos países membros da União Europeia. Esses dados (que podem ser vistos neste link) mostram algumas diferenças marcantes entre os países da região, e podem ser interessantes para quem quer fazer pesquisa na Europa.
As universidades mais “jovens” da Europa
Por exemplo: na Alemanha, quase 25% dos acadêmicos têm menos de 30 anos. E mais da metade (54,8%) dos pesquisadores do país tem idades inferiores a 40 anos. O único país do bloco que tem quadros de funcionários universitários mais “jovens” é a Turquia, onde esse número é de 58,4%. Mas mesmo por lá, a proporção de pesquisadores com menos de 30 anos ainda é menor: 21,6%.
Isso, no entanto, só é válido se nós não contarmos Liechtenstein. Trata-se de um país bem pequeno, com menos de 38 mil habitantes e uma área aproximadamente dez vezes menor que a do município de São Paulo. Por lá, 71,4% dos pesquisadores universitários (quase três quartos) tem menos de 40 anos. Mas as dimensões pequenas do país acabam dando a ele esses números excepcionais. É o que acontece também com Luxemburgo.
Tirando esses casos, alguns dos países da Europa nos quais a porcentagem de acadêmicos com menos de 40 anos de idade é maior são: Turquia (58,4%), Alemanha (54,7%), Holanda (46,5%), Noruega (40,2%) e Eslováquia (33,8%).
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As universidades mais “maduras” da Europa
Por outro lado, alguns países destacam-se por ter uma grande proporção de universitários de alto nível com idades de 60 anos e acima. É o caso, por exemplo, da Letônia, onde o número de pesquisadores nessa faixa etária chega a 26,3%. A Bulgaria também se encaixa nessa categoria, com 25,8% de seus empregados na educação terciária acima dos 60 anos de idade.
A própria Eslováquia, que tem mais de um terço de pesquisadores com menos de 40, também tem 23,4% de funcionários universitários com idades superiores a 60 anos. Isso significa que as idades dos acadêmicosno país são muito bem distribuídas. A Turquia e Alemanha, por outro lado, têm apenas 4,7% e 8,9 % (respectivamente) de funcionários universitários nessa faixa de idade
De maneira geral, as universidades da Europa com maior proporção de pesquisadores com mais de 60 anos são: Letônia (26,3%), Bulgaria (25,8%), Eslováquia (23,4%), Hungria (20,3%) e Eslovênia (19,3%).
Por que surgem essas diferenças?
É curioso que haja tais disparidades nas idades dos pesquisadores entre os diversos países da Europa. No entanto, alguns especialistas ouvidos pela Times Higher Education levantaram algumas hipóteses que podem explicar por que essas diferenças de idades aparecem.
Thomas Jørgensen, coordenador de políticas sênior da Associação de Universidades Europeias (European University Association), ressalta que a definição de “pesquisador universitário” varia entre os países. Assim, países como Alemanha e Noruega chamam os seus alunos de Ph.D. (equivalente ao nosso doutorado) de pesquisadores universitários e consideram-nos como parte de seu quadro de funcionários.
Outros países, no entanto, só consideram parte de seu staff aqueles pesquisadores que já tenham concluído o Ph.D. Naturalmente, isso provoca algumas distorções, e Jørgensen argumenta que pode ser um dos fatores que explica a proporção maior de jovens nas universidades da Alemanha e da Noruega.
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Impacto da aposentadoria
Se isso, por um lado, explica por que tantos jovens escolhem fazer pesquisa na Europa, outra questão explica por que poucos pesquisadores mais velhos saem. Sobre esse ponto, o diretor do Centro de Pesquisa sobre Políticas Públicas da Adam Mickiewicz University, Marek Kwiek, considera que as leis de aposentadoria dos diferentes países pode ter uma influência.
Segundo Kwiek, países do leste europeu costumam não ter leis de aposentadoria tão generosas quanto na Europa Ocidental. Isso significa que, por lá, os pesquisadores precisam continuar trabalhando até mais tarde para se sustentar. Jørgensen também reconhece a influência que esse fator pode ter. “Em alguns países, simplesmente não há idade de aposentadoria; você vai pesquisando até cair”, disse em entrevista ao Times Higher Education.
Kwiek considera que isso pode ser um problema, já que “embora alguns acadêmicos mais velhos sejam altamente produtivos, também há pesquisadores improdutivos nesse grupo”. Isso tem levado a algumas medidas, como a oferta de financiamentos para pesquisas “direcionadas especificamente para acadêmicos jovens”, de acordo com Kwiek. Isso, na visão dele, “aumenta um pouco a atratividade da profissão”, e pode fazer com que mais jovens optem por fazer pesquisa na Europa.