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9 autores e intelectuais negros essenciais para entender o presente

A falta de autores e referências negras em ambientes acadêmicos ainda é uma realidade na maioria dos países do mundo, mas coletivos e entidades antirracistas têm consegui alguns avanços nos últimos anos. Uma pesquisa divulgada pelo IBGE revelou que, pela primeira vez, o número de estudantes negros e pardos nas universidades públicas brasileiras ultrapassou o de brancos. Trata-se de uma conquista importante de igualdade e de formação de pensadores negros num país em que metade da população se encaixa nesse perfil étnico.

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No entanto, a entrada de autores negros nas bibliografias das disciplinas universitárias ainda está longe dessa meta. Uma olhada na lista de livros lidos por estudantes de Stanford e Harvard, por exemplo, revela a ausência de intelectuais negros entre os estudados nessas universidades.

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Mas isso não significa que eles não existam, muito menos que suas contribuições não sejam essenciais para o nosso entendimento do mundo contemporâneo. Por isso, listamos a seguir autores e pensadores negros cujas contribuições para a ciência são vitais para o nosso momento. Confira:

9 autores e pensadores negros essenciais para enteder o presente

bell hooks

A escritora e ativista bell hooks, falecida no ano passado, escreveu alguns dos livros fundamentais para compreensão de questões sociais e culturais centrais da atualidade. Autora de títulos, como Tudo sobre o amor e O feminismo é para todos, o legado de hooks é uma aula sobre como abordar temas difíceis de forma inteligente e sensível. Para relembrar a importância de hooks, retomamos este texto sobre 9 autores e intelectuais negros que são essenciais na vida de qualquer estudante.

bell hooks (em minúsculas mesmo) é o nome usado pela autora Gloria Jean Watkins em seus livros. Em uma palestra na Rollins College, ela contou que adotou o nome da sua bisavó, que era conhecida pela língua afiada, e que usa as minúsculas tanto para se diferenciar dela quanto para manter o foco “na substância dos livros, não em quem eu sou”. Filha de um zelador e de uma dona de casa, ela se graduou em Stanford em 1973, conquistou o mestrado na Universidade de Wisconsin-Madison em 1976, e o doutorado na University of California, Santa Cruz em 1983.

Com mais de 30 livros publicados, bell hooks já escreveu sobre temas como pedagogia engajada, gênero e comunidades. Em seu livro “Feminismo é para todos”, ela se consolidou como uma das principais defensoras da noção de feminismo como o fim da opressão e exploração baseada em gênero. Ela também é uma das principais responsáveis pelo nosso entendimento do papel que a representação distorcida de negros na mídia cumpre na perpetuação de pensamentos e atitudes racistas.

Achille Mbembe

Achille Mbembe

O filósofo e teórico político Achille Mbembe nasceu nos Camarões em 1957. Em 1989, obteve seu Ph.D. em História na Universidade de Sorbonne, em Paris, e desde então ocupou cargos em universidades como Columbia, Duke, Yale, University of California, Berkeley e UPenn. É considerado um dos pensadores mais relevantes da atualidade e trabalha como professor do instituto W.E.B. Dubois em Harvard.

Os temas estudados por Mbembe são a histórica da África, o pós-colonialismo e seu impacto nas relações de poder contemporâneas. Ele é conhecido por estabelecer o conceito de “necropolítica”, que entende a morte como exercício final de dominação do poder estatal, e que expande as noções de biopoder estabelecidas por Foucault. É uma ideia que amplia o entendimento de questões como a “guerra às drogas” e a subjugação da Palestina, por exemplo. No Brasil, estão disponíveis suas obras mais recentes, Crítica da Razão Negra e Políticas da Inimizade.

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Angela Davis

Angela Davis se tornou famosa por sua atuação junto aos Panteras Negras nos Estados Unidos entre as décadas de 60 e 70. Seu ativismo é embasado numa trajetória intelectual de excelência: ela foi uma das três alunas negras da Brandeis University, onde fez sua graduação, e depois tornou-se aluna do filósofo Herbert Marcuse nas universidades de Frankfurt e California, San Diego. Já publicou mais de 10 livros sobre temas como feminismo e a luta de classes vista da perspectiva racial.

Se hoje conseguimos perceber as diversas maneiras como o racismo continua a agir na nossa sociedade, é em parte graças ao trabalho de Davis. Suas pesquisas históricas revelaram como os negros, e principalmente as mulheres negras, continuaram excluídos de muitas das oportunidades de ascenção econômica mesmo com o fim da escravidão. Ela também foi responsável por dar vsibildiade a diversos pensadores negros que antes não eram reconhecidos, e a resgatar a história de luta do povo negro dos EUA por sua liberdade. Sua obra é importantíssima para entender o racismo institucional que agu na formação das sociedades ocidentais contemporâneas.

Chimamanda Ngozi Adichie - Foto de Geoffrey Baker

Chimamanda Ngozi Adichie

A autora Chimamanda Ngozi Adichie é mais conhecida por seus romances Hibisco Roxo, Meio Sol Amarelo e Americanah. No entanto, além de sua carreira literária, ela também tem uma obra bastante robusta de ensaios e uma trajetória acadêmica muito respeitável. Natural da Nigéria, ela se mudou para os EUA com 19 anos para estudar na Universidade de Drexel, e fez mestrados em escrita ciriativa (pela Universidade Johns Hopkins) e estudos africanos (por Yale).

Tanto em seus romances quanto em seus ensaios, os principais temas que Chimamanda aborda são feminismo e a identidade do continente africano. Ela é a responsável por um dos “TED Talks” mais vistos da história, intitulado “O perigo de uma história única”, no qual ela fala sobre a ausência de referências positivas sobre a África no Ocidente. Outra palestra sua de muito sucesso é intitulada “Sejamos Todos Feministas”, na qual ela expõe suas experiências sobre ser uma feminista africana.

Frantz Fanon

Nascido em 1925 na Martinica, ilha caribenha colônia francesa, Frantz Fanon estudou Medicina e Psiquiatria na Universidade de Lyon, na França. Isso, no entanto, só depois de que ele tivesse participado da 2ª Guerra Mundial como parte das Forças Livres Francesas e lutado na Algéria e na Alsácia. Sua experiência com o racismo durante a guerra — não só dos nazistas, mas também dos soldados brancos que lutavam ao seu lado — marcaria a sua trajetória acadêmica.

Em livros como Peles Negras, Máscaras Brancas, Fanon descreveu os efeitos psicológicos negativos da dominação colonial sobre os povos negros. Foi um dos primeiros pensadores negros a descrever o racismo como um procedimento por meio do qual se nega a humanidade das vítimas, e a falar sobre seus efeitos sobre a psiquê tanto de quem sofre quanto de quem comete racismo. Seu trabalho foi fundamental na luta pela libertação da Algéria, que também era colônia da França na época.

Milton Santos

Milton Santos

O geógrafo brasileiro Milton Santos nasceu em 1926, formou-se em Direito na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1948 e fez doutorado na Universidade de Estrasburgo, na França, entre 1956 e 1958. Ao longo de sua trajetória intelectual, ele se tornaria professor livre docente da UFBA e receberia o título de doutor honoris causa de mais de 20 universidades do mundo. Foi professor convidado de universidades como a Universidade de Toronto e trabalhou junto com Noam Chomsky no MIT.

Milton Santos é reconhecido como um dos principais pensadores negros do mundo. Entre as contribuições de Milton Santos para a geografia contemporânea, destacam-se suas pesquisas sobre as economias de “terceiro mundo” e sobre o subdesenvolvimento. Ele também é reconhecido como um dos grandes críticos do conceito de “globalização”, que ele enxerga como um processo produtor de novos totalitarismos, um eliminador de culturas e um transformador de “cidadãos” em “consumidores”.

Lélia Gonzalez

A antropóloga e socióloga brasileira Lélia Gonzalez se formou em História e Filosofia pela Universidade do Estado da Guanabara (atual UERJ), fez mestrado em Comunicação Social e doutorado em antropologia política. Também chefiou o departamento de Sociologia e Política da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, pesquisando sobre gênero e etnia.

Lélia teve grande importância na estruturação do movimento negro brasileiro ao longo da segunda metáde do século XX. Foi uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado, oficializado nacionalmente em 1978, e militou por organizações como o Instituto de Pesquisa de Culturas Negras e o Coletivo de Mulheres Negras N’Zinga. Também atuou no Conselho Nacional dos Direitos da Mulher de 1985 a 1989. Com sua pesquisa e militância, ajudou a melhorar nossa compreensão sobre a condição das mulheres negras no Brasil e a lutar pelos direitos delas.

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Neil deGrasse Tyson

Neil deGrasse Tyson

O astrofísico Neil deGrasse Tyson se formou em física em Harvard em 1980, fez mestrado em astronomia na University of Texas at Austin concluindo em 1983, e conquistou o Ph.D. em astrofísica na Columbia university em 1991. Em toda a sua trajetória acadêmica, pesquisou sobre cosmologia, a formação dos corpos celestes e a evolução das estrelas.

Apesar de ser um dos pensadores negros com trabalho mais expressivo nessa área, Tyson é mais conhecido hoje como educador e divulgador científico. Ele frequentemente participa de palestras e programas de TV para falar de maneira clara e simples sobre questões científicas complexas, e em 2014 apresentou a série de TV Cosmos, uma continuação da série de mesmo nome criada por Carl Sagan na década de 1980.

Sueli Carneiro

Sueli Carneiro

Sueli Carneiro é fundadora do Geledés — Instituto da Mulher Negra. Começou sua trajetória acadêmica estudando Filosofia na Universidade de São Paulo em 1971, e hoje é doutora em Educação com título obtido pela mesma instituição. Autora de mais de 150 artigos e 17 livros, ela teve seu trabalho reconhecido com o Prêmio de Direitos Humanos da República Francesa em 1998.

Sua área de pesquisa é a estruturação do racismo no Brasil e o feminismo negro. Em seus textos, ela analisa os processos sociais por meio dos quais negros e negras são, com frequência, relegados a posições menos privilegiadas. Em seu doutorado, fala também sobre o racismo como dispositivo social de bio-poder.

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