Quando voltei do meu intercâmbio, achei muito normal que meus conhecidos do Brasil me perguntassem se eu vi neve (um pouquinho só), se eu engordei muito (quinze quilos), se os eletrônicos são mais baratos (nem tanto), como eu me virei (nem eu sei).
Mas a questão é que eu queria muito mais do que contar que, ao chegar lá, eu não sabia cozinhar ou lavar minhas roupas. Eu queria contar sobre como eu praticamente ouvia os pensamentos das pessoas da escola e comunidade quando eu estava presente.
Umas das maiores dificuldades que eu encontrei ao fazer intercâmbio foi sair da minha bolha. Afinal, ser introvertida sempre me rendeu muitos momentos sozinha e, pela primeira vez, eu não podia deixar que isso atrapalhasse anos de preparação para este sonho.
Portanto, lá fora, se você por acaso está morando na casa de alguém ou então estudando com alguém, certamente este “alguém” uma hora vai querer saber mais sobre você. E esta é hora de aprender a stand up for yourself.
Stand-up for yourself
Com isso quero dizer: defenda-se. Faça um bom marketing de si mesmo e acredite nisso. Não estou dizendo que você deva entrar em disputas sobre qual país se sobressai, o seu ou do seu colega de classe. Mas se apresente de maneira verdadeira, não minta e principalmente, não reforce estereótipos.
É compreensível que um intercambista desperte as mais variadas reações nas pessoas – e tudo bem. Afinal, nem sempre nos lembramos que o intercâmbio é uma via de mão dupla, tanto para nós estrangeiros quanto para os nativos – e se passamos nossa vida inteira lidando com o mesmo tipo de cultura e perspectivas, a presença de alguém diferente invariavelmente nos faz nos posicionarmos de forma, também, diferente. Mas a forma como lidamos com esta situação é imprescindível para que possamos tirar o maior proveito possível desta experiência.
No começo, eu me sentia tão eufórica com o fato de estar morando em um país desenvolvido, que acabava me deixando levar pela rasa ideia de que o meu era simplesmente um lixo. Eu tinha o péssimo hábito de generalizar tudo o que fosse brasileiro: saúde precária, educação precária, violência exacerbada… E (apesar de algumas serem verdade), generalizar nunca é a melhor opção. Além disso, essa atitude fez com que muitas pessoas tivessem uma imagem ruim de mim, já que elas associavam o que eu dizia à minha pessoa. Esse é definitivamente um caminho sem volta, então não faça isso.
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Dicas de marketing pessoal durante o intercâmbio
Quando alguém de fora quiser saber sobre sua cultura, seja paciente e imparcial. Essa pessoa não morou no seu país (pelo menos não tanto tempo quanto você) e não é obrigada a ter toda a bagagem que você tem.
No entanto, se alguém sutil e propositalmente sugerir algo desagradável sobre sua cultura, novamente seja paciente, mas também corrija esta pessoa de maneira educada. Afinal você não é obrigado a aceitar ser um estereótipo. É importante que isso seja falado. Mesmo que você esteja na fila de uma cafeteria com uma pessoa que provavelmente nunca mais verá na vida – e por mais desagradável que a interação tenha sido – essa pessoa merece seguir sabendo a verdade, da mesma maneira que você merece seguir sendo respeitado em qualquer canto do mundo.
Por isso, defender-se é essencial para se dar bem. Estar sozinho significa ser seu próprio amparo. Seus amigos e familiares não estão fisicamente do seu lado para saber o que você está passando. Só você. Então não se sabote e mostre no que e em quem acredita. Você merece ter uma experiência inesquecível.
Eu que já fiz dois intercâmbios, estive sujeita à applications, essays e apresentações sem fim para pessoas que mal conhecia. Lembro de sempre dizer a todos que um dos meus maiores propósitos no intercâmbio era criar maturidade. Para falar a verdade, acho que perceber a importância da imagem que eu passava para os outros foi o mais significativo sinal de amadurecimento para mim – afinal, saber se relacionar com pessoas diferentes é uma das mais importantes lições de uma experiência como esta.
Sobre a Autora
Paloma Souza Tavares, 17 anos, passou parte de sua adolescência viajando pelo mundo. Emendando continentes, países e histórias, fez dele sua casa e principal fonte de conhecimento. Dentre seu repertório estão países como Canadá, Holanda, Bélgica e Inglaterra – levando consigo apenas uma bagagem de saudade misturada com um pouco de coragem. Escreveu seu primeiro livro com 16 anos, baseado em seu intercâmbio para a Holanda, “Entre Aspas”. Publicado no Brasil e em Portugal (para mais informações acesse Entre Aspas). Em 2018, ingressará na faculdade, também, em Portugal.