O crowdfunding (financiamento coletivo) ganhou visibilidade nos últimos anos e tornou-se um importante aliado de quem quer estudar fora, mas não tem condições financeiras. Diversos estudantes aprovados nas melhores universidades do mundo já recorreram à “vaquinha online” para financiar suas viagens. É o caso, por exemplo, de Jessé Candido, de 18 anos, que em 2014 contou com o crowdfunding para arrecadar o valor necessário para ir à Universidade Stanford, no EUA. E deu certo: em poucos dias, ele conseguiu mais de R$ 16 mil, valor que ultrapassou significativamente a meta dele, que era de R$ 10 mil.
Outro caso de sucesso é o do Renan Kuntz, que realizou um crowdfunding para ir cursar a graduação na Universidade de Tulsa, nos Estados Unidos. Embora ele tenha recebido uma bolsa generosa da universidade, as despesas restantes ainda eram muito altas: faltavam 20 mil reais. Através de crowdfunding, ele conseguiu 25 mil – e explica no vídeo abaixo quais foram os fatores mais importantes para o seu sucesso:
Se você também quer fazer intercâmbio – e envolver amigos e familiares nesse projeto, veja a seguir oito dicas para uma campanha de sucesso:
1. Entenda como funcionam as plataformas
Existem inúmeros portais de financiamento coletivo, tanto brasileiros como estrangeiros. Entre os nacionais, os mais conhecidos são o Catarse, o Kickante e o Benfeitoria. Entre os internacionais, os maiores são o GoFundMe, o Kickstarter e o Indiegogo.
Cada um tem seus benefícios e regras próprias. O Catarse, por exemplo, é o mais popular e possui uma audiência maior do que os outros portais brasileiros – o que significa que um maior o número de pessoas desconhecidas terão a chance de entrar em contato com o seu projeto.
Por outro lado, o Kickante oferece a possibilidade de se criar campanhas flexíveis, em que você recebe o valor arrecadado mesmo sem atingir sua meta – desde que pague uma taxa maior à plataforma. Já o Benfeitoria tem um lado mais social e cobra uma taxa menos dos usuários.
Os portais internacionais talvez ofereçam a vantagem de você atingir mais pessoas pelo mundo todo. Contudo, por serem em inglês, pode acabar prejudicando o engajamento da sua própria rede no Brasil.
O mais importante é não avançar antes de entender as regras de “tudo ou nada” e “pedidos e recompensas” da plataforma escolhida. Na maioria dos portais, se a meta mínima não for atingida, todo o valor arrecadado é devolvido aos colaboradores!
2. Dedique um bom tempo à sua campanha
A possibilidade de se conseguir financiamento coletivo para um projeto pessoal é muito interessante, mas isso não quer dizer que seja fácil. O crowdfunding exige muita dedicação! Então, antes de se comprometer, certifique-se de que terá tempo para se empenhar.
Não se esqueça de que você será o responsável por formatar todos os materiais da campanha, divulgar para sua rede, responder aos colaboradores, postar novidades, preparar e entregar recompensas.
3. Crie um argumento envolvente e coletivo
Para um projeto ser viabilizado de forma colaborativa, as pessoas precisam se sentir parte dele. Por isso, garanta que a relação com seus colaboradores seja transparente e convidativa. O projeto também precisa encontrar seu principal argumento no envolvimento coletivo, ter apelo emocional e focar na mobilização.
No seu caso, o objetivo do projeto pode ser arrecadar dinheiro para pagar seu curso em uma universidade fora. Contudo, a proposta de engajamento deve ir além e incluir, por exemplo, apoiar jovens talentosos brasileiros a terem a melhor educação possível e com isso se tornarem grandes transformadores. Com esse ponto definido, recomenda-se que o vídeo e o texto de apresentação comecem apresentando essa proposta.
Leia também: Como aproveitar ao máximo seu intercâmbio
4. Ofereça recompensas que sejam atraentes
Esta é uma questão muito importante. É necessário gerar uma relação ganha-ganha com os apoiadores. As recompensas transformam a simpatia pelo projeto em colaboração. Uma relação de custo benefício interessante potencializa arrecadação do projeto. Seja criativo e inspire-se com alguns projetos bem sucedidos. Seguem algumas dicas:
- Ofereça faixas de valores diferentes de recompensa (de 5 a 8 faixas), a partir de R$ 10
- Capriche na faixa de R$ 25 a R$50, a maioria das colaborações são nessa faixa
- Pense em 3 categorias de recompensas:
Simbólicas. Exemplo: música em homenagem.
Concretas. Exemplos: pré-venda do que será produzido, outros subprodutos, brindes. No seu caso, pode ser um blog compartilhando as suas experiências, um cartão postal enviado quando você estiver na universidade, um camiseta da universidade etc.
Experiências. Exemplo: uma aula por Skype sobre como se candidatar a universidade fora, uma aula de inglês, uma conversa de mentoria etc.
Além das colaborações financeiras, você também pode pedir colaborações não financeiras, como alguns itens que você precise para a sua viagem. Lembre-se de que essas colaborações também devem ter recompensas.
O projeto só terá sucesso quando você mesmo tiver vontade de ter uma das recompensas. Não poupe criatividade!
5. Capriche no vídeo, nas imagens e no texto
Uma ideia só envolve as pessoas quando apresentada de forma sedutora. Seguem abaixo algumas considerações importantes para a formatação dos materiais para seu projeto.
Vídeo: Esse é o material principal de mobilização. A melhor maneira de captar a atenção é usar um vídeo com uma linguagem criativa e com formato claro, didático e curto. Vídeos que seguem a estrutura de roteiro abaixo têm cinco vezes mais potencial de arrecadação:
– Formato: O tempo ideal é de 2 a 3 minutos. Seja convincente e convidativo. Demonstre sua paixão pelo projeto!
– Estrutura de roteiro: Apresente-se e diga o que espera realizar. Problematize e deixe claro qual a proposta de engajamento do projeto. Diga como e quando ele será realizado. Cite quem está envolvido no projeto. Se for o caso, fale sobre a mecânica do tudo ou nada: se o projeto chegar aos 100%, ele é realizado e os colaboradores ganham as recompensas, caso ao contrário, o dinheiro volta para as mãos dos colaboradores. Apresente ao menos uma das recompensas do projeto como exemplo. Faça o convite à participação do projeto (Não usar o termo “doação” ou “ajuda”, mas sim “colabore, faça parte, contribua!”). Inclua uma legenda com a chamada para o endereço da página do projeto.
– Linguagem: Você pode fazer o vídeo com a linguagem que preferir, porém, é obrigatório conter todos esses itens acima. Sugerimos que você avalie vídeos de projetos bem-sucedidos nas diferentes plataformas.
Imagem principal: É a imagem que aparece na capa do projeto. O objetivo dela é chamar a atenção dos colaboradores para entenderem mais sobre o projeto.
Frase de resumo: É uma frase resumo que todos leem antes de entrar no projeto. Ela tem que expressar a síntese do que se trata a ideia e costuma ter cerca de 100 caracteres.
Texto de descrição: É o texto que apresenta o projeto em maior profundidade. Sugerimos um texto de no máximo 1 página. Essa área é interessante para aprofundar, ilustrar com imagens e também para apresentar algum link específico que conte mais sobre o projeto.
6. Estime o engajamento de seus colaboradores
Não existe mágica: o projeto evolui na proporção da divulgação. E, ainda que haja um efeito multiplicador da divulgação de um projeto nas redes, em média 80% da colaboração vêm da rede direta do idealizador do projeto. Por isso, seu empenho em fazer o projeto acontecer é fundamental.
Se você precisa arrecadar R$ 40.000, e a média de colaborações do seu projeto for de R$ 100 (o que não é um valor baixo!), você precisará estar preparado para mobilizar pelo menos 400 colaboradores financeiros, sendo grande parte deles da sua própria rede! Isso pode significar levar 8.000 visitas à sua página, já que, em média, apenas 5% dos visitantes de um projeto colaboram com ele. Não é fácil, mas é totalmente possível!
7. Estabeleça o valor a ser arrecadado
Estabelecer qual o potencial de arrecadação de um projeto é uma tarefa difícil. Considerando que, quanto maior o valor solicitado, mais trabalhosa é a viabilização, recomendamos pedir o valor mínimo necessário para viabilizar o seu projeto. Se arrecadar mais, ótimo! Dessa forma, existe menos risco de devolução dentro da regra do “tudo ou nada”.
É importante considerar no valor solicitado a comissão da plataforma – se existir – e o custo da integradora financeira (no caso do Moip é 6%), além dos gastos com as recompensas. Na hora de fazer o seu planejamento financeiro e definir o valor que você pedirá em sua campanha, lembre-se de verificar o valor máximo que pode ser pedido.
8. Defina um prazo para o seu crowdfunding
O tempo em que as pessoas poderão apoiar o seu projeto costuma ser de, no máximo, 60 dias. Renan explica que há dois picos de arrecadação na campanha: logo no início, no lançamento, e no final, quando há um senso de urgência para cumprir a meta. “Entre os dois picos há um vale – e a estratégia para bater este vale é investir muito na divulgação”, relembra.
Na época, ele optou por sair do emprego e dedicar-se integralmente à campanha de crowdfunding. ““Há muitas pessoas que querem te apoiar, que vão acreditar no seu sonho, porém se eles não ficarem sabendo da sua campanha é uma oportunidade perdida”, finaliza. Então, faça seu sonho ser ouvido e boa sorte!