Do dia para a noite, uma turma de menos de duzentos estudantes deu um salto e chegou a acumular quase seiscentos. Era o início do meu ensino médio – etapa que trouxe um centenas de novos alunos, cada um com sua bagagem única. Eles vinham de escolas diferentes e estavam acostumados com metodologias de ensino diferentes. Tinham amigos diferentes, histórias de vida diferentes… E eu, que inocentemente pensava saber tanto do mundo, descobri que “o mundo” que eu conhecia tão bem não passava de uma minúscula bolha. Era como se eu fosse uma criança que cresceu nadando em uma piscina de condomínio e, de repente, conheceu o mar.
O choque de descobrir que eu conhecia tão pouco do mundo se tornou uma vontade de descobrir cada vez mais
Senti-me bobo, ignorante, envergonhado até, com a significância ínfima de minhas próprias experiências. Mas acima de tudo, senti uma espécie de fome – fome por novas realidades. Foi um despertar para a estonteante complexidade e beleza da diversidade. Já havia passado tempo demais no mesmo colégio, na mesma cidade, na mesma realidade. Muitas vezes eu me pegava pensando “preciso conhecer gente nova”, sem ver de imediato como eu poderia satisfazer essa necessidade.
Queria descobrir que um outro colégio na verdade não avaliava os alunos da mesma forma que o meu, ou que uma outra pessoa não se importava tanto com o vestibular quanto os meus amigos, ou que uma outra cidade não conhecia o som de uma orquestra completa de buzinas tão bem quanto a minha. O choque de descobrir que eu conhecia tão pouco do mundo se tornou uma vontade fervorosa de descobrir cada vez mais. Eu queria me sentir alienígena, queria perceber que minha vida não era a mesma que todos os outros viviam. Queria quebrar a cara.
Nesse contexto conheci, aqui pelo site Estudar Fora, os United World Colleges (UWC), um grupo de 14 colégios espalhados pelo mundo que acreditam na educação como ferramenta transformadora capaz de construir um futuro no qual as diferentes nações possam conviver pacificamente.
Nesta coluna contarei um pouco sobre como é concluir o ensino médio a 13.872 quilômetros de casa, imerso em uma cultura completamente diferente
Assim, os UWCs reúnem jovens de todos os cantos do mundo para uma experiência educacional pré-universitária de dois anos, para que possam aprender não só com os professores, mas principalmente com seus colegas e com a própria vivência, já que estão ali reunidos mais de meia centena de países e culturas. Era tudo que eu procurava, e sem hesitar, mergulhei de cabeça no processo seletivo deles. E fui aprovado! Agora, inicio meus estudos no Mahindra United World College of India, lá do outro lado do planeta. Isso mesmo, na Índia!
Prazer! Sou Lucas Sato, tenho 16 anos e muita fome de mundo. Nasci e cresci na minha amada São Paulo e nesta coluna contarei um pouco sobre como é concluir o ensino médio a 13.872 quilômetros de casa, imerso em uma cultura completamente diferente (ou melhor: em várias). Mas, sobretudo, em um ambiente tão singular quanto um UWC, um colégio que entende a educação como algo muito mais amplo. O acadêmico, o físico, as artes e os valores pessoais são trabalhados em conjunto, resultando em um desenvolvimento mais completo do aluno. Acredito que, de toda minha vivência, tirarei muitos aprendizados que poderei compartilhar com vocês. Espero poder oferecer uma perspectiva um pouco mais inusitada sobre a experiência de estudar fora (afinal, temos vários colunistas cursando o ensino superior nos Estados Unidos, mas o ensino médio na Índia?), bem como insights sobre a questão multicultural.
Por fim, estarei sempre aberto a perguntas e qualquer tipo de feedback, afinal o conhecimento aqui se constrói em conjunto, por meio da interação.
Fica aqui então meu até logo. E não se esqueçam de quebrar a cara e levantar querendo mais!
_____________________________________________________________________
O paulistano Lucas Sato teve uma educação primária baseada em muita história em quadrinhos. Assim, aos seis anos tomou gosto pelas letras e começou a escrever por hobby. Costuma brincar que é “astrônomo de quintal” e “filósofo de telhado”, com uma lista de interesses que vai de política a jardinagem. Dando aulas de inglês a crianças carentes, descobriu na Educação uma paixão. Hoje, cursa o ensino médio na Índia, no Mahindra United World College (UWC) – um concorridíssmo colégio internacional que reúne estudantes de vários países e tem como missão promover a paz entre os povos.