Embora estudar medicina integralmente nos Estados Unidos seja um processo bem complicado e difícil para estrangeiros, isso não significa que não seja possível viajar para lá e estudar nessa área. Foi o que Matheus Reis, aluno da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), fez. Entre junho de 2019 e agosto de 2020, ele fez intercâmbio de medicina nos EUA estudando na Harvard Medical School.
“Eu sempre quis estudar nos EUA, mas nunca tinha visto a oportunidade de um jeito próximo”, comenta. Mas em uma viagem para Boston, ele conheceu os programas para estudantes estrangeiros da escola de medicina de Harvard e decidiu se candidatar. Foi aceito em 2019 como estudante visitante de medicina na universidade.
Estudar medicina nos EUA
Matheus participou do Program in Global Surgery and Social Change da universidade, que aceita no máximo 8 estudantes por ano. Também participou do Harvard Exchange Clerkship Program, que oferece oportunidades de estágio clínico em hospitais ligados à universidade.
Como ele conta, há algumas diferenças práticas entre a formação de médicos nos EUA e no Brasil. “Lá, medicina é uma grad [pós-graduação], e aqui é uma graduação. E por isso, quando você vai fazer intercâmbio de medicina para lá, você é visto como aluno de grad“, comenta.
Por conta disso, a média de idade dos estudantes nas turmas é um pouco maior — segundo Matheus, as idades mais comuns eram entre 28 e 30 anos. Alunos de pós-graduação nos EUA também não costumam ter acesso a alguns dos recursos de apoio que alunos da graduação têm, como residência dentro do campus.
Vantagens do intercâmbio de medicina nos EUA
Na visão de Matheus, um lado muito positivo da experiência foi a falta de burocracia. No Brasil, por exemplo, ele precisava escrever receitas de remédios e pedidos de exame em papel, que o paciente depois precisava levar à farmácia ou ao laboratório; lá, era possível fazer tudo pelo computador.
Outro aspecto do intercâmbio que foi importante para ele foi perceber as possibilidades de carreira em Medicina que existem nos Estados Unidos. Por lá, além de trabalhar em clínica ou pesquisa, o estudante diz que é comum também ver médicos indo para áreas de consultoria ou até mesmo para o mercado financeiro.
“Para mim fez muito sentido, porque eu vi que não quero trabalhar com pesquisa. Gosto da área mais clínica e prática e talvez até do mercado financeiro”, comenta Matheus. O intercâmbio em Medicina nos EUA, para ele, foi importante também para dar essa clareza sobre as possibilidades para o futuro.
Diferenças no estudo
Ao mesmo tempo, Matheus conta que as diferenças na qualidade do ensino entre Harvard e a USP, onde ele estudou antes, eram pequenas ou inexistentes. “A medicina que a gente pratica hoje, chamada de medicina baseada em evidências, não tem muita diferença entre um lugar e outro. A USP, por ser um centro de referência, segue as mesmas diretrizes que lá”, diz.
O estudante conta que tirou a melhor nota de sua turma em uma das primeiras disciplinas que fez, o que pode surpreender quem tem a impressão de que os estudantes dos EUA são melhores ou mais dedicados. “Não é questão de eles serem mais inteligentes do que nós, é questão de oportunidade”, avalia.
Isso não significa, por outro lado, que a experiência não acrescentou nada — longe disso. “O aprendizado não-acadêmico é o que a gente acaba desenvolvendo. E amadurecendo escolhas também, decidindo o que você quer, quem você é”, reflete.
Vale a pena?
Ao mesmo tempo, Matheus, que chegou a estudar um tempo na Universidade Federal do Rio de Janeiro, sentiu uma diferença grande entre a infraestrutura da federal e de Harvard. Em particular, sentiu que a oferta de atividades práticas na universidade do Rio de Janeiro era menor que a da escola pública paulista. Por isso, acredita que alunos de algumas escolas federais possam se beneficiar bastante das experiências práticas que a universidade estadunidense oferece.
Essa é uma oportunidade que Matheus acredita que estudantes do Brasil devem ter em mente — ele próprio diz se arrepender de não ter tentado antes para fazer a graduação lá. “Muitas vezes a gente tem a percepção de que o muro é mais alto do que a gente consegue saltar, mas não é”, conclui.