O paulista Pythagoras Carvalho escolheu o Direito na graduação, pelas possibilidades bastante flexíveis de carreira. “Quando prestei vestibular, eu não tinha uma ideia clara do que queria fazer”, sintetiza ele. A escolha da disciplina provou ser bastante acertada. Afinal, aos 36 anos, chegou ao posto de sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados, em São Paulo.
Quando entrou no escritório, ainda na faculdade, o LL.M. no exterior já fazia parte do plano de carreira estipulado. Assim, com um diploma de graduação do Largo São Francisco em mãos, Pythagoras emendou um mestrado na mesma instituição. Em 2009, cinco anos depois de se formar na USP, ele embarcava para Chicago.
Fazer ou não fazer um mestrado em Direito fora do Brasil?
O advogado paulista já tinha o LL.M. em mente quando começou a carreira no escritório. Conversando com colegas mais velhos, entretanto, viu que havia uma questão a mais para refletir. Onde fazer um mestrado em Direito nos Estados Unidos? “Se você for para qualquer uma das vinte melhores escolas americanas, vai ter uma experiência fantástica”, opina Pythagoras. Para fazer a escolha certa, diante de tantas opções, é necessário investigar mais sobre a abordagem dada por cada instituição.
No caso dele, estudar no berço do pensamento liberal, Chicago, parecia uma boa pedida. “Além disso, a universidade misturava bem os aspectos práticos e acadêmicos, o que condiz com a minha trajetória”, explica o brasileiro. Hoje, Pythagoras trabalha com fusões e aquisições e sempre “esbarra” em conceitos aprendidos em Chicago. “Eu tenho a sensação de que tudo que aprendi lá aplico por aqui também, mesmo que indiretamente”.
Averiguar essa compatibilidade com a instituição de ensino faz parte do processo para montar uma application excelente. Não se trata de escolher o melhor LL.M. em termos genéricos, mas sim o mais compatível com o candidato. “Não adianta ser admitido em uma escola focada em Direito Constitucional, se você trabalha com Direito de Família”, exemplifica.
Entretanto, a pesquisa não deve se limitar às informações básicas no site da instituição. “O ideal é olhar a grade disponível, ver quem são os professores, o que eles têm escrito em livros e artigos, o que estão pesquisando”. Outro caminho possível é o de conversar com quem já fez o curso de interesse.
Como montar uma candidatura de destaque
Por um lado, a escolha do LL.M. no exterior exige um verdadeiro exame de compatibilidade. Por outro, ao elaborar a application, esse alinhamento precisa estar claro. “A universidade não se preocupa apenas em selecionar os alunos com as melhores notas, mas um perfil parecido com seus estudantes”.
Outra ressalva diz respeito ao tempo de preparação necessário. Na opinião de Pythagoras, vale estimar esse período em cerca de um ano, para dar conta de todos os requisitos. Entre eles, cabe destacar os exames de proficiência em inglês, cartas de recomendação e essays. E tudo precisa sair bem feito. “Com milhares de applications chegando, é fácil descartar um sujeito porque a candidatura parece estar mal feita”, afirma ele.
Para demonstrar ser a pessoa certa a conquistar uma vaga na universidade, é necessário ser específico. Em resumo, o perfil do aluno precisa combinar com o da instituição de ensino. “Pode ser citando um professor de lá no essay, ou mencionando um artigo publicado por alguém da faculdade”.
LL.M. no exterior, mestrado no Brasil
Pythagoras passou pelas duas experiências, em universidades renomadas. A primeira foi em um mestrado na Universidade de São Paulo, e a segunda, em Chicago. “O mestrado no Brasil é uma atividade individual”, resume ele. “O aluno está em casa lendo, preparando um texto, que depois vai ser criticado pelo professor, em uma banca final”.
Já o LL.M. no exterior, por sua vez, pode ser descrito como “coletivo”. Em geral, formações do tipo apresentam currículos flexíveis, com disciplinas de curta duração e grande carga de leitura. Além disso, garantem espaço para debates em sala de aula sobre temáticas relevantes. “Ou seja, você discute a fundo o que já leu em casa”.
Quando embarcou para os Estados Unidos, o advogado paulista tinha em mente que a vivência fora “aumentaria capacidades analíticas”. De quebra, seria a chance de aperfeiçoar o inglês, ganhando mais vocabulário técnico e fluência. “Com a formação jurídica estrangeira, eu entenderia melhor os problemas dos meus clientes, o que está por trás das perguntas que eles fazem”.
Pythagoras explica que a formação dupla ajuda a traduzir os termos jurídicos e dar um contexto melhor sobre o sistema brasileiro, para quem vem de fora. Em uma área como a de fusões e aquisições, isso ganha ainda mais destaque, graças aos clientes estrangeiros, ou que têm ligações com empresas de fora.
A área também tende a “incorporar” a prática de mercado, graças ao número grande de estrangeiros envolvidos. “No fim das contas, a gente faz uma versão tropicalizada dos que se faz nos Estados Unidos e na Europa”, sintetiza Pythagoras.
Vale a pena encarar uma experiência dessas no exterior?
Pythagoras é categórico ao dizer que a experiência fora do Brasil vale a pena. “Eu faria de novo, sem sombra de dúvida”. E não só pela aplicação prática dos conceitos em sua área de atuação. “São exercícios intelectuais a que se é exposto, e só o fato de passar por todos esses conceitos se reflete em tudo o que você faz, não só no trabalho”.
Outro ponto importante diz respeito à concorrência nos campos do Direito, em que o LL.M. no exterior ganha força. “O LL.M. está se tornando algo tão comum que, daqui a um tempo, quem não tiver vai ficar para trás”, opina ele. “É algo como falar inglês, quinze anos atrás. O mestrado em Direito está caminhando nessa direção”.
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