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Inteligência emocional para quem vai estudar fora: saiba como desenvolver

Embora muito se fale da inteligência necessária para resolver problemas e ir bem em provas, “inteligência” é uma ideia complexa. Sem dúvida, essa inteligência tradicional necessária para ter bom desempenho nos estudos é importante. Mas igualmente essencial é a chamada “inteligência emocional”.

Esse tipo de inteligência é o que determina a nossa capacidade de lidar com situações difíceis e de nos adaptarmos a diferentes contextos. E ter um tipo de inteligência não significa automaticamente ter a outra também, o que significa que ela também precisa ser exercitada.

Ainda que fale-se relativamente pouco em “inteligência emocional”, ela é extremamente importante para quem pretende estudar fora. Afinal, o desafio de chegar a um país desconhecido e precisar se inserir numa sociedade com língua e costumes distintos não é pequeno.

Por maiores que sejam as diferenças, no entanto, superar essas barreiras é possível. E seguindo algumas dicas bem simples, esse processo de adaptação pode ser bem menos custoso do que parece.

Adaptando-se ao novo ambiente

“Frio, gelo, cinza. No primeiro dia de trabalho “colegas” passavam no corredor na frente da minha sala e iam almoçar, e eu acabei me encontrando em um andar praticamente vazio na hora do almoço e desci para ir comprar um sanduíche em algum lugar”.

É assim que Cristina Nakagawa descreve seu primeiro dia de trabalho em uma empresa parisiense após se mudar para a capital da França no ano 2000. E ela ainda tinha as vantagens de conhecer bem a língua do lugar e de já ter tido experiências desafiadoras de intercâmbio.

Esses desafios iniciais, no entanto, não impediram que ela desenvolvesse uma carreira invejável na França ao longo dos últimos 18 anos. Ela trabalhou como executiva da Renault-Nissan, foi professora de Yoga pelos últimos três anos e, recentemente, aceitou uma proposta para voltar a atuar no mundo corporativo.

“Não me arrependo nem um momento destes anos de experiência. Não são fáceis mas me transformaram e me levaram a buscar o melhor do que eu poderia ser e agir”, ela conta.

Enturmando-se em outro país

De acordo com Viviane Vicente, especialista em adaptação cultural, desafios como os que Cristina descreve são comuns, e podem aparecer de diversas maneiras. “Alguns se chocam com o clima, ao saírem do inverno ameno do sudeste do Brasil para o Canadá ou para a Finlândia. Outros têm dificuldade com a culinária do país de destino, e se tornam dependentes de produtos importados do Brasil”, comenta.

Esses problemas, porém, podem levar algum tempo para aparecer. Isso porque, segundo Viviane, “existe um período de “lua-de-mel”, de encantamento com a nova cultura, em que tudo o que faz parte do novo parece atraente, fascinante”.

Mas depois, Viviane continua, “a pessoa começa a sentir falta de comer as comidas, preparadas do jeito e no horário em estava acostumada; sente falta de falar do mesmo jeito e usar referências culturais da infância, e vem aquela saudade da nossa ‘casa’”.

A questão das referências culturais é um ponto que Cristina também levanta, pois torna difícil a comunicação mesmo que a pessoa já conheça a língua. “O problema nao é tanto o idioma em si. Em um grupo, tomando um café, as pessoas conversam sobre política, economia, história, arte, cultura… e tinha momentos em que eu não tinha como participar”, comenta.

A solução que ela encontrou para isso foi passar a ouvir rádio no caminho de 30 minutos de ida e volta do trabalho até sua casa. Com isso, ela conseguia ter acesso aos principais temas, notícias e opiniões que circulavam entre as pessoas, e conseguia participar melhor das conversas. Não foi fácil, segundo ela, mas rendeu ótimos resultados.

Cultura além da língua

Sem dúvida, saber falar a língua local — ou dispor-se a aprender, caso ainda não saiba — é essencial para se inserir melhor no novo país. Como coloca Viviane, “língua e cultura não podem ser dissociadas: uma informa a outra o tempo todo”

Por isso, ela considera que “quanto maior a fluência no idioma do país escolhido, maior será a desenvoltura para lidar com todas as situações, a autoconfiança para atingir o objetivo traçado, e mais fácil será a aceitação [da pessoa] como alguém que tem algo a contribuir”.

Mas isso é só o começo. Porque além da questão da linguagem e das referências culturais, há também fatores comportamentais que precisam ser levados em conta. Esses fatores podem determinar até mesmo a maneira como as pessoas usam a linguagem, e se não forem levados em consideração, podem gerar desentendimentos.

“Dizer ‘eu não gosto de couve-flor’ é diferente de dizer ‘ah, agora não, obrigada’, e mais diferente ainda do simples gesto de passar a travessa de couve-flor adiante sem se servir”, comenta Viviane a título de exemplo. Essa situação mostra a diferença entre usos mais ou menos diretos da linguagem.

Segundo Viviane, “americanos utilizam comunicação direta relativamente ao estilo brasileiro, mas procuram ser um pouco sutis na hora de oferecer feedback negativo. Alemães e holandeses são, no geral, ainda mais diretos. Japoneses usam, via de regra, um estilo de comunicação indireto, e o conhecimento do contexto ajudará a decifrar a mensagem”.

É importante atentar-se para isso, segundo Viviane, porque usos mais diretos da linguagem podem soar estranhos, e até ofensivos, para nós. Mas é bem possível que o interlocutor não tenha nenhuma intenção de ofender, e só esteja falando da maneira como é acostumado.

Cristina conta já ter observado problemas desse tipo em sua carreira. “Hoje as culturas asiáticas tentam fazer um ‘briefing’ de estudantes que vêm para a França dizendo que eles têm que ser mais assertivos e expressarem o que pensa, em vez de deixar o lado coletivo ditar o comportamento. Ja observei asiáticos tentarem ao pé da letra o conselho de ter um comportamento assertivo e agirem de forma violenta em reuniões”, diz.

É, afinal de contas, um processo que leva tempo. Enquanto essa adaptação não vem, Viviane considera que “o princípioque deve guiar o estudante internacional é sempre respeito: genuinamente respeitarmos as pessoas e o pais que nos recebe”.

Como desenvolver inteligência emocional?

Cristina oferece uma série de dicas úteis para quem vai estudar fora se preparar. Uma delas é escrever um texto para si mesmo, explicando por que deseja ir. “Reler o texto nos momentos difíceis também vai ajudar a rememorar por que você está lá e o que você está buscando”, diz.

Ela ressalta também a importância de equilibrar sua energia fazendo atividades como esportes, passeios e encontros com amigos. “Estar longe de casa, sem família e amigos próximos é uma luta diária. Só nós mesmos podemos decidir reservar bons momentos para recarregar nossas próprias baterias para continuar essa aventura incrível e tãoo enriquecedora”, reforça.

Outra dica importante que ela oferece é: buscar ajuda. Seja mostrando-se vulnerável a uma pessoa mais próxima e convidando-a para tomar um café, seja procurando por profissionais. Cristina mesmo conta que se consultou com uma coach de carreira especializada em liderança feminina. E como a profissional estava no Brasil, as consultas foram por Skype.

Esse é um ponto interessante: fazer terapia pode ajudar muito, mas também pode ser difícil tratar de temas pessoais com profissionais de outro país, com outra cultura e que falam nativamente outra língua. Nesse sentido, plataformas como a Vittude podem ajudar.

Essas plataformas permitem o agendamento de consultas com profissionais de saúde mental via internet. Isso elimina a barreira da linguagem. A Vittude diz que já atende mais de 5 mil pacientes, incluindo brasileiros em 30 países diferentes. No site da empresa, há um depoimento que ressalta a importância da plataforma para quem está fora do país natal.

Vantagens da adaptação

Acostumar-se à vida em outro país é algo que tem benefícios duradouros, mesmo para quem volta para casa. Afinal, quem passa por essa experiência ganha muito conhecimento sobre como se adaptar em ambientes diferentes, o que é útil para a vida toda.

“Nosso cérebro se torna capaz de identificar as diferenças de clima, comunicação, expressividade das emoções, desejos e insatisfações, e se molda mais rapidamente ao que cada situação exige”, comenta Viviane.

Essas habilidades, de acordo com ela, serão muito úteis durante a vida profissional. Com elas, “os diferentes estilos de comunicação e gestão serão facilmente identificados; interações humanas se tornarão mais naturais, e projetos podem alcançar maior eficiência”, segundo Viviane.

E por mais que esses diferenciais na carreira possam ser importantes, ela acredita que o principal benefício dessa experiência é algo mais pessoa: o melhor de tudo é sentir-se bem em ambientes diversos – à vontade, capaz, realizado: sentir-se cidadão do mundo”.

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