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A aprovação na Columbia foi só uma das conquistas de Ana Paula Manzalli em um ano

Perfil Lemann Fellow

Se já não é fácil se mudar de cidade para estudar, ainda mais nesse período da vida em que é comum a insegurança bater à porta, fazê-lo um ano após enfrentar uma perda na família é ainda mais complicado. Foi o que aconteceu com Ana Paula Manzalli aos dezoito anos (ela hoje está com 29).

Foi nesse período que ela saiu de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, para morar na capital paulista a fim de prestar o vestibular da ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). Embora inicialmente decidida sobre o curso que queria fazer, a transformação foi mais intensa do que uma mera passagem da condição de aluna do colegial para universitária. “Eu decidi que ia fazer jornalismo na oitava série, quando tive a ideia de fazer um trabalho escolar em formato de telejornal. Mas, quando eu me mudei, teve todo um baque da transição, porque meu pai morreu quando eu estava no final do ensino médio”, relembra.

A adaptação, porém, não se restringiu ao lado pessoal. “Não me adaptei ao curso. Quando acabou o segundo ano (da faculdade de jornalismo na USP), eu ainda não estava feliz com a escolha, mas fui ficando”. Um dos fatores que a colocavam em dúvida com relação à carreira jornalística era o fato de não se empolgar com tarefas cruciais da profissão, como fazer entrevistas. Por outro lado, as diversas opções de laboratório na universidade (como produção de rádio, TV, documentário e revista cultural) foram um estímulo para concluir, de fato, a graduação, em 2010. E foi o envolvimento em um desses laboratórios que a fez entender o que a deixava feliz de verdade: trabalhar com Educação.

Primeira experiência em educação

Ana Paula participou de um projeto de extensão do CJE (departamento de Jornalismo e Editoração da ECA-USP), o Redigir, que consistia em ministrar aulas inclusivas de Português para pessoas com baixas condições socioeconômicas. Ela, no caso, dava aulas de Gramática, e ver a transformação na vida dos alunos acontecendo de maneira tão profunda fez sua veia educadora começar a pulsar.

“Na turma, tinha pedreiro, costureira; pessoas com idades diferentes, de 16 até 65 anos, mas com um ponto em comum: aflição de gramática. Foi muito legal despertar nelas o interesse em entender por que as regras (da língua portuguesa) são como são”, conta Ana, lembrando que ganhou até festa surpresa de aniversário dos alunos.

Um jeito educativo de fazer jornalismo

Além da experiência de voluntariado na faculdade, ela fez estágio na equipe de jornalismo do portal R7, mas, assim que uma área de revisão de textos do site começou a se desenhar, não demorou para que ela integrasse o departamento. “Passei quase todo o período de estágio trabalhando como revisora. Quando terminei a faculdade, uma das únicas áreas no jornalismo que me interessavam era checagem de informações, porque era um trabalho de revisão, mas jornalístico”, explica.

Apurar fatos garantindo que a matéria publicada tivesse passado por várias mãos fez com que a jornalista com perfil de educadora encontrasse um caminho alternativo. Em fevereiro de 2011, foi contratada pela revista Veja para trabalhar com checagem, e lá ficou pelos próximos três anos. “Cabia a mim conversar com o repórter ou com o editor sobre as diferenças que encontrava nas matérias e, juntos, definíamos a versão que ia ficar. Mas não era uma carreira propriamente dita e eu tinha zero interesse em virar repórter. Então, fui fazer teste vocacional”.

Da orientação vocacional à Fundação Lemann

Durante as conversas com uma psicóloga e coach com quem conversava e fazia o teste vocacional propriamente dito, Ana foi traçando seu perfil, com base em propósito de vida e do que ansiava enquanto profissional. “A educação veio porque eu ficava limitada a uma ideia de dar aula. Mas depois descobri que existem muitas formas de trabalhar com educação que não se restringiam a lecionar e que tinham tudo a ver com o que eu queria, que era ajudar mais pessoas”.

Foi então que Ana se candidatou a uma vaga no projeto então chamado de Khan Academy, da Fundação Lemann. A tarefa da jornalista era cuidar de algumas redes parceiras e, em 2015, começou a se envolver na execução dos cursos EAD para professores envolvidos na plataforma. Já em 2016, ela passou a cuidar de todo o ambiente online da Fundação Lemann. Mas foi nesse mesmo ano que o projeto passou por empecilhos que determinaram o novo rumo das coisas. “O formato mudou, ficou muito distante das escolas e o engajamento caiu. Alguém precisava pegar o projeto para si. Conversei com a coordenadora da equipe na época (Keila Visconti) e pensamos: vamos fazer uma empresa! Hoje, somos sócias”, conta a jornalista, educadora e, agora, também empreendedora.

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Aluna do Teachers College, Lemann Fellow e empresária

No início de 2017, Ana Paula Manzalli e Keila Visconti criaram a Sincroniza Educação, para não “deixar morrer” o projeto com o qual elas se envolveram tanto. Era a experiência que faltava para que Ana tomasse coragem de empreender em outro sonho antigo, dessa vez não no ambiente corporativo.

É que, em 2014, ela havia participado de uma sessão informativa do Teachers College, da Columbia University. Já tinha sido “amor à primeira vista”, segundo ela mesma admite. “Mas eu falava que ia esperar um pouco, porque ainda não tinha história pra contar em Educação. Aí, no início de 2016, fui fazer uma pós-graduação no Instituto Singularidades, chamada Gestão da Educação no Novo Milênio, que, apesar de ter gestão no nome, falava muito sobre as experiências dentro da sala de aula. Foi perfeito para eu ter um panorama”.

A experiência como empreendedora de educação e a propriedade de também ser pós-graduada na área já se configuravam como a história que faltava para contar no application.

A aprovação na Columbia University

Em 2017, já com a bagagem suficiente para aplicar para universidades estrangeiras, Ana fez um curso da Fundação Estudar que explicava as diferenças sobre os exames padronizados, entre outros documentos necessários às applications. E se inscreveu no processo seletivo de mestrado de três instituições de ensino superior no Reino Unido, uma no Canadá e, nos EUA, o sonhado Teachers College (no curso International Educational Development). Foi aprovada em quatro delas, e optou pela americana, mesmo sendo a mais cara das opções escolhidas. “Não tinha jeito: fui conhecer (o Teachers College) e me apaixonei, era o que eu queria mesmo. Tinha uma reserva financeira de quando meu pai morreu e resolvi investir nisso”.

2017: “o ano mais incrível da vida”

O investimento para estudar no Teachers College foi parcialmente coberto pouco tempo depois, quando Ana se tornou Lemann Fellow, conquistando uma bolsa da Fundação Estudar e também passou a integrar a comunidade de Líderes da organização. Atualmente, ela está em vias de finalizar o trabalho de conclusão do curso de mestrado, e mal acredita quando avalia o combo de boas experiências do ano passado, que define como “o ano mais incrível da vida”.

“2017 foi o início da Sincroniza e foi quando tive esses reconhecimentos, como ter ido estudar em Nova York, conseguido a bolsa da Fundação Estudar e ter sido indicada para integrar a comunidade de Líderes. Parece que as coisas foram impulsionadas a um nível de coisa boa que você não imagina que seja possível!”

A surpresa não é para menos: a Sincroniza começou porque, nas palavras da idealizadora, “um projeto em que trabalhava não deveria morrer”, e no final do primeiro ano de existência já contava com 15 projetos e 250 mil alunos alcançados.

Ana Paula Manzalli (à esq.) foi uma das vencedoras de um desafio de startups de educação no Teachers College

 

 

2017 também foi o período em que Ana Paula Manzalli foi, como mestranda do Teachers College, uma das vencedoras de um concurso de startups de educação da universidade, com seu grupo de colegas de curso. Aos poucos, a ânsia de voltar ao Brasil para continuar tocando o próprio negócio, misturada à vontade de viver cada instante da experiência acadêmica foi dando lugar a uma certeza que se desenhou aos poucos.

“Eu sentia uma culpa bizarra de ter deixado a Keila, minha sócia, no Brasil para estudar na Columbia, mas o curso me fez ter certeza de que havia um alinhamento muito legal, desde o vínculo com os colegas até as oportunidades que tive. É um super nome no currículo e também para a história da Sincroniza, e a Keila tinha essa visão desde o início”.

Os próximos passos da Lemann Fellow? Entregar o trabalho final e estruturar ainda mais a empresa – e a própria carreira, por sinal cada vez mais sólida. “Sincronia” é que não vai lhe faltar.

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