Era uma quinta-feira, meu sexto dia na terra de contrastes. Estávamos em Pune, a metrópole mais próxima do colégio, para onde os alunos fogem nos raros momentos de tempo livre. Era o fim de um longo dia de compras, ínumeras tentativas de atravessar a rua sem sermos atropelados e horas procurando, principalmente, por adaptadores de tomada. Estávamos na rua, parados e famintos, esperando o ônibus que nos levaria de volta ao colégio. Havia rickshaws (carroças puxadas por pessoas ou animais) correndo por todos os lados e um som constante de buzinas. As primeiras gotas de chuva começaram a cair, anunciando uma tempestade (ah, as monções!), tornando o já caótico trânsito ainda mais confuso.
Na outra calçada, em um terreno abandonado, duas vacas procuravam comida enquanto uma terceira, no meio da rua, olhava despreocupadamente à sua volta os carros que corriam acelerados, tentando não atingí-la. Após um momento de silêncio e cheiro de asfalto molhado, meu amigo indiano sorriu e disse, simplesmente: “Welcome to India”.
Chegou ao fim o Integration Month, lotado de atividades para ajudar na ambientalização dos alunos tanto em relação ao colégio quanto em relação ao fascinante país que está nos recebendo. E se um mês inteiro parece muito, eu tenho absoluta certeza de que ao final de meus dois anos aqui ainda continuarei a me deliciar com essa cultura e os costumes tão encantadores.
É impagável ver uma criança de background diferente do seu rir da sua incapacidade de comer arroz usando as mãos
Entre as várias atividades do Integration Month, é impossível deixar de citar as homestays. O colégio fica localizado no topo de um monte – extremamente verde, por sinal, devido às monções de verão – rodeado por uma paisagem de tirar o fôlego, com bucólicos vilarejos dispersos por dois vales. Assim, todos os alunos passaram uma noite nos vilarejos, dormindo em casas de crianças participantes de um programa educacional realizado pelo colégio.
A experiência foi absurdamente enriquecedora. É uma oportunidade única para entrar em contato com modos de vida tão distintos em relação aos nossos e assim entender melhor nosso próprio contexto no mundo. É impagável ver uma criança de background completamente diferente do seu rir da sua incapacidade de comer arroz usando as mãos e então, sem nenhuma língua em comum com você, te ensinar uma técnica que torna a ausência de talheres algo perfeitamente natural, jogando toda uma nova luz na questão das diferenças culturais. Acredite: acordar numa manhã de domingo ao som não de passarinhos, mas sim de uma vaca, no chão da sala de estar de alguém que você acabou de conhecer em um vilarejo na Índia rural (um vilarejo do qual os sites de pesquisa nunca ouviram falar, mas que fica ao lado de um pequeno morro que deveria estar na capa de todas as revistas de viagem) acrescenta muito à sua vida.
No final, é impossível dar um panorama geral do que foram as últimas semanas que, aliás, pareceram meses tamanho o volume de novidades, mas que ao mesmo tempo passaram voando. Cada experiência é absolutamente única, e fotos e palavras não chegam nem perto de poder descrever a beleza de tudo o que vem acontecendo. Ainda assim, torço para que eu tenha conseguido passar pelo menos uma pequena ideia das maravilhas que tenho encontrado do outro lado do mundo. Espero que tenham gostado, que se inspirem a ir atrás dos seus sonhos e que voltem para ouvir muitas outras histórias!
Até o próximo post!
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